Se fosse uma corrida (e era mesmo uma corrida), a União Soviética tomara a dianteira. Os próprios americanos o reconheciam e James Webb, o presidente da Agência Nacional de Aeronáutica e do Espaço (NASA), veio a público exprimir a certeza de que até ao fim desse ano haveria um russo a pisar o solo lunar: “Considerando todas as provas que obtivemos, com os planos em cada vez maior número de viagens tripuladas e não tripuladas em redor da Terra, concluímos que está preparada uma missão da URSS para desembarcar homens na Lua para o mais breve possível”. Que sonho para os russos! “Krasnaia Luna” – Lua Vermelha. Coisa para, nos dias de hoje, deixar Putin num estado de euforia próprio de quem acabou de beber uma garrafa de vodca (Cristal) de golada. Vendo bem, para quê invadir a Ucrânia se podia invadir o satélite natural da Terra? Ainda bem que não se lembrou disso.
A NASA fora obrigada a abdicar de grande parte do seu orçamento e atrasara-se na tal corrida. Teria de ser o Presidente John F. Kennedy a dar novo impulso com o seu célebre discurso em que disse que os americanos queriam fazer coisas não porque fossem fáceis mas porque eram difíceis. E ir à Lua era o cabo dos trabalhos. Só mesmo Júlio Verne ou Hergé tinham arranjado forma de lá chegar.
Além disso, o programa espacial americano, que compreendia os voos espaciais tripulados de nome Gemini, tinha sofrido um golpe bruto. Os astronautas Helliott See e Charles Bassett, que deveriam ser atirados para órbita na nave Gemini 9, morreram quando o jacto T-38 que tripulavam se despenhou sobre um edifício da McDonnel Aircraft Corporation, em St. Louis, no Missouri. Estavam no cumprimento de horas obrigatórias de voo. E iam a caminho de Houston para a fase final da sua preparação para serem enviados para o espaço. Talvez os russos tenham esfregado as mãos de contentes, havia por lá, como hoje, um ou outro cínico de pai e mãe, mas isso também é algo que neste planeta não falta. Pouco se sabia do que se passava para lá da Cortina de Ferro, a expressão que Winston Churchill inventou e que de repente voltou à baila.
A NASA ia sabendo qualquer coisa, aqui e ali. E não perdeu muito tempo com exéquias. Eugine Cernan e Thomas Stafford tomaram de imediato os lugares de Helliot e Charles. A Gemini 9 descolaria em Maio. A corrida estava longe de estar perdida. Na América ninguém queria ver a lua pintada de vermelho-soviético!