O partido de extrema-direita Vox quer aproveitar-se da atual crise no conservador Partido Popular para liderar a oposição em Espanha nas próximas eleições, mas a direita tradicional ainda tem algumas cartas para jogar nas próximas semanas.
O Partido Popular (PP) vai realizar na terça-feira uma reunião da sua direção que deverá marcar um congresso extraordinário da formação para 02 e 03 de abril próximo.
De acordo com analistas espanhóis, até esses dias o atual líder Pablo Casado, que está de saída, mantém-se como presidente do PP e deverá ser substituído pelo nome de que todos falam, o do presidente da comunidade autonómica da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, que nos últimos dias recebeu inúmeros apoios públicos para tomar as rédeas do partido e tentar reconstruí-lo.
Feijóo é um político veterano e moderado, de 60 anos, que já conseguiu várias maiorias absolutas na Galiza, região em que conseguiu conter o crescimento do Vox, no que é visto como uma característica importante para o caso, muito provável, de dar o salto para presidir ao PP nacional.
"O PP não tem outra pessoa com o consenso e a autoridade moral e política como Núñez Feijóo", disse à agência Lusa o professor de Meios de Comunicação e Política da Universidade de Navarra Carlos Barrera.
Entretanto, o Vox não esconde que pretende aproveitar a atual crise no PP para passar a liderar a oposição de direita, uma intenção que persegue há vários anos, mas que o Partido Popular tem conseguido contrariar até agora.
O vice-presidente do parlamento e deputado do Vox, Ignacio Gil Lázaro, disse na quarta-feira que o seu partido é a única alternativa para defender a "unidade" de Espanha, depois de sublinhar que "hoje apenas o partido liderado por Santiago Abascal permanece firme, forte e de pé".
A curto prazo, o principal beneficiário da atual crise do PP é o Vox, um partido ultra-nacionalista que foi criado há menos de 10 anos na sequência de uma cisão na direita tradicional.
Mas os analistas estão convencidos de que a direita tradicional pode ainda conter a fuga dos seus eleitores para a extrema-direita, se tomar rapidamente e de forma acertada uma decisão sobre o sucessor de Pablo Casado.
"O PP tem de substituir o líder rapidamente e de forma efetiva, para que os seus simpatizantes não comecem a desmobilizar-se", disse Carlos Barrera.
O próprio primeiro-ministro e secretário-geral do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhola), Pedro Sánchez, acabou por ajudar o PP a ter tempo para se organizar, tendo garantido na quarta-feira que não iria marcar eleições legislativas antecipadas, apesar da atual crise no maior da oposição.
No debate parlamentar semanal Pedro Sánchez também se despediu de Pablo Casado, desejando-lhe boa sorte para o futuro.
A indicação há uns dias da marcação de um congresso do Partido Popular para escolha de um novo líder pôs fim a uma semana frenética, iniciada quando a presidente da comunidade autonómica de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, acusou o seu partido, o PP, de tentar destruí-la de forma "cruel", sustentando que Pablo Casado estava a fazer manobras para a desacreditar "pessoal e politicamente" e a tentar ligá-la à corrupção a partir do "anonimato", "sem provas" e envolvendo a sua família.
A liderança nacional do PP estaria a investigar desde outubro passado um contrato de 1,5 milhões de euros relacionado com o irmão da presidente de Madrid, tendo-lhe pedido explicações sobre possíveis irregularidades.
Isabel Díaz Ayuso era até agora uma figura em ascensão no PP, havendo quem especulasse sobre a sua ambição para ser líder do partido, depois de ter ganhado as eleições na região de Madrid em maio de 2021 quase com maioria absoluta.
Esta vitória deu ânimo aos populares para tentarem converter-se num movimento capaz de ganhar as eleições nacionais previstas para finais de 2023 e substituir o atual Governo nacional de esquerda, uma coligação entre os socialistas do PSOE e o Unidas Podemos (extrema-esquerda).