Minsk III?


Um acordo, mesmo parcial, é preferível a um conflito, seja congelado ou em vias de aquecer.


A um acordo que não produziu os resultados prometidos (Minsk I, Setembro de 2014) seguiu-se um outro em que muito do acordado ficou por cumprir (Minsk II, Fevereiro de 2015), ambos assinados por representantes da OSCE, Ucrânia, Rússia e, sem reconhecimento expresso de qualquer estatuto, de alguns distritos de Donetsk e Luhansk. A solução para o actual braço de ferro no Leste da Europa, com os EUA a anunciarem diariamente a iminente invasão de toda a Ucrânia, com a Rússia a prolongar ad aeternum as manobras e exercícios militares junto da fronteira ucraniana e com os ucranianos a fazerem a espargata entre uma auto-defesa inviável e a impossível adesão à NATO, deve passar por um Minsk III que não terá de ter este nome (Lukaschenko tornou-se ainda mais infréquentable e a memória dos dois anteriores acordos não ajuda).

Uma solução negociada permitirá vários exercícios de face saving. Putin poderá sempre reivindicar uma vitória se o conteúdo do acordo se situar entre um adiar para as calendas gregas de qualquer adesão de Kiev à NATO (como “involuntariamente” sugerido pelo embaixador ucraniano no Reino Unido) e a completa finlandização da Ucrânia (resultante da entrada das tropas russas em Donetsk e Luhansk). A creative ambiguity da fórmula deverá permitir a Moscovo reivindicar um acordo internacional que formalize o fim da guerra fria, garantindo um Estado tampão (ou duas tampinhas, com as duas novas Repúblicas cuja independência reconheceu), e aos EUA o anúncio da continuação da open door policy para adesão à NATO. Minsk I e II falharam, entre outras razões, porque a Rússia não se considera parte nestes acordos mas mera facilitadora. Nesta condição declarou-se não vinculada pela obrigação, comum a Minsk I e II, de retirada do território ucraniano de tropas, mercenários e equipamentos militares estrangeiros. Um Minsk III que envolva os EUA é um dos objectivos de Putin. De momento o apetite em Washington pelos acordos já propostos por Moscovo, formalizando esferas de influência, é nulo. Mas os americanos estudam muito atentamente as possibilidades de negociar novos regimes de controlo de armamento desde que a China possa vir a vincular-se a compromissos semelhantes (já Pequim quererá associar a estas negociações as relativas à política comercial). Um Minsk III não deixará de estar directa ou indirectamente ligado a futuros acordos de controlo de vectores nucleares (mísseis de alcance intermédio, hipersónicos e defesa anti-míssil).

Enquanto as duas superpotências nucleares não se sentam à mesa, Macron tenta repetir o papel de Hollande no Minsk II sem que haja tempo, até às eleições presidenciais francesas de 24 de Abril, para que se tornem evidentes as limitações do futuro acordo. Scholz precisa, rapidamente, de encontrar um papel na política externa para que a comparação com Merkel não lhe seja avassaladoramente desfavorável. A Ucrânia só tem a ganhar com o re-congelamento do conflito, sendo certo que o actual Presidente, como os predecessores, não tem condições políticas para fazer aprovar no parlamento uma maior autonomia da região do Donbass, uma exigência comum a Minsk I e II.

Para que se chegue à mesa das negociações as leges artis recomendam a adopção de confidence building measures que também constam dos acordos de Minsk: cessar fogo, retirada do armamento pesado para trás das linhas acordadas em Minsk I e II, troca de prisioneiros, retomar das missões dos observadores da OSCE, abertura de corredores humanitários para passagem de socorro, regresso dos civis.

Não há duas sem três?

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990

Minsk III?


Um acordo, mesmo parcial, é preferível a um conflito, seja congelado ou em vias de aquecer.


A um acordo que não produziu os resultados prometidos (Minsk I, Setembro de 2014) seguiu-se um outro em que muito do acordado ficou por cumprir (Minsk II, Fevereiro de 2015), ambos assinados por representantes da OSCE, Ucrânia, Rússia e, sem reconhecimento expresso de qualquer estatuto, de alguns distritos de Donetsk e Luhansk. A solução para o actual braço de ferro no Leste da Europa, com os EUA a anunciarem diariamente a iminente invasão de toda a Ucrânia, com a Rússia a prolongar ad aeternum as manobras e exercícios militares junto da fronteira ucraniana e com os ucranianos a fazerem a espargata entre uma auto-defesa inviável e a impossível adesão à NATO, deve passar por um Minsk III que não terá de ter este nome (Lukaschenko tornou-se ainda mais infréquentable e a memória dos dois anteriores acordos não ajuda).

Uma solução negociada permitirá vários exercícios de face saving. Putin poderá sempre reivindicar uma vitória se o conteúdo do acordo se situar entre um adiar para as calendas gregas de qualquer adesão de Kiev à NATO (como “involuntariamente” sugerido pelo embaixador ucraniano no Reino Unido) e a completa finlandização da Ucrânia (resultante da entrada das tropas russas em Donetsk e Luhansk). A creative ambiguity da fórmula deverá permitir a Moscovo reivindicar um acordo internacional que formalize o fim da guerra fria, garantindo um Estado tampão (ou duas tampinhas, com as duas novas Repúblicas cuja independência reconheceu), e aos EUA o anúncio da continuação da open door policy para adesão à NATO. Minsk I e II falharam, entre outras razões, porque a Rússia não se considera parte nestes acordos mas mera facilitadora. Nesta condição declarou-se não vinculada pela obrigação, comum a Minsk I e II, de retirada do território ucraniano de tropas, mercenários e equipamentos militares estrangeiros. Um Minsk III que envolva os EUA é um dos objectivos de Putin. De momento o apetite em Washington pelos acordos já propostos por Moscovo, formalizando esferas de influência, é nulo. Mas os americanos estudam muito atentamente as possibilidades de negociar novos regimes de controlo de armamento desde que a China possa vir a vincular-se a compromissos semelhantes (já Pequim quererá associar a estas negociações as relativas à política comercial). Um Minsk III não deixará de estar directa ou indirectamente ligado a futuros acordos de controlo de vectores nucleares (mísseis de alcance intermédio, hipersónicos e defesa anti-míssil).

Enquanto as duas superpotências nucleares não se sentam à mesa, Macron tenta repetir o papel de Hollande no Minsk II sem que haja tempo, até às eleições presidenciais francesas de 24 de Abril, para que se tornem evidentes as limitações do futuro acordo. Scholz precisa, rapidamente, de encontrar um papel na política externa para que a comparação com Merkel não lhe seja avassaladoramente desfavorável. A Ucrânia só tem a ganhar com o re-congelamento do conflito, sendo certo que o actual Presidente, como os predecessores, não tem condições políticas para fazer aprovar no parlamento uma maior autonomia da região do Donbass, uma exigência comum a Minsk I e II.

Para que se chegue à mesa das negociações as leges artis recomendam a adopção de confidence building measures que também constam dos acordos de Minsk: cessar fogo, retirada do armamento pesado para trás das linhas acordadas em Minsk I e II, troca de prisioneiros, retomar das missões dos observadores da OSCE, abertura de corredores humanitários para passagem de socorro, regresso dos civis.

Não há duas sem três?

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990