FC Porto. Entre azul claro e azul escuro, o claro foi mais escuro

FC Porto. Entre azul claro e azul escuro, o claro foi mais escuro


História da primeira viagem do FC Porto a Itália – onde joga hoje, com a Lazio, pelas 17h45. Foi a Nápoles, em outubro de 1974, derrota por 1-0.


Ainda se respirava um ar puro vindo de Abril quando, no dia 23 de outubro de 1974, o FC Porto se apresentou pela primeira vez em Itália para disputar uma eliminatória europeia, no caso a segunda da Taça UEFA. Adversário – Nápoles. E um Nápoles de categoria, treinado por um brasileiro que chegou a Itália como jogador nos anos-50, Luis Vinicius de Menezes, curiosamente o homem que viria a liderar a Lazio quando esta se bateu pela primeira vez contra os portistas.

Vinicius revolucionou a equipa, dispensando gente como o guarda-redes Dino Zoff, o extremo sueco Kurt Hamrin, e os atacantes Sormani e José Altafini, que no Brasil sempre foi conhecido por Mazzola. Como reforços, chegaram Burgnich, Giuseppe Massa, La Palma e Rampanti. E os napolitanos jogavam um futebol ofensivo como não era hábito no calcio. Valeria a pena. O Nápoles bater-se-ia pelo scudetto com a Juventus até à última jornada.

O FC Porto também tinha um treinador brasileiro: Aymoré Moreira. E jogadores da categoria ímpar de António Olivira, Teófilo Cubillas, Gabriel ou Seninho. No Estádio de San Paolo, os portistas tiveram de suportar um onda de futebol ofensivo e defenderam-se como puderam. Na maior parte dos lances foram capazes de equilibrar o jogo, mas tiveram sempre muita dificuldade em ligar contra-ataques que lhes permitissem criar oportunidades de golo. Na baliza, Tibi esteve em grande plano, com um punhado de defesas vistosas que mereceram os aplausos de um público napolitano fervorosamente fanático. Aos 51 minutos, Orlandini, manhoso, aproveitou um deslize dos centrais Rolando e Simões e fez 1-0. As esperanças ficavam acesas para a segunda mão, no Estádio das Antas.

Repetição No Porto, no dia 6 de novembro, o FC Porto assinou uma bela exibição, ofensiva, recheada de pormenores técnico encantadores, mas escassa na criação de lances de perigo. Eram tempos de um futebolzinho português demasiado preso a uma filosofia de passa e repassa no qual as vitórias morais se sublinhavam com o orgulho de autênticas vitórias.

Logo aos 5 minutos, António Oliveira entrou sozinho na grande-área do guarda-redes Carmignani, mas permitiu que este se lhe antecipasse com um voo felino. No minuto que se seguiu, foi a vez de Abel não ser suficientemente expedito para colocar a eliminatória em situação de igualdade. Lemos teria, pouco tempo depois, uma boa cabeçada, com força mas pouca colocação.

Sobrevivendo intactos aos primeiros vinte minutos do encontro, os napolitanos trataram de se arrumar em campo, de começarem a tomar conta da situação levando mesmo os jogadores do FC Porto ao desespero, tomados por um nervoso miudinho que os fez causar faltas desnecessárias que tiraram fluência ao futebol praticado.

Na verdade, os espetadores que invadiram as Antas foram confrontados, no tempo que se seguiu, com uma grandessíssima estucha, como diria o Alencar do divino Eça. Sem soluções para derrubar o muro italiano, incapazes de controlar os contra-golpes do Nápoles, o FC Porto foi caindo e sujeitando-se a uma derrota que deveria ter sido evitável. A equipa de Vinicius podia não ter o vício do cattenacio, mas era tão cínica como qualquer outra das suas compatriotas. Aos 86 minutos, Clerici resolveu o assunto O resultado repetia-se.