1 – Creio que relativamente aos micro-partidos sem representação parlamentar, nestas eleições legislativas do passado dia 30 de Janeiro, os eleitores decretaram de forma lapidar a sua inutilidade absoluta.
O partido mais votado destes 12 que não elegeram foi o RIR com pouco mais de 24.000 votos, cerca de um terço dos votos em branco e menos de metade dos votos nulos, recebendo o último da lista, o histórico PPM, apenas 260 votos. Para termos noção destes números nacionais e respectiva dimensão das coisas, repare-se que o CDS (13.° partido sem representação parlamentar) não elegeu deputados embora tenha obtido 87.000 votos.
Considerando que apenas dois destes pequenos partidos não têm qualquer afinidade ou proximidade ideológica com os maiores, não se compreende a insistência, um pouco ridícula, de todos os militantes dos restantes em persistir na ideia de uma existência – enquanto partidos políticos – que manifestamente não existe, por nada de substancialmente diferente terem para oferecer aos eleitores, pelo que deveriam ponderar a sua extinção.
2 – E o povo unido que jamais será vencido resolveu, ele próprio, acabar com a CDU ao não eleger nenhum deputado daquela invenção comunista "verde" que mais não era do que uma estratégia, mais ou menos fraudulenta, para através de uma coligação inexistente o PCP ter na Assembleia da República o dobro das intervenções dos restantes partidos. De resto, o que aconteceu durante algumas décadas… O PEV nunca existiu verdadeiramente e em caso algum se submeteu isoladamente a sufrágio. Ninguém nunca soube rigorosamente nada sobre o funcionamento interno deste “partido melancia”, verde opaco por fora e vermelho vivo por dentro!
3 – Sem surpresas, embora com bastante consternação, vimos o tradicional partido da direita conservadora e democrática, fundador do actual regime democrático do pós 25 de Abril de 1974 desaparecer da Assembleia da República onde esteve sempre – com mais ou menos deputados – representado desde as eleições para a Constituinte de 1975.
Ao longo destas quase cinco décadas de regime o CDS passou por várias provações de vida. Desde logo à nascença, momento que ocorreu, literalmente, debaixo de tiros da extrema-esquerda e com o cerco ao Palácio de Cristal durante o seu I Congresso em 1975 que manteve 700 pessoas reféns e necessitou da intervenção do lamentável COPCON de Otelo Saraiva de Carvalho, num episódio que pôs o mundo a olhar para a Portugal como uma espécie de nova Cuba continental europeia.
Depois disto o CDS protagonizou a primeira coligação de Governo da democracia portuguesa, com o PS de Mário Soares, cuja audácia ficou para sempre associada a um momento insólito da política nacional, o que por si só mostra bem o atraso da nossa democracia que ainda hoje não consegue ver estas coisas como uma simples decorrência da normalidade democrática. Veja-se, a título de exemplo, o caso da Alemanha…
Logo de seguida foi protagonista da mais célebre e carismática coligação pré-eleitoral de que há memória neste país, a AD – Aliança Democrática, liderada por Francisco de Sá Carneiro, Diogo Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles.
Com a emergência do maior fenómeno político português que se traduziu na década de Cavaco Silva, o CDS teve a sua primeira prova de sobrevivência. Tendo sido quase engolido pelas duas maiores maiorias da nossa história democrática, inequivocamente absolutas em termos de deputados eleitos e em votos recebidos, com mais de 50%. Mas resistiu com o inesquecível "Grupo Parlamentar do Táxi", pois sendo 4 deputados cabiam todos no mesmo automóvel.
Conseguiu resistir e ressurgir mais forte à onda laranja crescendo para 12 deputados durante o consulado Guterrista, sob a liderança conservadora clássica de Manuel Monteiro, passou ainda a designar-se como Partido Popular (CDS-PP).
Com Paulo Portas, em dois momentos, intercalado por Ribeiro e Castro, o partido conheceu as suas maiores vitórias e crescimento, levando o CDS ao Governo nessas duas lideranças de Paulo Portas. Primeiro com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes e depois com Pedro Passos Coelho.
Em 2019, o CDS foi a votos, sem a capa protectora do PSD de 2015, e ficou reduzido a 5 deputados. Para este resultado não terá sido indiferente a factura política, que poucos ousam trazer à colação, relativamente àquele inesquecível episódio do “irrevogável”.
O resto é a história recente e amplamente conhecida que não merece referência. No fatídico domingo das eleições de 30 de Janeiro o CDS sucumbiu, apesar de ter tido mais votos do que o Livre e o PAN, mas essa é outra conversa… Se me perguntarem se acredito na possibilidade de este partido poder regressar à representação parlamentar? A minha resposta é não. Infelizmente não creio ser verosímil tal regresso.
4 – O PAN foi outro dos grandes derrotados destas eleições, tendo conseguido eleger (a custo) apenas uma deputada por Lisboa e sua actual líder. Na verdade, o partido estava já em auto-destruição interna desde a liderança anterior de André Silva, quando, aliás, dos quatro deputados eleitos em 2019 já só tinham três, por força da saída algo estrondosa da deputada Cristina Rodrigues da militância do PAN, embora não tenha abdicado do cargo de deputada eleita e tendo passado a não inscrita. Bem como não contava também com o deputado europeu, eleito em 2019, Francisco Guerreiro que foi, de resto, o primeiro de uma série de desfiliações consecutivas que abanaram o partido em 2020 tendo, entretanto, passado a independente e que recentemente anunciou a sua futura filiação no Volt Portugal (novo partido ecologista e federalista europeu) após terminar o mandato no Parlamento Europeu.
A liderança actual de Inês Sousa Real nunca foi bem recebida – e com fundamentadas razões – por estar envolta de polémicas hipócritas, como aquela das estufas (que afinal eram túneis) de mirtilos ou do teor autoritário com que, alegadamente, tem pautado a sua liderança, assim como pelo facto de se ter literalmente “oferecido” a Costa e a Rio durante a campanha eleitoral.
Em resultado do cataclismo eleitoral são, de novo, às dezenas as desfiliações de membros, ao ponto do anterior líder ter vindo a público demarcar-se dos resultados e culpar a liderança actual – embora não se disponibilizando para regressar –, num exercício autofágico que conduzirá à extinção da espécie, muito possivelmente com todos os sobreviventes a procurarem abrigo e energia no Volt.
5 – O PCP foi, indiscutivelmente, um dos principais derrotados das eleições legislativas de há duas semanas e um dos dois únicos culpados pela obtenção da maioria absoluta socialista de 41% dos votos.
O PCP é, evidentemente, um partido político a caminho da extinção. A caquética liderança do simpático Jerónimo de Sousa não gera outro tipo de sentimento que não o de uma triste lembrança de um passado longínquo e museológico.
O PC é uma velharia, uma peça de artesanato, sem conserto nem peças de substituição e, por conseguinte, sem qualquer utilidade para coisa nenhuma no xadrez político nacional actual e futuro.
O PCP é o único partido comunista ortodoxo existente em toda a União Europeia que, sem se refundar e mudar de nome, como fizeram todos os outros seus congéneres há mais de 20 anos, vai simplesmente morrer e desaparecer de vez do Parlamento. E nem os novos putativos candidatos à sucessão da liderança “do povo” no comité central conseguirão travar essa inevitabilidade como, aliás, se viu com a não eleição de João Oliveira… Depois de esta semana, a propósito da crise política entre a Rússia e a Ucrânia, termos sido brindados por mais uma declaração do Secretário-geral do Partido Comunista Português, em apoio de Putin e, com uma lata infindável, virando o bico ao prego e acusar os EUA e a Nato de estarem a provocar um Estado soberano, sinceramente, desejo que desapareça da cena política nacional rapidamente!
6 – O BE foi o grande derrotado à esquerda das últimas eleições legislativas antecipadas e – a par do PCP – o principal culpado pela MA socialista de 41% que adveio desse acto eleitoral absurdo que só ocorreu por causa daquele chumbo inacreditável que resolveram fazer ao Orçamento do Estado para 2022.
Como foi possível tamanha falta de sensibilidade política a quem como Catarina Martins anda há tantos anos nestas lides da política partidária portuguesa? Mas afinal que amadorismo é este que não soube prever que ao levarem o país a esta crise política sem precedentes, quando foram eles, esquerda mais à esquerda, os principais responsáveis pela criação da geringonça e por colocarem António Costa como Primeiro-Ministro deste país, sem ter ganho eleições, seriam sempre castigados nas urnas pelo povo eleitor por tamanha irresponsabilidade?
Foi, pois, muito bem feito terem sido reduzidos a cinco deputados, sendo esta a sua maior hecatombe de sempre e que, a meu ver, poderá ser fatal com o acerto de contas interno e o despertar das várias sensibilidades radicais e formas de comunismo adormecidas ou silenciadas pelo domínio trotskista incumbente… Baixaram coercivamente a crista da arrogância totalitária, só não se compreendendo, ou talvez sim, como é possível que perante tão monumental desaire eleitoral, ninguém tenha retirado as devidas consequências logo naquela noite em que tudo se desmoronou como o muro de Berlim!
(continua…)