Carlos Alexandre arguido no caso de distribuição da Operação Marquês

Carlos Alexandre arguido no caso de distribuição da Operação Marquês


Numa carta aberta ao CSM, José Sócrates afirmou que “o relatório admite, finalmente, que (…) a distribuição do processo Marquês foi manipulada e falsificada”.


O juíz Carlos Alexandre foi constituído arguido no caso de distribuição do processo Operação Marquês, depois de o Tribunal da Relação de Lisboa ter aceitado o requerimento de abertura de instrução apresentado pelo ex-primeiro-ministro José Sócrates.

De acordo com a agência Lusa, fonte judiciária adiantou que, por despacho do juiz desembargador Jorge Antunes, no passado dia 11 de fevereiro, foi declarada aberta a instrução pedida por José Sócrates, passando assim o juiz Carlos Alexandre e a escrivã Maria Teresa Santos a assumir a qualidade formal de arguidos neste processo e ficando sujeitos a termo de identidade e residência.

A notícia relativa ao juíz Carlos Alexandre foi avançada pelo Expresso, que refere estar em causa a participação dos crimes de abuso de poder, falsificação de funcionário e denegação de justiça no caso da distribuição manual do processo Operação Marquês, em que o antigo governante é o principal arguido.

Já o juiz desembargador Jorge Antunes rejeitou diligências pedidas por José Sócrates, nomeadamente a inquirição de várias testemunhas, pelo que, não se revelando necessárias, marcou o debate instrutório para 11 de março, pelas 14h30. O juíz Carlos Alexandre indicou como sua mandatária a advogada Fátima Oliveira Esteves.

O pedido de abertura de instrução de José Sócrates aconteceu depois de o Ministério Público (MP) ter arquivado o inquérito sobre esta matéria. Segundo despacho de arquivamento, datado de 6 de dezembro de 2021 e acedido pela agência Lusa, a procuradora Maria Isabel Santos decidiu arquivar o inquérito por considerar não terem sido "recolhidos indícios suficientes da verificação do crime de abuso de poder indiciado, ou outro".

Antes disso, também o Conselho Superior de Magistratura (CSM) tinha realizado um processo de averiguações e um procedimento de inquérito que culminaram em arquivamento. No entanto, o advogado do ex-primeiro-ministro, Pedro Delille, criticou o órgão máximo de gestão e disciplina da magistratura judicial por ter admitido a violação do princípio do juiz natural.

"O CSM deixa 'preto no branco' que houve violação do juiz natural. Porém, para o CSM não passa de uma mera irregularidade procedimental", disse Pedro Delille à agência Lusa a 3 de janeiro.

Entretanto, numa carta aberta ao CSM divulgada pelo Diário de Notícias nesse mesmo dia, José Sócrates afirmou que "o relatório admite, finalmente, que (…) a distribuição do processo Marquês foi manipulada e falsificada".

"Não foi feita por sorteio, não foi feita com a presidência de um juiz, não foi feita de modo a garantir igualdade na distribuição de serviço", sublinhou o ex-primeiro-ministro, que considera que o que aconteceu no dia 9 de setembro de 2014 "foi uma trapaça jurídica com o objetivo de escolher, de forma arbitrária, o juiz do caso".

José Sócrates tinha sido acusado neste processo pelo Ministério Público, em 2017, de 31 crimes, designadamente corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal. No entanto, na decisão instrutória, em abril de 2021, o juiz Ivo Rosa decidiu ilibar José Sócrates de 25 dos 31 crimes, pronunciando-o, para ir a julgamento, por três crimes de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos.