Manchester City. Os Pardalitos do Choupal irritaram os abana-pinheiros

Manchester City. Os Pardalitos do Choupal irritaram os abana-pinheiros


Na segunda vez que participou numa taça europeia (Taça das Taças, 1969-70), o City, que joga hoje em Alvalade, venceu. Pelo caminho visitou Portugal. E Coimbra


Malcolm Allison, que foi campeão no Sporting (que recebe hoje, em Alvalade, o City para a Liga dos Campeões) também foi campeão em Manchester – pelo City, em 1967-68. “Coach”, não “manager” (os ingleses são assim, o “manager” era Joe Mercer).

Na época seguinte o clube estreou-se na Europa. E logo na Taça dos Campeões, está claro. No seu estilo de farronca, avisou: “Vamos aterrorizar a Europa. Vamos atacar os nossos adversários como já não se vê desde o início do Real Madrid!” Ficou na primeira eliminatória, aos pés do Fernerbahçe. Na época seguinte ganhou a Taça das Taças. E veio pela primeira vez a Portugal – a Coimbra.

Em Coimbra morava uma das melhores Académicas de sempre, treinada por Juca. Não tinha ganho a Taça no ano anterior (perdeu com o Benfica, no célebre jogo da revolta estudantil), mas como os encarnados também tinham vencido o campeonato, avançou para a Taça dos Vencedores de Taças. E bem. Começou por eliminar o Kuopion, da Finlândia (0-0 e 1-0), seguindo-se o Magdeburgo (0-1 e 2-0).

No dia 4 de março de 1970, era a única equipa portuguesa presente nos quartos-de-final. O sorteio decidiu que defrontaria o vencedor da Taça de Inglaterra – Manchester City. Com a primeira mão a ter lugar no Estádio Municipal de Coimbra. Os Pardalitos do Choupal, como lhes chamou um dia Vítor Santos, o velho Chefe de Redacção de A Bola, piavam de orgulho e de alegria.

Esteve uma manhã de sol e uma noite fria. Às 21h45 (que raio de hora!) o árbitro Robert Shaut deu início a um jogo equilibrado de princípio ao fim. Allison aprendera alguma coisa depois da barraca turca. Depois de duas eliminatórias espectaculares – Athletic Bilbao (3-3 e 3-0) e Lierse (3-0 e 5-0) – resolveu não correr grandes riscos com aquele grupo de estudantes que sabia trocar a bola de pé para pé e baralhar os adversários com um corrupio de passes sucessivos só possíveis por via de jogadores da qualidade de Mário Campos, Rocha, Vítor Campos, Gervásio, Rui Rodrigues, Nene, Serafim, Carlos Alhinho, Marques (o Marquês) e o diabo a quatro. Valeram-se do físico. A contenda terminou com um 0-0 perfeitamente aceitável já que as oportunidades de golo foram escassas.

Em Manchester Em Maine Road, no dia 18 de março, um público fanático exigia o massacre dos Pardalitos. A força física dos três homens do ataque do City,  Colin Bell, Francis Lee e Neil Young, deveria cair sobre a defesa coimbrã como um golpe aéreo de Spitfires. Mas o guarda-redes Cardoso, Artur, Alhinho, Rui Rodrigues e Marques mantiveram-se impassíveis.

Depois, no meio-campo, o incrível movimento continuado daqueles que tinham a bola e pareciam, de repente, fazê-la desaparecer para que surgisse, dois segundos depois, nos pés de um companheiro, foi baralhando opositor muito do estilo arranca-pinheiros, duros de rins e sem grandes apuros de técnica. 

Desesperava-se nas bancadas, mas não se recusam “ohs!” de admiração às reviengas do enorme Augusto Rocha, à rapidez incrível de Nene, ou ao estilo imperial de Vítor Campos. O tempo ia passando, o City não conseguia chegar ao golo, a Académica ia ganhando uma interessantíssima vantagem psicológica perante um adversário que se considerava muito superior mas não conseguia exprimir essa superioridade.

Passaram-se 90 minutos. Entrou-se no prolongamento. Restava agora saber se aquele grupo unidos de rapazes universitários seria capaz de aguentar o futebol cada vez mais físico dos britânicos. Allison recorreu à sua torre que estava no banco, nem de propósito chamado Towers, Tony Towers. Já se pensava que tudo seria decidido por moeda ao ar (na época anterior a Académica fora assim eliminada pelo Lyon) quando Towers aproveitou uma confusão para fazer o 1-0. Precisamente no minuto 120. A Taça das Taças não fugiria ao City. A única taça europeia que ganhou até hoje.