Ao se comemorarem os 80 anos do nasimento de Eusébio, no passado 25 de janeiro, como que se obliteraram outras efemérides que queríamos trazer a estas páginas. Mas a memória não prescreve e estamos sempre a tempo para remendarmos erros como este. É que o dia 25 de janeiro também foi um dia de grande importância na história do Sporting. Durante uma digressão ao Brasil, os leões receberam um reforço fantástico para os anos que se seguiram. Chamava-se Hector Casimiro Yazalde, nascera no dia 29 de maio de 1946, em Avellaneda, nos arredores de Buenos Aires, e estava destinado a ser um dos maiores goleadores que passaram pelo futebol português.
O Sporting já tinha defrontado e vencido o Curitiba por 1-0 e no segundo jogo brasileiro da digressão (que o levou também ao México para jogar contra o Chivas, o Atlas e o Léon) tinha pela frente o bem mais poderoso São Paulo. Vitória dos paulistanos por 2-1, com 1-1 ao intervalo, golo dos leões marcado por Chico, o Chico Faria, Francisco Delfim Dias Faria, aos 32 minutos (foi o 1-0), que saiu ao intervalo para que Yazalde entrasse pela primeira vez em campo com a camisola das riscas verde e brancas. “Jogou na segunda parte e agradou”, escrevia um dos enviados-especiais na altura. E acrescentava: “Parece, de facto, tratar-se de um jogador de grandes recursos e capaz de se adaptar facilmente ao futebol nacional”. Daí até final da época, Hector demorou, no entanto, a carburar. Participou em 28 jogos mas só marcou 13 golos. Estava a guardar o melhor para as três épocas seguintes: 28 golos em 38 jogos em 1972/73; 50 golos em 35 jogos em 1973/74 e 37 golos em 34 jogos em 1974/75, antes de rumar ao Marselha onde não conseguiu ser feliz.
De ouro Hector Yazalde iniciou a carreira num clube de nome bem sugestivo, o Piraña, ele que podia ter ganho a alcunha de Piranha, tal era a sua voracidade dentro das grande-áreas adversárias. Em seguida foi campeão argentino pelo Independiente antes do convite para vir para Lisboa onde se tornou Bota de Ouro da Europa em 1974, com 46 golos apontados no campeonato.
Yazalde foi dos melhores avançados que vi jogar, avançado puro, de golo a brilhar-lhe nos olhos a todo o momento. Mas era, também ele uma figura, uma personagem do Portugal desse tempo que aqui passou, os cabelos longos pelos ombros, a sua companheira vistosa, antiga miss-fotogenia, Carmen, nascida María do Carmo Ressurreição de Deus, levada para o teatro por Vasco Morgado e que acabaria por passar com brevidade pelas telas de cinema sob o pseudónimo de Britt Nichols. Nasceu na Guarda, a 29 de maio de 1950, também lhe chamaram Carmizé, e foi companheira de Yazalde durante 16 anos.
Hector Yazalde podia ter sido Piranha, mas foi Chirola, nome de uma moeda de níquel argentina de cinco, dez ou vinte centavos. Ele, que também poderia ter valido milhões ao Sporting não fora a lesão que sofreu num jogo frente ao Leixões quando, no momento de fazer mais um golo, sentiu a chuteira do guarda-redes contrário estalar-lhe a tíbia. Mesmo assim foi convocado para o Mundial de 1974. Entrou apenas num encontro, frente ao Haiti, na vitória argentina por 4-1. “Foi também nessa altura que recebeu um contacto do Real Madrid”, contou mais tarde a mulher, Carmen. “Podia ter escolhido ir para Espanha mas preferiu o Marselha que não tinha grande expressão. Tudo por causa do padrinho, que vivia em França, precisamente em Marselha”. Em dois anos com os marselheses, marcou 23 golos em 44 jogos. Depois regressou à Argentina, para vestir a camisola do Newell’s Old Boys de 1977 a 1981, somando mais 54 golos em 120 jogos. As dores que sentia na perna tornaram-no menos agressivo, logo o Chirola que tinha uma auto-estima extraordinária. Morreu com apenas 51 anos, em Buenos Aires, devido a uma hemorragia cerebral seguida por um ataque cardíaco. Foi como se morresse o golo. Um golo em estilo, de cabelos ao vento…