Nova Zelândia. Jornalista grávida pede refúgio aos talibãs

Nova Zelândia. Jornalista grávida pede refúgio aos talibãs


Impedida de regressar ao seu país natal devido às medidas restritivas da Nova Zelândia, Charlotte Bellis teve de pedir refúgio aos talibãs.


O restrito sistema de controlo de fronteiras da Nova Zelândia está a ser colocado em causa depois de uma jornalista grávida, retida no Afeganistão, ter recorrido à ajuda do grupo insurgente, Talibãs, para lhe oferecerem refúgio.

A jornalista de 35 anos, Charlotte Bellis, que despertou a atenção internacional quando, no ano passado, numa conferência de imprensa, questionou os líderes talibãs em relação ao tratamento e aos direitos das mulheres e meninas do país, agora, viu-se obrigada a procurar este grupo para a auxiliar.

“Quando os talibãs oferecem asilo a uma mulher grávida e solteira, sabemos que se está numa situação complicada”, referiu a jornalista num artigo no jornal New Zeland Herald, acrescentando ainda que toda esta situação é “extremamente irónica”.

Bellis explicou, em artigos que tem sido publicados no jornal neozelandês, que se encontrava a viver em Doha, no Qatar, enquanto trabalhava para a Al Jazeera, no entanto, quando descobriu que estava grávida, em novembro do ano passado, despediu-se deste meio de comunicação e abandonou o país, uma vez que a gravidez fora do casamento é considerado um crime.

Depois de uma tentativa falhada de se mudar para a Bélgica, local onde nasceu o parceiro da jornalista, o fotógrafo freelancer, Jim Huylebroek, o casal foi então obrigado a voltar ao Afeganistão, onde o fotógrafo viveu nos últimos dois anos, onde o seu visto era válido, e onde poderiam continuar a tentar regressar ao país natal de Bellis.

Contudo, esta tem sido uma batalha infrutífera, explicou a jornalista, detalhando que enviou 59 pedidos às autoridades da Nova Zelândia para a deixarem regressar.

A Nova Zelândia deveria ter levantado as restrições das viagens a meio de janeiro, no entanto, devido à disseminação da variante Omicron, esta reabertura foi adiada para final de fevereiro. 

Mesmo depois de ter pedido uma vaga para casos urgentes, as autoridades continuaram a rejeitar o seu pedido afirmando que Bellis não se qualificava para uma isenção sob os rígidos controlos de fronteira.

A jornalista comparou o tratamento que recebeu das autoridades neozelandesas com a abertura dos Talibãs. “Estamos felizes por si, pode vir e não terá problemas”, afirmaram os interlocutores, citados por Bellis durante uma entrevista à Rádio New Zealand a partir de Cabul, acrescentando ainda que o grupo insurgente aconselhou a jornalista a dizer que “estava grávida” e se tivesse mais problemas para “contactar” o grupo.

Face a estas críticas, o ministro responsável pela resposta à covid-199, Chris Hipkins, defendeu o sistema implementado pelo país. “Pelo que percebi, a jornalista pretendia regressar numa data específica e as autoridades procuraram obter mais informações para analisar o seu pedido”, disse Hipkins, citado pelo Guardian.

“Os critérios para deslocações de emergência incluem a necessidade de viajar para a Nova Zelândia no prazo de 14 dias, mas a Sra. Bellis indicou que não pretendia viajar até o final de fevereiro e foi encorajada pelo MIQ (gabinete encarregue de controlar o sistema de quarentena) a considerar levar estes planos adiante”, afirmou, acrescentando que as “autoridades também a convidaram para se candidatar a outra categoria de emergência”. “Eu a encorajo a levar estas ofertas a sério”, disse.