1 de fevereiro de 1962. Andrzej, de Koscielec, encontrou um urso teimoso na cama

1 de fevereiro de 1962. Andrzej, de Koscielec, encontrou um urso teimoso na cama


Como não era propriamente um fulano simpático e estimado pelos vizinhos, Andrzej ficou convencido de que se tratara de uma partida de mau gosto. Mas o bicho ganhou o hábito e voltou nos dias que se seguiram.


Andrzjei era um camponês remediado que vivia nas faldas das montanhas do Tatra, nos arredores de Koscielec, uma cidade no sul da Polónia, já muito perto da Eslováquia. Aliás, a cadeia de Tatra serve como espécie de fronteira natural entre os dois países e é uma zona que ocupa cerca de 705 quilómetros quadrados e se assume como o ponto mais alto do maciço dos Cárpatos. Andrzjei não era muito de ir à cidade. Ou melhor: ia quando precisava e nada mais. Koscielec tem cerca de 6000 habitantes e 70% da sua população dedica-se à agricultura.

Voltemos a Andrzjei, um mamífero com mau feitio, muito ensimesmado e pouco amigo de conversas. Muitos anos de vida solitária, como se fosse um eremita, não alimentaram amizades e, no decorrer da nossa historieta, muito pensou ele que algum dos seus vizinhos mais embirrentos resolvera pregar-lhe uma partida, neste caso particularmente perigosa. Nessa tarde fora a Koscielec vender uns quilos de batatas e duas medas de feno, roncando no meio da fumarada que a sua velha carrinha de caixa aberta vomitava com abundância. Dera-se mal com o negócio, resolvera parar num tasco para beber umas malgas de vinho ordinário, e só lhe apetecia estender-se na cama e entregar-se aos braços de Morfeu, se este estivesse para o aturar. 

Ao ver a porta de casa aberta, Andrzjei desconfiou de gatunagem, embora, na verdade, nada tivesse de valor que merecesse ser roubado. Foi com extrema surpresa que, ao caminhar, pé ante pé, com a espingarda pronta a entrar em ação, encontrou um urso a dormir na sua cama. O bicho ressonava como bom urso que era e tinha um tamanho imponente. Andrjzei não tinha medo de ursos. Aliás, não tinha medo de nada, criado como fora em plena floresta. Empurrou o bicho com o cano da arma, deu-lhe umas pancadas com a coronha, mas o dorminhoco parecia tão bêbado quanto ele e não acordou. Por isso resignou-se a trancar-lhe a porta e a dormir no sofá. 

Pela manhã, o animal escapara-se pela janela, deixando um estrago muito razoável nos peitoris. O curioso é que voltou à noite e reclamou o seu lugar na cama de Andrzjei. Talvez apaziguado por ter ganho uma companhia, coisa a que não estava habituado desde a morte do irmão mais novo, o fulano conformou-se. O plantígrado era pacífico e o seu único defeito era o regougar bruto das suas horas de sono. Durante quatro dias, manteve a rotina. Depois desapareceu. Andrzjei sentiu-se mais solitário do que nunca.