Este não é um texto a favor ou contra as sondagens, mas sobre a potencial influência das sondagens, num quadro de grande mediatização, nos resultados eleitorais. Escrever sobre sondagens de forma alargada implica desde logo assumir que entre os muitos estudos de opinião realizados e divulgados, haverá muitos tecnicamente robustos e outros menos e o risco de haver manipulações não pode ser totalmente descartado.
Como dizem repetidamente os especialistas, as sondagens não são previsões, mas antes retratos do objeto em análise no momento em que é analisado. Algumas técnicas de sondagem em movimento (por exemplo com atualizações diárias) poderão identificar tendências, mas não são previsões e muito menos antevisões do que sucederá quando fecharem as urnas. Não é por acaso, aliás, que entre os grandes triunfos e os grandes “falhanços” das sondagens, quem melhor se tem saído são as designadas sondagens à boca das urnas, que procuram retratar um momento temporalmente alinhado com aquele em que ocorre a votação.
Para além da informação direta e explícita que contém, cada sondagem transporta também uma dimensão implícita de impacto, que na minha condição assumida de não especialista, me atrevo a considerar a sua componente mais importante e influente. É uma dimensão que inclui a perceção sobre a sondagem, a sua interpretação e a forma como é comunicada e analisada pela comunicação social, numa triangulação interativa, na qual procurar estabelecer linhas separadoras é um mero exercício de simplificação.
Uma sondagem positiva para uma força política tem desde logo o efeito de motivação dos seus militantes e simpatizantes mais próximos e de provocar efeitos de desilusão ou de reagrupamento nos que em contraponto recebem resultados negativos. Também a ideia que numa sondagem interessa apenas quem ganha e quem perde é muito redutora, porque cada estudo, sobretudo os mais fundamentados, traça uma paisagem eleitoral alargada que pode induzir movimentos de voto útil ou baseados em perceções que não são as mais imediatas ou as mais destacadas no processo de comunicação.
Outra ideia consagrada sobre as sondagens, e que tem natural fundamento empírico, é que para um partido, movimento ou candidato é sempre melhor ter uma boa sondagem do que uma má sondagem. Mais complexo é determinar em cada contexto específico, a fronteira entre uma boa e uma má sondagem.
O período eleitoral em curso e que culmina com a votação de 30 de janeiro, decorreu em condições muito particulares e que terão na minha perspetiva tendência para tornar as escolhas eleitorais mais fluidas e as dinâmicas de mudança de escolha em cima do momento de exercício de voto mais prováveis de acontecer. Não é um cenário que facilite o trabalho de quem estuda com seriedade a opinião, mas torna ainda mais aliciante esse trabalho de elevada complexidade e que exige um grau de especialização elevada.
Domingo haverá como sempre em democracia vencedores e vencidos. As sondagens terão tido algum peso voluntário ou involuntário nos resultados, mas ao contrário do que por vezes se insinua as sondagens não dão votos. Só interagem com eles, como tudo o que é comunicação de massas na sociedade moderna.
Eurodeputado do PS