O Voto (in)útil


Devemos ter como princípio de que numa Democracia todo o voto é útil porque expressa a vontade popular. No entanto este mesmo voto pode e deve ser utilizado e avaliado em termos de eficiência.


Por Rodrigo Gonçalves, Gestor e Mestre em Ciência Política

Em cada ato eleitoral o voto útil é evocado pelos principais líderes políticos. Uns evocam-no para intimidar o eleitorado, outros para atacar os rivais e outros ainda para conseguir a vitória tão desejada.

Mas o que é de facto o voto útil? O voto útil define-se quando um eleitor, apesar de ter um candidato preferencial, reconhece que esse candidato não tem potencial suficiente para ganhar as eleições e por isso mesmo, o eleitor vota naquele que tem mais hipóteses de derrotar quem ele não quer que continue a governar ou que ganhe as eleições.

Como regra geral, pode estabelecer-se que o voto útil é aquele que é concedido a um partido que é a segunda preferência do eleitor, confrontado com as limitadas – ou até impossíveis – possibilidades da sua primeira preferência ganhar ou ajudar ao resultado pretendido.

Devemos ter como princípio de que numa Democracia todo o voto é útil porque expressa a vontade popular. No entanto este mesmo voto pode e deve ser utilizado e avaliado em termos de eficiência.

Nesta reta final da campanha eleitoral vemos um aumento do apelo ao voto útil pelos dois principais candidatos e únicos com possibilidade de ser primeiro-ministro de Portugal, Rui Rio e António Costa. Esta questão leva-nos a fazer a reflexão que realmente importa.

Se à Direita se pretende que termine a governação de António Costa, muitas vezes refém do Bloco de esquerda e do PCP, o voto útil só poderá ser no único candidato que pode ganhar a eleição para primeiro-ministro. Esse candidato é obviamente Rui Rio.

Este fator de utilidade que reflete a eficiência do voto útil já teve recentemente expressão, nas eleições autárquicas, quando Carlos Moedas venceu Fernando Medina recolhendo muitos dos votos da Iniciativa Liberal e do Chega.

Aliás, a utilidade do voto de centro-direita em Lisboa foi tal que, em coerência com os discursos dos candidatos que referiam que era tempo de retirar Medina da gestão da Câmara Municipal de Lisboa, os eleitores responderam ao apelo e deram a vitória ao único que realmente poderia substituir o incumbente no cargo, independentemente das suas preferências. Foi um voto estratégico e realmente útil para atingir o objetivo final.

No plano nacional o cenário é exatamente o mesmo. Acredita um eleitor do CDS, da Iniciativa Liberal ou até do Chega que o seu voto, sendo nos seus preferidos, e retirando a possibilidade da direita retirar a esquerda da governação, poderá mesmo ser útil? Se acredita está completamente errado.

O único voto útil é realmente aquele que, mesmo sendo uma segunda opção, tem mais chances de conseguir conquistar a vitória. Nestas eleições legislativas a responsabilidade é coletiva e no caso do centro-direita os partidos têm a responsabilidade de, num momento crucial da democracia portuguesa, representarem um espectro ideológico mais amplo do que os seus próprios partidos.

Compete aos eleitores perceberem isso mesmo e caso pretendam uma real mudança de rumo devem apostar no único partido que pode ser alternativa ao PS de António Costa. Neste caso concreto é o PSD de Rui Rio.

Quanto aos partidos como o CDS, Iniciativa Liberal e Chega, que dizem pretender uma mudança, podem à posteriori influenciar positivamente a governação com a capacidade de poder fazer acordos pós-eleitorais com o PSD e condicionar em caso de discordância.

Só haverá mudança se Rui Rio vencer as eleições, caso contrário teremos a continuidade da governação de António Costa que já disse, claramente, pretender manter o rumo e submeter novamente a votação o mesmo orçamento, chumbado pela maioria dos partidos com assento parlamentar, que levou à crise política que vivemos.

Mesmo que António Costa vença sem maioria teremos, seguramente, uma reedição da “geringonça” travestida de outra denominação feita para eleitor ver. António Costa é um político experimentado e para manter o poder e fugir da pressão do Presidente da República – que vai exigir governabilidade – tudo fará, mesmo que isso implique voltar a sentar-se com o BE e o PCP.

Portanto, face a este cenário é fácil argumentar que o voto útil não é nocivo à democracia representativa, pois se com a dispersão dos votos se perder o objetivo principal então que representatividade se terá? Muitas vezes, em situações especiais como a que vivemos, temos de ter um voto estratégico, eficaz, ou seja, útil.

De acordo com um estudo realizado pelo município de Gschwend, na região administrativa de Estugarda, o voto útil costuma ser mais utilizado pelo eleitorado indeciso e pelo eleitorado que pondera fazer parte da abstenção. O mesmo estudo esclarece que o voto útil é mais provável entre cidadãos politicamente esclarecidos e entre aqueles com uma identidade partidária fraca.

Objetivamente, para dia 30 de janeiro, isto pode refletir que a identidade partidária forte de alguns eleitores garantirá a representatividade dos partidos de centro-direita, mas deixará para a grande maioria dos indecisos e esclarecidos, a possibilidade de utilizar o voto útil para conseguir assim atingir o objectivo principal comum que é ganhar ao incumbente.

Então a pergunta que se faz é a seguinte: O que farão muitos dos eleitores do CDS, IL e Chega no dia 30 de janeiro? Vão votar (in)útil?

A democracia aguarda.

O Voto (in)útil


Devemos ter como princípio de que numa Democracia todo o voto é útil porque expressa a vontade popular. No entanto este mesmo voto pode e deve ser utilizado e avaliado em termos de eficiência.


Por Rodrigo Gonçalves, Gestor e Mestre em Ciência Política

Em cada ato eleitoral o voto útil é evocado pelos principais líderes políticos. Uns evocam-no para intimidar o eleitorado, outros para atacar os rivais e outros ainda para conseguir a vitória tão desejada.

Mas o que é de facto o voto útil? O voto útil define-se quando um eleitor, apesar de ter um candidato preferencial, reconhece que esse candidato não tem potencial suficiente para ganhar as eleições e por isso mesmo, o eleitor vota naquele que tem mais hipóteses de derrotar quem ele não quer que continue a governar ou que ganhe as eleições.

Como regra geral, pode estabelecer-se que o voto útil é aquele que é concedido a um partido que é a segunda preferência do eleitor, confrontado com as limitadas – ou até impossíveis – possibilidades da sua primeira preferência ganhar ou ajudar ao resultado pretendido.

Devemos ter como princípio de que numa Democracia todo o voto é útil porque expressa a vontade popular. No entanto este mesmo voto pode e deve ser utilizado e avaliado em termos de eficiência.

Nesta reta final da campanha eleitoral vemos um aumento do apelo ao voto útil pelos dois principais candidatos e únicos com possibilidade de ser primeiro-ministro de Portugal, Rui Rio e António Costa. Esta questão leva-nos a fazer a reflexão que realmente importa.

Se à Direita se pretende que termine a governação de António Costa, muitas vezes refém do Bloco de esquerda e do PCP, o voto útil só poderá ser no único candidato que pode ganhar a eleição para primeiro-ministro. Esse candidato é obviamente Rui Rio.

Este fator de utilidade que reflete a eficiência do voto útil já teve recentemente expressão, nas eleições autárquicas, quando Carlos Moedas venceu Fernando Medina recolhendo muitos dos votos da Iniciativa Liberal e do Chega.

Aliás, a utilidade do voto de centro-direita em Lisboa foi tal que, em coerência com os discursos dos candidatos que referiam que era tempo de retirar Medina da gestão da Câmara Municipal de Lisboa, os eleitores responderam ao apelo e deram a vitória ao único que realmente poderia substituir o incumbente no cargo, independentemente das suas preferências. Foi um voto estratégico e realmente útil para atingir o objetivo final.

No plano nacional o cenário é exatamente o mesmo. Acredita um eleitor do CDS, da Iniciativa Liberal ou até do Chega que o seu voto, sendo nos seus preferidos, e retirando a possibilidade da direita retirar a esquerda da governação, poderá mesmo ser útil? Se acredita está completamente errado.

O único voto útil é realmente aquele que, mesmo sendo uma segunda opção, tem mais chances de conseguir conquistar a vitória. Nestas eleições legislativas a responsabilidade é coletiva e no caso do centro-direita os partidos têm a responsabilidade de, num momento crucial da democracia portuguesa, representarem um espectro ideológico mais amplo do que os seus próprios partidos.

Compete aos eleitores perceberem isso mesmo e caso pretendam uma real mudança de rumo devem apostar no único partido que pode ser alternativa ao PS de António Costa. Neste caso concreto é o PSD de Rui Rio.

Quanto aos partidos como o CDS, Iniciativa Liberal e Chega, que dizem pretender uma mudança, podem à posteriori influenciar positivamente a governação com a capacidade de poder fazer acordos pós-eleitorais com o PSD e condicionar em caso de discordância.

Só haverá mudança se Rui Rio vencer as eleições, caso contrário teremos a continuidade da governação de António Costa que já disse, claramente, pretender manter o rumo e submeter novamente a votação o mesmo orçamento, chumbado pela maioria dos partidos com assento parlamentar, que levou à crise política que vivemos.

Mesmo que António Costa vença sem maioria teremos, seguramente, uma reedição da “geringonça” travestida de outra denominação feita para eleitor ver. António Costa é um político experimentado e para manter o poder e fugir da pressão do Presidente da República – que vai exigir governabilidade – tudo fará, mesmo que isso implique voltar a sentar-se com o BE e o PCP.

Portanto, face a este cenário é fácil argumentar que o voto útil não é nocivo à democracia representativa, pois se com a dispersão dos votos se perder o objetivo principal então que representatividade se terá? Muitas vezes, em situações especiais como a que vivemos, temos de ter um voto estratégico, eficaz, ou seja, útil.

De acordo com um estudo realizado pelo município de Gschwend, na região administrativa de Estugarda, o voto útil costuma ser mais utilizado pelo eleitorado indeciso e pelo eleitorado que pondera fazer parte da abstenção. O mesmo estudo esclarece que o voto útil é mais provável entre cidadãos politicamente esclarecidos e entre aqueles com uma identidade partidária fraca.

Objetivamente, para dia 30 de janeiro, isto pode refletir que a identidade partidária forte de alguns eleitores garantirá a representatividade dos partidos de centro-direita, mas deixará para a grande maioria dos indecisos e esclarecidos, a possibilidade de utilizar o voto útil para conseguir assim atingir o objectivo principal comum que é ganhar ao incumbente.

Então a pergunta que se faz é a seguinte: O que farão muitos dos eleitores do CDS, IL e Chega no dia 30 de janeiro? Vão votar (in)útil?

A democracia aguarda.