Dias cinzentos


Nem sempre as cores reclamam para si toda a beleza da natureza, que pode viver muito feliz com dias cinzentos


Num contexto puramente meteorológico, um dia cinzento não é um dia necessariamente mau. Podemos, paradoxalmente, deixar-nos envolver por uma onda de tranquilidade perante um mar cinzento e revolto. Ou deleitar-nos com a dança do nevoeiro que pousa suavemente sobre um souto outonal, absorvendo-lhe subtilmente as cores, como uma velatura num quadro a óleo.

Nem sempre as cores reclamam para si toda a beleza da natureza, que pode viver muito feliz com dias cinzentos. Porém, quando falamos de nós, do nosso estado de espírito, o caso muda de figura. A poesia do cinzento dificilmente se aplica. Necessitamos urgentemente de voltar a ver as cores que o cinzento esconde.

Mas, tal como acontece com os pigmentos, não basta acrescentar cor ao cinzento. Quando a cor se mistura ao cinzento, sem critério, precipitadamente, o resultado é uma cor triste, suja, sem brilho.

O cinzento necessita cobrir-se de branco para poder receber de novo a cor. O ideal seria despejar-lhe em cima um balde inteiro. Como um reset. E então, sobre o branco, aplicar de novo as cores.

Não é de todo impossível. Basta que o branco esteja na mão da pessoa certa, num jantar de amigos, num passeio à beira-mar, num abraço apaixonado, ou numa boa e inesperada notícia.

Mas habitualmente temos que ser mais pacientes e esperar que o branco surja, não de uma só vez, mas em leves velaturas que, tal como o nevoeiro no souto, vão clareando o cinzento ao ponto de o tornarem branco.

É esse o momento de voltarem as cores. Limpas e límpidas. Sem a sujidade contaminante do cinzento. É o momento de regressarem as velaturas, não de branco, mas de cores suaves que aplicadas sobre as novas cores as tornam mais vivas, mais vibrantes, mais perenes. Chega então o momento de vermos o nosso mundo com outras cores, com outro ânimo, com felicidade renovada.

Sem nunca descartar a hipótese de um bom branco. Fresquinho. Na varanda ou no jardim lá de casa.

 

Paulo Romão

Designer

 

 

Dias cinzentos


Nem sempre as cores reclamam para si toda a beleza da natureza, que pode viver muito feliz com dias cinzentos


Num contexto puramente meteorológico, um dia cinzento não é um dia necessariamente mau. Podemos, paradoxalmente, deixar-nos envolver por uma onda de tranquilidade perante um mar cinzento e revolto. Ou deleitar-nos com a dança do nevoeiro que pousa suavemente sobre um souto outonal, absorvendo-lhe subtilmente as cores, como uma velatura num quadro a óleo.

Nem sempre as cores reclamam para si toda a beleza da natureza, que pode viver muito feliz com dias cinzentos. Porém, quando falamos de nós, do nosso estado de espírito, o caso muda de figura. A poesia do cinzento dificilmente se aplica. Necessitamos urgentemente de voltar a ver as cores que o cinzento esconde.

Mas, tal como acontece com os pigmentos, não basta acrescentar cor ao cinzento. Quando a cor se mistura ao cinzento, sem critério, precipitadamente, o resultado é uma cor triste, suja, sem brilho.

O cinzento necessita cobrir-se de branco para poder receber de novo a cor. O ideal seria despejar-lhe em cima um balde inteiro. Como um reset. E então, sobre o branco, aplicar de novo as cores.

Não é de todo impossível. Basta que o branco esteja na mão da pessoa certa, num jantar de amigos, num passeio à beira-mar, num abraço apaixonado, ou numa boa e inesperada notícia.

Mas habitualmente temos que ser mais pacientes e esperar que o branco surja, não de uma só vez, mas em leves velaturas que, tal como o nevoeiro no souto, vão clareando o cinzento ao ponto de o tornarem branco.

É esse o momento de voltarem as cores. Limpas e límpidas. Sem a sujidade contaminante do cinzento. É o momento de regressarem as velaturas, não de branco, mas de cores suaves que aplicadas sobre as novas cores as tornam mais vivas, mais vibrantes, mais perenes. Chega então o momento de vermos o nosso mundo com outras cores, com outro ânimo, com felicidade renovada.

Sem nunca descartar a hipótese de um bom branco. Fresquinho. Na varanda ou no jardim lá de casa.

 

Paulo Romão

Designer