Foram mais de 20 milhões os que viram os debates televisivos para as próximas eleições legislativas e tendo em conta a inequívoca existência de muitos eleitores fantasmas nos cadernos eleitorais, com números que podem chegar a um milhão de recenseados a mais, afinal a democracia portuguesa e o interesse dos portugueses pela política poderá na verdade ser bem maior do que se temia.
Isto significa que os eleitores estarão bem atentos à realidade do seu país e das suas vidas, pelo que irão, com certeza, no próximo dia 30 decidir bem quanto ao que pretendem para o futuro próximo.
Existe, contudo, um problema que parece de difícil resolução, os portugueses querem ver compromissos firmes entre partidos políticos, exceptuando o Chega, e os partidos políticos pretendem neste momento afirmar as suas diferenças para maximizar o potencial de votos possíveis. Esta equação de resolução impossível apenas o é até ao dia das eleições, pois contados os votos, ver-se-á, quais serão as condições para governar.
Para mim é uma questão de menor importância, apesar dos partidos da direita (PSD, CDS e IL) pretenderem fazer disso um tema relevantíssimo. Se há coisa que esta campanha mostra é que os entendimentos do PS com os partidos da direita estão totalmente bloqueados por motivos políticos profundos, pelo que apenas à esquerda poderá haver qualquer espécie de entendimento de futuro.
Para tal, basta ter estado atento ao que se disse e ao que contém os diversos programas políticos. A matriz do Partido Socialista não é compatível com a substituição do Estado pelos privados para as mais básicas funções sociais como os cuidados de saúde tendencialmente gratuitos, prestados pelo Serviço Nacional de Saúde, a escola pública tendencialmente gratuita, a não privatização (ainda que parcial, como propõe o PSD) dos descontos para a Segurança Social, a tributação do IRS através de taxas únicas (onde todos pagam a mesma taxa independentemente dos rendimentos que aufiram) ou da descida cega do IRC sem a garantia de reinvestimento, ou aumento dos salários dos trabalhadores. A direita não gosta de aumentos do salário mínimo e vê os serviços prestados pela administração pública como despesismo.
Pelo que não haverá, nem hoje, nem nunca, qualquer tabu quanto ao posicionamento político do PS. O PS estará sempre do lado dos que acreditam que o progresso e o crescimento fazem-se com uma sociedade decente e uma comunidade que acredita na solidariedade entre os seus membros e isso não é negociável.
É legítimo quem acredite numa sociedade diferente desta, mas é menos compreensível a linguagem muito pouco democrática e tolerante, que refere a governação dos últimos anos como socialismo que deve ser erradicado do país, como tem feito a direita em todos os fóruns formais e informais. Errado até porque, de acordo com a maioria dos estudos de opinião, que existem até ao momento, os portugueses gostaram dos resultados desta governação e acreditam hoje maioritariamente no caminho que tem vindo a ser trilhado nestes últimos 6 anos.
Pedro Vaz