As eleições legislativas antecipadas que irão ter lugar no próximo dia 30 de Janeiro deste novo ano de 2022 poderiam ser, de facto, uma enorme oportunidade para que Portugal pudesse realmente, mais do que mudar de ciclo, mudar de vida.
O estado decadente a que o Estado português chegou é o resultado destes últimos 20 anos de puro imobilismo reformista promovido por um situacionismo político-partidário hegemónico do Partido Socialista instalado há demasiado tempo no poder, dando sucessivas mostras concretas de uma actuação absolutamente censurável por contrária aos mais básicos valores éticos que, em democracia, devem nortear o exercício de cargos políticos.
Tal actuação feita já de uma forma natural, sem cautela, sem constrangimento, sem pudor e sem vergonha, conduziu-nos – para além de uma certa normalização generalizada desta maneira de estar na vida, conforme se vai verificando um pouco por toda a sociedade –, à estagnação económica, ao definhamento demográfico, populacional e residencial e ao completo empobrecimento social, apenas disfarçado por uma acessível capa tecnológica enganadora.
Sim, Portugal é hoje, como nunca, o país em que a “igualdade de oportunidades” não passa de uma treta semântica, de um slogan panfletário ou de um princípio constitucional vertido num mero artigo que, a par de tantos outros, se ignora e se atropela com frequência e com consentimento. Para subir na vida, ter uma carreira profissional progressiva e honesta, aceder a determinados patamares, não é preciso ter qualificações nem mérito nenhum. É preciso, sim, ter a origem certa, a família certa com o apelido certo, os amigos certos, os inimigos certos, o cartão de militante do partido certo, o pensamento certo, adequado, moldado ou inexistente, mas não flexível e nunca próprio!
As “oportunidades” em Portugal destinam-se, não se conquistam. As “oportunidades” em Portugal dirigem-se, não se perseguem. As “oportunidades” em Portugal são de quem as cria, não são de quem se candidata. Em suma, em Portugal, as oportunidades passam por sair de Portugal…
Como se constata, este país não é para novos que dele fogem em busca de uma vida melhor e condigna mal terminam o seu percurso académico. E não faltam verdadeiras oportunidades para esse objectivo. Países que recebem talentos e que os aproveitam porque têm oferta, muita. Países que traçaram um rumo lógico e sabem o que querem e o que andam aqui a fazer. Países marcadamente liberais que perceberam que o socialismo democrático ou a social-democracia, alicerçados em impostos e cargas fiscais asfixiantes, apenas serve o propósito de sustentar os Estados vorazes, controladores e bloqueadores do progresso.
Mas este país também não é para velhos cada vez mais atirados à sua sorte e abandonados pelo mesmo Estado que lhes sugou o quanto pôde em impostos enquanto estavam no activo e que a única coisa que tem para lhes dar são passes sociais e descontos nos transportes e entradas livres nos museus para os entreter, na esperança de não virem a precisar de coisas supérfluas como cuidados de saúde.
Este país é, sim, para os muitos milhares de dependentes deste modo de vida agarrado ao Estado. Principalmente os dependentes da política que nada sabem fazer na vida, que nunca teriam conseguido uma carreira profissional fora da órbita política e da bolha protectora do partido. Um “exército” de dependentes “intoxicados” pelo Estado que lhes alimenta o vício, cada vez em maior número e, paradoxalmente, cada vez menos necessários ao país e úteis à sociedade.
Eis, pois, a razão do desígnio nacional em prol dos subsídios.
Quando é o próprio Estado que saliva com os dinheiros europeus que desesperadamente anseia por receber para sustentar esta dependência, o que esperar do comum cidadão, desde o mais desgraçado, posto de lado, sem qualquer hipótese de aceder ao que quer que seja, aos demais necessitados e mal remediados? Pois transformam-se, eles próprios, em resignados dependentes da esmola “pública” e da taxa social para tudo e mais alguma coisa que, com grande eloquência, se apresentam como medidas políticas espectaculares de enorme sensibilidade social, capazes de fazer levantar os outros dependentes desta rede de castas, e, de pé, aplaudirem atirando flores ao criador!
Porém, chegados ao momento crucial da confrontação de tudo isto, da falta de rumo, da ausência de um único objectivo nacional, sem esquecer os casos concretos e identificáveis de má gestão pública e de opções estratégicas erradas que oneram ainda mais os contribuintes, bem como das inúmeras situações ocorridas com os titulares de cargos políticos neste mesmo Governo, que deixaram marcas dificilmente superáveis de irresponsabilidade, incompetência, negligência, nepotismo, entre tantos mais atributos pouco sadios e recomendáveis, o que é que temos visto nesta pré-campanha eleitoral, designadamente nos debates televisivos e no “comentariado” oficioso subsequente?
A resposta é nada. Rigorosamente nada.
Estes debates são uma palhaçada em curta-metragem. Um modelo ridículo de 20 minutos do mais puro “reality show” em que o que importa explorar são os comportamentos dos seus protagonistas. O que se pretende é atingir um estado de selvajaria intelectual. É um insulto apresentar-se aquilo aos espectadores como uma coisa para se levar a sério que, nas televisões generalistas passa ali entalado entre o telejornal da noite e o horror do “prime-time”. Discutir um país em 20 minutos é um gozo tremendo com os cidadãos que deveria ter tido por parte dos respectivos líderes partidários, ou pelo menos de alguns deles, candidatos nestas eleições legislativas, uma veemente nega.
Quando estamos à beira de viver uma crise profunda que nos vai colocar como o pais mais pobre e atrasado de toda a União Europeia, quando esta situação preocupante que vivemos parece não interessar ao poder o político, de forma generalizada com uma ou duas honrosas excepções, quando se comprova por todos os indicadores, uma gritante impreparação do país para os desafios da próxima década, num ambiente concorrencial cada vez mais exigente e numa Europa que apesar de pouco unida e com as suas instituições muito fragmentadas e ainda à procura de afirmação de novas lideranças e mesmo a várias velocidades sem que tenhamos qualquer capacidade para acompanhar nenhuma delas, estes deploráveis 20 minutos televisivos de ataques pessoais, de peixeirada inusitada e de propaganda demagógica sem nenhum conteúdo, são uma perda de tempo, um desconsolo e uma completa desilusão.
São 20 minutos de inestimável contributo para a abstenção. São, por tudo isto, 20 minutos sem perdão!