Os bancos portugueses escaparam, para já, ilesos dos efeitos da pandemia. A Caixa Geral de Depósitos, BPI, Santander Totta, novobanco e BCP – lucraram mais de mil milhões nos primeiros nove meses do ano. A crise pandémica, a aplicação de moratórias e a constituição de provisões permitiram, ainda assim, as instituições financeiras lucrarem quase quatro milhões por dia. No entanto, as moratórias continuam a pairar sobre o sistema financeiro, principalmente no que diz respeito às empresas. Apesar de o Governador do Banco de Portugal ter acenado com os «efeitos extraordinariamente positivos», resultado da aplicação desta medida e de apontar para um número de insolvências de empresas «muito baixo», reconheceu que «temos de ser ponderados».
Uma questão que ganha maior relevo quando o montante total de crédito de empresas em moratória – que totalizava 2.707 milhões de euros, de acordo com os últimos dados, corresponde a 3,6% do total de crédito a este segmento – a maioria (51,3%) está concentrada nos setores mais afetados pela crise.
A somar às empresas há que contar ainda com os particulares. E tal como já tinha sido avançado pelo Nascer do SOL, as verdadeiras dores de cabeça começam já no início do ano. A explicação é simples: os créditos abrangidos por esta medida não puderam ser alvo de ação judicial durante 90 dias, após o seu fim. «Estes 90 dias acabam em dezembro, como tal só é em janeiro é que haverá uma noção de quem é que não consegue cumprir o contrato e aí os bancos podem passar medidas mais drásticas, como a execução de hipotecas», fruto da alteração ao decreto 227/2012, já tinha garantido ao nosso jornal, Natália Nunes, diretora do Gabinete de Proteção Financeira (GPF) da Deco.
E para a responsável, as perspetivas não são animadoras. «Em 2022 podemos assistir a um aumento do incumprimento, com as famílias a serem confrontadas com ações de execução e com a perda das suas casas e com um maior número de famílias a recorrer aos processos de insolvência com a consequente da perda da casa», chegou a admitir ao nosso jornal.
Fusões serão passo inevitável
A braços com estas possíveis imparidades, o sistema financeiro terá de caminhar a passos largos para processos de fusão, tal como tem acontecido em toda a Europa. Esse cenário já foi reconhecido por Mário Centeno ao defender que as fusões e aquisições são um próximo passo «natural» para os bancos portugueses, pressionados por taxas de juros baixas recorde. E os entraves não ficaram por aí. O Governador do Banco de Portugal lembrou ainda que, enquanto os bancos europeus andavam a apostar em processos de reestruturação, o sistema financeiro nacional «tentava desesperadamente cortar crédito malparado e fortalecer os rácios de capital».
E foi mais longe: «Há processos de venda de instituições bancárias a acontecer em Portugal, essa é uma forma de haver este tipo de consolidação, e há estratégias que eu acho que são convergentes entre bancos e que podem levar a esses fenómenos», acrescentando que «as fusões são um fenómeno de mercado, elas devem resultar de desenvolvimentos de mercado e devem ser vistos com naturalidade» e, como tal, defende que «são mais prováveis em mercados em que há choques negativos à rentabilidade dos bancos».
Para o responsável não há margem para dúvidas: «É uma resposta do mercado à necessidade de haver ganhos, as sinergias, entre instituições quando elas se juntam».
A compra do Montepio por parte do BCP chegou a ser falada, mas afastada pelas duas instituições financeiras. Mas ano novo, vida nova.