FC Porto-Benfica. Flores e aplausos na tarde azul da amizade…

FC Porto-Benfica. Flores e aplausos na tarde azul da amizade…


Em Outubro de 1950, os portistas recebiam o Benfica que vencera a Taça Latina. A vitória por 5-2 teve um sabor muito especial.


8 de Outubro de 1950. Viviam os adeptos do Benfica ainda embriagados com a primeira grande vitória internacional do futebol português, a Taça Latina, competição que punha em liça, anualmente, os campeões de Itália, Espanha, França e Portugal. Viviam os adeptos do FC Porto encantados com a notícia que o seu clube iria ter um novo e moderno estádio, no bairro das Antas, e que os trabalhos de construção estavam preste a iniciar-se – a primeira pedra tinha sido plantada no ano anterior. Viviam ambos os clubes um momento de amizade mútua pouco vista, de tal ordem que a direcção portista, comandada por Júlio Ribeiro Campos, tinha endereçado aos seus homólogos encarnados uma longa carta de ovação à vitória do Benfica no Jamor sobre o Bordéus, agradecendo a conquista que honrava todo o futebol português. E já corria a notícia de que seria o Benfica o clube convidado para participar no jogo de inauguração do Estádio das Antas.

Bons motivos para que o Campo da Constituição estivesse a rebentar pelas costuras. Vendo bem, era um daqueles jogos que ninguém queria perder e no qual a vitória portista seria amplamente valorizada perante um adversário que ainda puxava o lustro aos seus galões. Francisco Retorta, um dos dirigentes do clube da capital do Norte desceu ao relvado para oferecer um ramo de flores a Francisco Ferreira, capitão dos lisboetas. O povo aplaudiu freneticamente o gesto de cortesia. Depois, o árbitro Paulo de Oliveira, de Santarém, ordenou que o jogo tivesse início e, freneticamente, uma e outra equipa lançaram-se num bailado de ora-atacas-tu-ora-ataco-eu que não deixava ninguém sossegado, com o rabo sentado no seu lugar.

A toada é veloz, os confrontos rijos. Arsénio choca com Alfredo e fica combalido, o Benfica é obrigado a jogar alguns minutos com dez até à recuperação do seu jogador. Reclama-se penalti sobre Monteiro da Costa; o apitador manda seguir. Todos esperam pelo primeiro golo, mas ambos os guarda-redes, Rosa e Barrigana, mostram-se seguríssimos. Estão decorridos 35 minutos e Nelinho dá vantagem aos da casa.

A vitória azul O Benfica carrega, agora, tentando dar resposta ao golo contrário. Dois minutos mais tarde, é José Águas que, com um remate rasteiro, repõe o empate. Por momentos, os portistas estremecem. Mas redobram os esforços. O jogo é fluido, agradável de seguir. Um sol de Outono paira sobre a cidade. Agitam-se bandeiras azuis e vermelhas. Ouve-se o som de uma buzina.

A segunda parte inicia-se com um golo de Monteiro da Costa logo aos 2 minutos. A Constituição explode de alegria. mas ainda há muito para se jogar. O Benfica sofre uma fase de bombardeamento contínuo, todos os avançados do Porto rematam à baliza, Vital é certeiro e faz o 3-1 quatro minutos mais tarde.

A partir daqui, o domínio portista é total. Empurrados pelo seu público fervilhante, Nelinho, Vital, Monteiro da Costa e Araújo vergastam a defesa contrária, o grande meio-campo que garantira a Taça Latina no Jamor, com Moreira, Félix Antunes e Francisco Ferreira, dá sinais de cansaço e o Benfica quebra. Vital e Monteiro da Costa marcam mais dois golos e o resultado de 5-1 parece conclusivo. É uma desvantagem dura para os encarnados. Sobra-lhes ainda uma ponta de orgulho para se rebelarem contra ela. Faltam quinze minutos para o fim do jogo e é a vez de Julinho e Arsénio tomarem conta do ataque, fornecendo o ponta-de-lança José Águas com bolas para golo. Uma entra. Mas é demasiado tarde: 85 minutos. Uma chuva de aplausos felizes cai sobre os jogadores que se abraçam.