Findo que se encontra mais um ano (ano 2 da pandemia) o país entrará a todo o gás num período, indesejado pela esmagadora maioria dos portugueses, de eleições legislativas e que terá um conjunto significativo de debates entre os líderes dos principais partidos políticos candidatos às eleições, a iniciar já no dia 2 de janeiro.
Como é habito dizer, a memória coletiva é curta e em política é ainda mais. Isto significa que, volvidos 2 anos de legislatura, encurtada pelo chumbo do Orçamento de Estado para 2022, foram atiradas para o esquecimento questões que eram consideradas por todos como relevantes.
São imensos os exemplos que deveriam ter relevo no momento em que iremos votar para decidir quem nos governará, num tempo que continua carregado de incerteza, venha ela da pandemia ou da instabilidade nas fronteiras de leste da União Europeia.
Exemplo n.º 1: na primavera de 2020 todos eram unânimes em reconhecer que havia demasiados trabalhadores na nossa sociedade que auferiam rendimentos demasiado baixos e cuja relevância foi demonstrada “urbi et orbi” durante os períodos de confinamento e de quase paragem total das nossas vidas. Via-se gente, muita dela que atravessou os longos períodos de confinamento e teletrabalho sem grandes sobressaltos, porque a vida assim lhes permitia, a referir a vergonha dos salários de gente como os trabalhadores de supermercados, cantoneiros de limpeza, estafetas, operadores das cadeias de logística e abastecimento, que, na incerteza da doença (quando nada se sabia sobre ela, sem cura, sem vacinas e extremamente letal), saíam diariamente de casa para garantir que a comida não faltasse, o lixo era recolhido, a água continuasse a chegar às torneiras, os hospitais continuassem limpos e muitos outros exemplos poderia dar. Hoje, quando o Governo continua a corretíssima política de aumentos dos salários mais baixos, por via do aumento do salário mínimo (40% de aumento desde 2015), vemos a direita a reclamar com a curta distância que esses salários têm para o “salário médio”, ignorando que esse mesmo salário médio também tem aumentado, e sem dizerem o que propõem efetivamente. O não aumento ou redução do salário mínimo? O aumento dos salários médios? Como? Aumentando a função pública de forma generalizada? Obrigando as empresas a aumentar os salários dos técnicos superiores?
Exemplo n.º 2: durante o ano de 2020 e grande parte do ano de 2021 era, também, unânime que o serviço nacional de saúde deveria ser reforçado em meios financeiros e recursos humanos, médicos e enfermeiros essencialmente. O Governo aumentou em 28.000 os profissionais de saúde (arrisco-me a dizer que deverá ter sido um aumento sem precedentes na história do país) e o que vemos a direita a referir hoje em dia? Que disparou os custos com o pessoal na administração pública e que é preciso reduzir os custos com o pessoal. O mesmo se pode aplicar no setor da educação, da segurança social, dos registos e notariado e na administração autárquica.
Exemplo n.º 3: Devido às imposições de permanência em casa e de regresso ao trabalho, posteriormente, o país foi confrontado com outro nível de problemas estruturais que enfrenta – a enorme desigualdade social que temos entre nós, quer seja na habitação ou falta dela, quer seja nos cuidados com os mais idosos, quer seja na necessidade de melhoria dos transportes públicos. Infelizmente, nem todos vivem ou têm condições para viver na casa dos seus sonhos, nem todos podem deslocar-se no seu novíssimo carro elétrico da moda ou nem todos têm condições para ter os seus familiares mais idosos em casa com cuidados permanentes ou em residências sénior com as melhores comodidades. O país é outro e o Governo do PS, conseguiu em tempo recorde gizar um plano que pudesse ajudar a recuperar em poucos anos parte deste atraso, com o financiamento europeu para tal. Estão hoje em marcha a execução de construção de habitação digna em todo o país, investimentos em mais e melhor transporte público. O que diz a direita sobre isso? Que o Governo e o PS não podem falar sobre o assunto, porque isso é aproveitamento político do seu próprio trabalho.
Estes e outros exemplos deveriam estar bem presentes no que iremos discutir em relação às próximas eleições. Saber quem tem capacidade de planear e executar o que é necessário e imperativo para o país ser menos desigual. Discutir o tipo de país que queremos para o futuro, mas, tristemente, a direita portuguesa só quer discutir a espuma dos dias, os casos das redes sociais e o umbigo dos que mais têm e que a direita teima em defender contra os mais desfavorecidos. Daí a inundação das redes sociais de coisas como os impostos altos que os que mais rendimentos têm pagam ou que o Estado está presente em demasiadas coisas. Se o Estado não tivesse estado presente durante os últimos dois anos, o que seria de muitas das empresas portuguesas? Pergunte-se quantas empresas não receberam um único apoio do Estado nestes dois anos. Arrisco a dizer que se contam pelos dedos de uma mão aquelas que não usufruíram de qualquer apoio do Estado.
Uma nota final para a grande vitória para o país e para a economia nacional que foi a aprovação do plano de reestruturação da TAP pela Comissão Europeia. Está de parabéns o Ministro Pedro Nuno Santos, que tem tido uma ação inteligente e corajosa neste dossier, que é em suma a defesa da nossa soberania nacional e económica.
Independentemente das opiniões que nos possam separar, a existência humana que nos une é sempre bem maior, pelo que expresso os meus votos de um ano de 2022 melhor para todos.
Pedro Vaz