A Mensagem do Papa


Com a sua mensagem: “Deus não cavalga a grandeza, mas desce na pequenez”, o Santo Padre pediu para que deixássemos de desejar grandeza e começássemos a sonhar e a pedir “a graça da pequenez”.


Este ano, o Papa Francisco, na homilia da Missa do Galo, falou sobre a grandeza da pequenez e de como Deus escolheu a pequenez para chegar até nós e se revelar. A imagem do recém-nascido deitado numas palhinhas, aquecido pelo bafo dos animais que o ladeavam, dentro de um estábulo oferecido para Maria e José pernoitarem, é a personificação da simplicidade e da pequenez grandiosa. Mesmo a gravura dos reis magos, que se uniram a esta celebração, seguindo uma estrela durante dias, para irem adorar o menino e ofertarem ouro, incenso e mirra, está embebida de uma singeleza que impressiona pela naturalidade.

A imagem deste relato não poderia ser mais despretensiosa, mais simples e verdadeira na sua mensagem. Por isso mesmo, o Papa recordou a escolha de Deus em vir ao mundo como uma criança humilde, nascida na pobreza, ao invés de se anunciar em grandeza. E deixou uma preocupação: Deus continua a estar presente nas pequenas coisas e a pequenez permanece a estrada escolhida para estar entre nós, contudo, somos nós que não compreendemos a Sua revelação na simplicidade. Insistimos na procura do sucesso, do brilho exterior e do poder, na mesma proporção que esquecemos o propósito de servir, da ternura e da generosidade.

Com a sua mensagem: “Deus não cavalga a grandeza, mas desce na pequenez”, o Santo Padre pediu para que deixássemos de desejar grandeza e começássemos a sonhar e a pedir “a graça da pequenez”, para assim redescobrirmos e valorizarmos as pequenas coisas da vida que nos passam ao lado todos os dias.

Com a graça da pequenez, todo aquele que se sinta só e esquecido pode ser recuperado como uma luz que se volta a iluminar aos olhos dos outros; poderá deixar de ser ignorado e abandonado à sua sorte e, com maior certeza, estará no horizonte dos que estão à sua volta. Um gesto pequeno que pode fazer a diferença na vida de quem sofre diariamente de solidão e se sente encurralado num mundo que nada parece ter para lhe dar.

A mensagem sobre a graça da pequenez não é só para os que pensam e sentem em grande; é também uma mensagem de esperança para os que se sentem periféricos e desnudados perante uma comunidade que não tem espaço e tempo para eles.

Na missa da meia-noite ainda houve oportunidade para citar um poema de Emily Dickinson, a propósito do Céu: “Quem não encontrou o Céu – em baixo – fracassará nisso acima.” O céu que deveríamos cuidar cá em baixo está repleto de sombras que aguardam, sem esperança, que as iluminem. E não me refiro só às populações mais indigentes, mas aos mais velhos que são abandonados, às crianças maltratadas, às vítimas de violência de toda a espécie, aos que se tornaram ásperos e amargos porque lhes faltou um encosto e até aos pobres de espírito.

No dia seguinte, na sua tradicional mensagem natalícia “Urbi et Orbi”, o Papa enfatizou a necessidade de dialogar em todos os contextos. Um discurso marcado pela utilização repetida da palavra “diálogo”, em que alertou para o facto da “nossa capacidade de relacionamento social estar a ser duramente posta à prova” e que “há uma tendência crescente de nos afastarmos”. Um afastamento que se reflete na polarização das relações pessoais e até mesmo entre os líderes internacionais, que provoca conflitos dentro das famílias e que pode levar a ameaças de guerra. A ausência de diálogo é parte da justificação para muitos dos conflitos internacionais que “parecem nunca ter fim”, seja na Síria, no Iémen, em Israel, no Afeganistão, Mianmar, Ucrânia, Sudão do Sul e muitos mais.

A relevância do diálogo começa dentro das famílias, o que levou a um elogio a todos aqueles que se empenham e esforçam pela unidade familiar, pela coesão da comunidade, num tempo em que a separação e o afastamento estão na ordem do dia.

Palavras de inspiração cristã que terminaram com uma súplica pelo desejo de reconciliação e de fraternidade entre todos nós. Algo que só é alcançável se essa vontade for despertada no nosso sentimento e se aceitarmos estar à altura dessa responsabilidade e do compromisso.

 

Escreve quinzenalmente