É difícil manter a coerência de raciocínio e de palavra, quando se vive, hoje, numa sociedade que vende a “alma ao diabo” e renega tudo aquilo em que sempre acreditou, por “um prato de lentilhas”, ou seja, desde que o poder político instalado lhe dê qualquer coisinha, jura logo aquilo que lhe dizem que é preciso jurar… Vejamos esta questão da dita “democracia”, instalada em Abril de 74, em Portugal.
Nas três instituições que não são democráticas por natureza, as Forças Armadas, a Igreja e o Partido Comunista, há uma estrutura superior que impõe a todos os seus membros uma subordinação total, em todos os aspetos comportamentais e até mentais, estando todos os seus membros 100% condicionados. Em democracia todos são iguais e por isso se situam num plano horizontal de igualdade.
O absurdo da nossa atual democracia, imperfeita, é que foi imposta depois de um pronunciamento dos militares (golpe de Estado), que manifestamente, enquanto instituição, não são democratas nem sabem viver numa democracia e por isso se refugiam nos quartéis onde são reis e senhores e ninguém entra…
Por outro lado é curioso ver que em 24 de Abril de 74 a grande maioria da sociedade, média alta e alta, era toda fascista e convivia bem com a dita “ditadura” e estava toda instalada. No dia 25 de Abril de 74 passaram as mesmas pessoas a serem todas democratas, tendo alguns até tirado a gravata nas universidades, para não serem saneadas. Em termos sociológicos não é possível tal mudança em 24 horas. Isto consubstancia uma fraude e uma mentira, que traduz bem o cinismo e a hipocrisia de alguns destes atuais atores políticos. De realçar um aspeto curioso e conhecido: é que a maioria dos membros do Partido Socialista eram todos proto-comunistas, ou mesmo comunistas, e portanto também não eram democratas.
Podemos ainda, no plano sociológico, realçar que quando uma criança nasce e cresce com ambos os progenitores comunistas, é natural que a criança o seja também ou tenha simpatia pelo comunismo, e acontece que há hoje vários dirigentes políticos do PS que sofreram essa influência, o que explica de forma natural a “gerigonça”. Esta é a grande mentira da nossa pseudo-democracia, visto que a verdadeira ainda aguarda pela sua fundação.
Será uma questão de tempo, mas só quando a sociedade civil acordar para a realidade, e deixar de se abster e for às urnas, ou seja, cerca de 47% dos eleitores, é que será possível implantar uma democracia, por vontade e ação do povo.
Sociólogo
Escreve quinzenalmente