A Polícia Judiciária, em colaboração com a sua congénere sul-africana, como não podia deixar de ser, deteve João Rendeiro, foragido da justiça.
O ex-banqueiro, condenado por crimes de burla qualificada, fraude fiscal, branqueamento de capitais e abuso de confiança, em diferentes processos que podem levar a penas de prisão de um total de cerca de 19 anos, fugiu de Portugal em setembro deste ano, assumindo depois em entrevista que não voltaria ao país, o que reafirmou já depois de ter sido detido.
Não parecem restar dúvidas de que a polícia portuguesa agiu com profissionalismo e teve sucesso na detenção do ex-banqueiro.
O Presidente da República, o primeiro-ministro e outros responsáveis políticos felicitaram a Polícia Judiciária pelo sucesso da operação. O diretor da PJ, Luís Neves, desdobrou-se em entrevistas aos principais canais de televisão, e não só.
O líder do maior partido da oposição, Rui Rio não gostou do que considerou o “foguetório” do principal responsável da PJ e levantou a suspeição do timing ser conveniente ao governo ainda em funções e, assim, poder beneficiar o partido que o sustenta, o PS, nas próximas eleições de 30 de janeiro.
Entretanto, a lenta e depauperada justiça portuguesa tenta não falhar os prazos para concretizar o pedido de extradição de João Rendeiro. Ao que parece, não vai ser fácil conseguir traduzir centenas de páginas das decisões judiciais dos três processos em 40 dias, limite para manter João Rendeiro detido na África do Sul, o que, a acontecer, seria verdadeiramente escandaloso.
Como escandalosa é a prescrição de crimes do âmbito da corrupção, como aconteceu recentemente na denominada “Operação Marquês” – falsificação de documentos e fraude fiscal – passados que foram mais de dez anos sobre os alegados crimes.
A Justiça arrasta-se nestes megaprocessos, entregues a dois juízes apenas.
Ninguém entende porque a situação no Tribunal Central de Instrução Criminal, o “Ticão”, criado em 1999, se arrastou durante tanto tempo. Os problemas acumularam-se. Deixaram que os dois juízes acumulassem dezenas e dezenas de processos. Carlos Alexandre está ali colocado há mais de dez anos e Ivo Rosa há seis. Só neste verão é que, finalmente, foi aprovada no parlamento a proposta de lei do governo que altera a composição do “Ticão”, passando o número de juízes de instrução para nove. Entra em vigor a 4 de janeiro do próximo ano.
Tudo se arrasta. Tudo leva anos e anos de indecisões.
Será talvez por isso que Rui Rio se espantou com a rapidez com que a Polícia Judiciária encontrou João Rendeiro, misturando assim investigação policial com o processo judicial e introduzindo a política nesta confusão.
Num assomo de populismo, Rui Rio pensou interpretar aquilo que muitos portugueses talvez pensem.
Fez mal.
Jornalista