As eleições já não são aquilo que eram. Bombardeados até à exaustão com informação e desinformação, com fronteiras cada vez mais fluidas, os eleitores tendem a decidir mais emocionalmente e em cima do ato eleitoral, minimizando o lastro ideológico das escolhas e relativizando ainda mais os diversos estudos de opinião, como os que daqui até 30 de janeiro serão profusamente divulgados.
Em condições normais estas eleições teriam pouca história e seriam uma oportunidade de confirmar o trajeto de controlo dos impactos e recuperação robusta que o Governo do PS têm conseguido concretizar, com reflexo nos diversos indicadores internacionais.
Não podemos, no entanto, menosprezar algumas características específicas deste pleito eleitoral que podem ter reflexo nos seus resultados finais. A primeira delas é a erosão natural de um Governo que assumiu com grande determinação seis anos de gestão em situação de extrema dificuldade. A segunda, é que os Partidos que durante esse período viabilizaram a governação estão a viver uma crise de identidade e mesmo de sobrevivência que os levam a ser capazes de fazer de tudo para se salvarem, até mesmo inviabilizar aquele que foi o Orçamento socialmente mais robusto e progressista da democracia portuguesa. A terceira, é que à direita não se configura um projeto ideológico alternativo, mas apenas um projeto de poder em alternância, e já vimos que em nome do poder tudo é possível, como se verificou na aliança espúria nos Açores.
O PS tem evidenciado e com fundamento que os maiores partidos que com ele concorrem nestas eleições se apresentam vazios de ideias. É verdade, e em parte é de propósito e isso não vai tornar mais fácil o desafio eleitoral para o Partido que se candidata para completar um programa sufragado em 2019, ajustado às novas circunstâncias e como já antes referi, com resultados de aplicação nacional e internacionalmente reconhecidos.
Dito isto, programas e manifestos credíveis e com qualidade e candidatos reconhecidos e bem reputados continuarão a ser fundamentais e a sua ausência uma fragilidade para quem não os apresentar. Essa será uma condição necessária, mas não suficiente para consolidar boas prestações eleitorais.
A minha intuição é que cada vez mais o fator autenticidade será a chave para fazer passar a mensagem política no meio da complexidade e do ruído. O exemplo ou pelo menos a perceção daquilo que é o exemplo, é o selo de garantia de que os cidadãos se valem para destrinçar o que lhe propõem com seriedade e o que lhes é tentado vender como propaganda ou “banha da cobra”.
Discursos autênticos não têm que ser pomposos, gritados, pejados de slogans ou anúncios bombásticos. Se tocarem o coração e a razão com a conta certa para que quem os houve se sinta parte do processo de democracia representativa em que vivemos, estaremos mais perto de honrar essa democracia, e quem os fizer estará mais perto de conseguir a confiança eleitoral que almeja.
O PS parte com a vantagem da autenticidade do que fez. Quem for mais autentico até ao último momento, nas palavras e nos atos, governará o país no próximo ciclo.
Eurodeputado do PS