Se há virtude que nunca abundou na personalidade de Jane Seymour Fonda, que cumprirá uns honrosos 84 anos no próximo dia 21, foi a paciência. Por tudo e por nada, a filha de uma célebre socialite nova-iorquina, Francis Ford Seymour, e do actor Peter Fonda, sentia a mostarda subir-lhe ao nariz e espinafrava a torto e a direito em sarivaris homéricos. Nesse dezembro de 1970, o Clube de Jornalistas de Hollywood resolveu premiá-la com a Maçã Azeda, troféu dedicado ao artista de cinema mais embirrento do ano. A citação que acompanhava a duvidosa distinção, limitava-se a uma frase curta: “Os cabeçalhos dos jornais explicam por si o galardão”. As mais de duzentas pessoas que enchiam a sala levantaram-se numa ovação estrepitosa.
No final da década de 1960, Jane Fonda tinha-se transformado numa rebelde de muitas causas. Aparecia em manifestações por tudo e por nada e contra tudo e contra nada. Talvez tivesse sido apanhada por um crescimento desmesurado do ego. Afinal já tinha sido nomeada no ano anterior para o Óscar de melhor actriz pelo seu papel em Os Cavalos Também se Abatem, de Sidney Pollack, e ganhou no mesmo ano a estatueta em Klute, de Alan J. Pakula – ganharia outra em 1978 com O Regresso dos Heróis, de Hal Ashby.
Seja como for, metia-se em sarilhos a torto e a direito e a sua carinha laroca de menina atrevida surgia nas manchetes dos jornais por proezas tão machonas como a de encher as canelas de um polícia de pontapés ao ser apanhada numa rusga a um grupo que transportava uns sacos de droga. Como era abertamente pela legalização da marijuana (pelo menos), tratou de fazer um escarcéu com a sua detenção em Cleveland, Ohio, em fevereiro desse ano. Espalhou as suas fotografias de criminosa por toda a parte e, como sempre, fez sucesso, não andasse ela, na altura, nas bocas do mundo.
Enquanto se preparava para assumir o papel de prostituta em Klute, resolveu por si própria rodear-se de profissionais do ramo, tendo aproveitado mais uma vez para provocar escândalos na tão falsamente puritana sociedade norte-americana. Depois da estreia, finalmente os elogios, como o da crítica de cinema Pauline Kael: “Nesta sua fantástica atuação, Jane desaparece por completo na personagem de Bree, de tal forma que o seu trabalho é de uma pureza desconcertante”. Pois… desconcertante sempre foi uma palavra que assentou, e bem, em Jane Fonda.