14 de dezembro de 1970. Uma maçã azeda e muita mostarda no nariz arrebitado…

14 de dezembro de 1970. Uma maçã azeda e muita mostarda no nariz arrebitado…


Foi um ano intenso para Jane Fonda. Os jornalistas consideravam-na a mais embirrenta das atrizes de Hollywood e ela metia-se em sarilhos por tudo e por nada até ser presa por agredir um polícia a pontapé. Ainda assim conseguiu o Óscar de melhor atriz no papel da “call girl” Bree, no filme Klute, de Alan…


Se há virtude que nunca abundou na personalidade de Jane Seymour Fonda, que cumprirá uns honrosos 84 anos no próximo dia 21, foi a paciência. Por tudo e por nada, a filha de uma célebre socialite nova-iorquina, Francis Ford Seymour, e do actor Peter Fonda, sentia a mostarda subir-lhe ao nariz e espinafrava a torto e a direito em sarivaris homéricos. Nesse dezembro de 1970, o Clube de Jornalistas de Hollywood resolveu premiá-la com a Maçã Azeda, troféu dedicado ao artista de cinema mais embirrento do ano. A citação que acompanhava a duvidosa distinção, limitava-se a uma frase curta: “Os cabeçalhos dos jornais explicam por si o galardão”. As mais de duzentas pessoas que enchiam a sala levantaram-se numa ovação estrepitosa.

No final da década de 1960, Jane Fonda tinha-se transformado numa rebelde de muitas causas. Aparecia em manifestações por tudo e por nada e contra tudo e contra nada. Talvez tivesse sido apanhada por um crescimento desmesurado do ego. Afinal já tinha sido nomeada no ano anterior para o Óscar de melhor actriz pelo seu papel em Os Cavalos Também se Abatem, de Sidney Pollack, e ganhou no mesmo ano a estatueta em Klute, de Alan J. Pakula – ganharia outra em 1978 com O Regresso dos Heróis, de Hal Ashby.

Seja como for, metia-se em sarilhos a torto e a direito e a sua carinha laroca de menina atrevida surgia nas manchetes dos jornais por proezas tão machonas como a de encher as canelas de um polícia de pontapés ao ser apanhada numa rusga a um grupo que transportava uns sacos de droga. Como era abertamente pela legalização da marijuana (pelo menos), tratou de fazer um escarcéu com a sua detenção em Cleveland, Ohio, em fevereiro desse ano. Espalhou as suas fotografias de criminosa por toda a parte e, como sempre, fez sucesso, não andasse ela, na altura, nas bocas do mundo.

Enquanto se preparava para assumir o papel de prostituta em Klute, resolveu por si própria rodear-se de profissionais do ramo, tendo aproveitado mais uma vez para provocar escândalos na tão falsamente puritana sociedade norte-americana. Depois da estreia, finalmente os elogios, como o da crítica de cinema Pauline Kael: “Nesta sua fantástica atuação, Jane desaparece por completo na personagem de Bree, de tal forma que o seu trabalho é de uma pureza desconcertante”. Pois… desconcertante sempre foi uma palavra que assentou, e bem, em Jane Fonda.