E se a TINA passar a TIA?


Margaret Thatcher simboliza, com Ronald Reagan, o triunfo do liberalismo nos anos 80 do século passado, e a sua célebre frase significa que, na sua perspetiva, não havia alternativa às leis do mercado, ao capitalismo, ao liberalismo.


Para começar, convém recordar o significado do acrónimo TINA.

Se se recordam ainda do consulado da senhora Thatcher (1979-1990), terão certamente na memória a célebre frase “There is no alternative”, que gerou TINA.

Margaret Thatcher simboliza, com Ronald Reagan, o triunfo do liberalismo nos anos 80 do século passado, e a sua célebre frase significa que, na sua perspetiva, não havia alternativa às leis do mercado, ao capitalismo, ao liberalismo. Na prática, não havia alternativa ao seu governo e à sua política.

Em 1989, o cientista político e economista norte-americano Francis Fukuyama, um dos principais assessores intelectuais do Presidente Ronald Reagan, publicava na revista The National Interest o artigo O fim da história?, onde defendia que o mundo seria capitalista e com a democracia liberal como regime definitivo, o que significava, regressando à teoria hegeliana, o fim da história.

Na verdade, o mundo bipolar que nascera do final da II Guerra Mundial estava a terminar no final dos anos 80, início dos anos 90, com a decadência da URSS, a simbólica queda do muro de Berlim, o fim de ditaduras na América Latina, contribuindo desta forma para o crescimento da terceira vaga democrática, descrita por Samuel Huntington, e que foi iniciada pela revolução de 25 de Abril, em Portugal.

Tudo fazia crer, para Fukuyama, que o mundo caminharia para um regime único: a democracia liberal e o capitalismo que lhe está associado.

Em 2007, o historiador Eric Hobsbawm afirmou: “Quando caiu o muro de Berlim, um americano incauto anunciou o fim da história. Evito, portanto, usar uma expressão tão claramente desacreditada.”

No entanto, a questão que se coloca hoje é se os regimes democráticos liberais criaram sociedades nas quais os cidadãos se sentem verdadeiramente satisfeitos e, na ótica aristotélica, felizes.

Quatro anos depois, em 2011, o filósofo esloveno Slavoj Zizek admitia que Fukuyama não estava totalmente errado: “É fácil rir da noção de fim da história de Fukuyama, mas o ethos dominante hoje é “fukuyamiano”: o capitalismo democrático-liberal é aceite como a fórmula da melhor sociedade possível que finalmente se encontrou – só resta torná-lo mais justo, mais tolerante etc..”

Mas é o próprio Fukuyama quem, reconhecendo algum exagero na sua tese, afirma que, afinal, há qualquer coisa de novo, “algo estranho”, que estaria a acontecer, na sequência da crise de 2008.

Assim, seriam os movimentos de extrema-direita, populistas, que se estariam a assumir como única alternativa.

Isto é, a TIA (There is alternative) pode ser um verdadeiro pesadelo.

 

Jornalista