Allô, allô, D. Rosa. Ganhou o mais perigoso para o PS e o melhor para o país?


A grande questão está em saber se o PS vai procurar esse equilíbrio ou se vai continuar a alimentar internamente uma narrativa e uma mutação de posicionamento em sentido contrário. 


Por efeito da pandemia, do cansaço dos eleitores ou da inconsistência dos governos para responder à diversidade de realidades que caracterizam o país, algo está a mudar.

Os portugueses são dados a pouca participação cívica. No essencial, os que votam fazem-no para que alguém trate da governação do país, da região, do concelho ou da freguesia, sem os chatear ao longo do mandato, e os que não votam revelam indiferença pela gestão comum, preferindo passar o tempo entre eleições a queixarem-se das opções políticas, das injustiças e do que os media aportam, nem sempre com rigor, equidade e transparência.

Ao longo dos últimos anos consagrou-se uma certa linha política de imposição das vontades, das opções, dos humores ou das visões de circunstância, assentes na incapacidade de olhar para o outro e construir compromissos. Essa deriva levou a que uns prescindissem de outros em determinados momentos, mas a eles recorressem em situação de desespero, de emergência ou de oportunismo. Essa realidade presente na austeridade além da Troika, nas opções políticas à margem da concertação social, na lógica proibicionista e de imposição de perspetivas parciais de intolerância perante a diferença e de promoção da divergência inconsequente, conduziu-nos à crise política que vivemos. E sempre com os media a desempenharem o papel de catalisadores de virtualidades, ora por proximidade aos poderes e interesses, ora por estado de necessidade de promoção do que vende na banca, nas audiências ou no online.

A realidade aparenta estar a mudar. A imposição já não está a ditar toda a lei. Há mercado para o compromisso. Os media já nem conseguem eleger um Presidente do PSD quanto mais um Presidente da República. A realidade tornou-se difusa, aconselhando o compromisso e nos equilíbrios. 

É por isso que, ao invés do que foi sustentado por quem formalmente manda no PS durante os últimos anos, o esforço agora é o de manter todas as opções de diálogo em aberto para o pós-eleições e de recentrar o posicionamento do partido.

É por isso que Rui Rio, que tem um valor facial superior ao valor real em matéria de seriedade, ganhou as eleições internas a um candidato promovido pelos media e se posiciona em simultâneo como o problema e a solução para António Costa. Para o quadro mental e político do país, Rui Rio é o mais perigoso para o PS e o melhor para o país. É um homem de compromisso, embora internamente seja de imposição, também com as suas ideias feitas e aplicadas sem olhar a meios. 

É perigoso porque surge como um moderado, responsável e com sentido do interesse nacional. Não assusta ninguém, sob o ponto de vista de quem contribui para as vitórias eleitorais, ainda que não hesite em convergir com o CHEGA como já fez nos Açores e fará no país se necessário para aceder ao poder, ganhando.

É o melhor porque num cenário previsível de pulverização do quadro parlamentar está disponível para o compromisso com o PS,  como fez em várias ocasiões nos últimos anos, com mais contestação no PSD do que entre os arautos da esquerda à esquerda no PS. Quando foi para salvar a governação, a manutenção no poder por via de um votinho do PSD no parlamento, nunca houve pruridos ideológicos ou amor à deriva da geringonça.

Rui Rio, que não era a opção de liderança de Marcelo Rebelo de Sousa, militante do PSD e Presidente da República – convém lembrar aos socialistas que nele votaram –, reforça o posicionamento para ser a solução da crise política gerada pelos parceiros da geringonça, ganhe ou perca a 30 de janeiro, salvando o titular de Belém de um imbróglio em que foi parte ativa.

E sim, os cenários eleitorais estão em aberto, pelo cansaço eleitoral que fervilha, pelos fatores que não são controlados pelo Governo e pela dimensão moderada do valor facial de Rui Rio, apesar de afrontar alguns dos poderes em queda: a justiça, os media e o centralismo democrático dos poderes que, além de Lisboa, vislumbram só paisagem no resto do país.

A predisposição para o compromisso pode ser o fator decisivo das próximas eleições, daí que António Costa já esteja em mutação genética de todo o amor à esquerda para predisposição para relacionamentos com todos, excluindo o CHEGA, e Rui Rio, alavancado em caciques com pedigree de eficácia na movimentação das bases, tenha ganho as eleições internas, posicionando-se como a solução alternativa moderada. Constatada esta aparente sintonia entre o desejo de compromisso e moderação da maioria dos militantes do PSD com os desejos do país, a grande questão está em saber se o PS vai procurar esse equilíbrio ou se vai continuar a alimentar internamente uma narrativa e uma mutação de posicionamento em sentido contrário. Com maior ou menor visibilidade pública, os dois grandes partidos da democracia portuguesa apresentam fissuras de coesão na militância que precisam de ser mitigadas num quadro de tolerância com a diferença, inclusão e equilíbrio. Não o fazer significa ampliar o risco de cisão e desfasamento, desde logo, com a realidade do país. Equilíbrio, bom senso e soluções 360 graus, precisam-se.

NOTAS FINAIS
O VOTO CONTRA IRREVOGÁVEL DO CHEGA NOS AÇORES // O PS não quis ou não soube aproveitar a trepidação política do Governo de direita nos Açores, com a simulação de ameaça de voto contra do CHEGA ao orçamento regional. Ao não o fazer, não maculou a alternativa de direita na República, depois da implosão da geringonça na atual legislatura, e permitiu um acréscimo de perceção eleitoral de sentido de responsabilidade à extrema direita. Tudo mal.

O INACREDITÁVEL NO JAMOR E FORA DELE // Por vezes parece que o país se move a Benfica. As realidades só existem estando o Benfica na equação. Vivemos sob a ameaça do vírus há dois anos, não conseguimos fazer uma Lei de Emergência Sanitária nem alterar os Regulamentos para definir o que fazer em caso de surto em mais de 50% dos plantéis e equipas técnicas. As virgens ofendidas e indignadas andaram semanas, meses e anos a gozar com os impactos da Covid-19 na equipa do Benfica no ano passado. Estiveram indiferentes à recusa do Nacional em adiar um jogo. Despertaram agora para a vida e para a vergonha na cara. É a mansidão corrente e o sobressalto ocasional que destroem o país.

UM PAÍS SEM CRITÉRIO E SENSO. ORDEM PARA IMPLODIR // A falta de critério, nos media, na política e no país é assustadora. Uns são notícias só porque vendem, outros não são notícia porque não geram audiências. Uns são presos por suspeitas, outros por suspeitas maiores não são incomodados por estarem em territórios em que não vigora o Estado de Direito na plenitude. Uns e outros embarcam em campanhas orquestradas por interesses para destruir políticos e instituições, indo tudo com a água do banho. Da saúde à Defesa Nacional, da esquina da rua ao país como um todo, a ordem é para implodir, pela crítica inconsequente, a meia verdade ou a falsidade.

Escreve à segunda-feira

Allô, allô, D. Rosa. Ganhou o mais perigoso para o PS e o melhor para o país?


A grande questão está em saber se o PS vai procurar esse equilíbrio ou se vai continuar a alimentar internamente uma narrativa e uma mutação de posicionamento em sentido contrário. 


Por efeito da pandemia, do cansaço dos eleitores ou da inconsistência dos governos para responder à diversidade de realidades que caracterizam o país, algo está a mudar.

Os portugueses são dados a pouca participação cívica. No essencial, os que votam fazem-no para que alguém trate da governação do país, da região, do concelho ou da freguesia, sem os chatear ao longo do mandato, e os que não votam revelam indiferença pela gestão comum, preferindo passar o tempo entre eleições a queixarem-se das opções políticas, das injustiças e do que os media aportam, nem sempre com rigor, equidade e transparência.

Ao longo dos últimos anos consagrou-se uma certa linha política de imposição das vontades, das opções, dos humores ou das visões de circunstância, assentes na incapacidade de olhar para o outro e construir compromissos. Essa deriva levou a que uns prescindissem de outros em determinados momentos, mas a eles recorressem em situação de desespero, de emergência ou de oportunismo. Essa realidade presente na austeridade além da Troika, nas opções políticas à margem da concertação social, na lógica proibicionista e de imposição de perspetivas parciais de intolerância perante a diferença e de promoção da divergência inconsequente, conduziu-nos à crise política que vivemos. E sempre com os media a desempenharem o papel de catalisadores de virtualidades, ora por proximidade aos poderes e interesses, ora por estado de necessidade de promoção do que vende na banca, nas audiências ou no online.

A realidade aparenta estar a mudar. A imposição já não está a ditar toda a lei. Há mercado para o compromisso. Os media já nem conseguem eleger um Presidente do PSD quanto mais um Presidente da República. A realidade tornou-se difusa, aconselhando o compromisso e nos equilíbrios. 

É por isso que, ao invés do que foi sustentado por quem formalmente manda no PS durante os últimos anos, o esforço agora é o de manter todas as opções de diálogo em aberto para o pós-eleições e de recentrar o posicionamento do partido.

É por isso que Rui Rio, que tem um valor facial superior ao valor real em matéria de seriedade, ganhou as eleições internas a um candidato promovido pelos media e se posiciona em simultâneo como o problema e a solução para António Costa. Para o quadro mental e político do país, Rui Rio é o mais perigoso para o PS e o melhor para o país. É um homem de compromisso, embora internamente seja de imposição, também com as suas ideias feitas e aplicadas sem olhar a meios. 

É perigoso porque surge como um moderado, responsável e com sentido do interesse nacional. Não assusta ninguém, sob o ponto de vista de quem contribui para as vitórias eleitorais, ainda que não hesite em convergir com o CHEGA como já fez nos Açores e fará no país se necessário para aceder ao poder, ganhando.

É o melhor porque num cenário previsível de pulverização do quadro parlamentar está disponível para o compromisso com o PS,  como fez em várias ocasiões nos últimos anos, com mais contestação no PSD do que entre os arautos da esquerda à esquerda no PS. Quando foi para salvar a governação, a manutenção no poder por via de um votinho do PSD no parlamento, nunca houve pruridos ideológicos ou amor à deriva da geringonça.

Rui Rio, que não era a opção de liderança de Marcelo Rebelo de Sousa, militante do PSD e Presidente da República – convém lembrar aos socialistas que nele votaram –, reforça o posicionamento para ser a solução da crise política gerada pelos parceiros da geringonça, ganhe ou perca a 30 de janeiro, salvando o titular de Belém de um imbróglio em que foi parte ativa.

E sim, os cenários eleitorais estão em aberto, pelo cansaço eleitoral que fervilha, pelos fatores que não são controlados pelo Governo e pela dimensão moderada do valor facial de Rui Rio, apesar de afrontar alguns dos poderes em queda: a justiça, os media e o centralismo democrático dos poderes que, além de Lisboa, vislumbram só paisagem no resto do país.

A predisposição para o compromisso pode ser o fator decisivo das próximas eleições, daí que António Costa já esteja em mutação genética de todo o amor à esquerda para predisposição para relacionamentos com todos, excluindo o CHEGA, e Rui Rio, alavancado em caciques com pedigree de eficácia na movimentação das bases, tenha ganho as eleições internas, posicionando-se como a solução alternativa moderada. Constatada esta aparente sintonia entre o desejo de compromisso e moderação da maioria dos militantes do PSD com os desejos do país, a grande questão está em saber se o PS vai procurar esse equilíbrio ou se vai continuar a alimentar internamente uma narrativa e uma mutação de posicionamento em sentido contrário. Com maior ou menor visibilidade pública, os dois grandes partidos da democracia portuguesa apresentam fissuras de coesão na militância que precisam de ser mitigadas num quadro de tolerância com a diferença, inclusão e equilíbrio. Não o fazer significa ampliar o risco de cisão e desfasamento, desde logo, com a realidade do país. Equilíbrio, bom senso e soluções 360 graus, precisam-se.

NOTAS FINAIS
O VOTO CONTRA IRREVOGÁVEL DO CHEGA NOS AÇORES // O PS não quis ou não soube aproveitar a trepidação política do Governo de direita nos Açores, com a simulação de ameaça de voto contra do CHEGA ao orçamento regional. Ao não o fazer, não maculou a alternativa de direita na República, depois da implosão da geringonça na atual legislatura, e permitiu um acréscimo de perceção eleitoral de sentido de responsabilidade à extrema direita. Tudo mal.

O INACREDITÁVEL NO JAMOR E FORA DELE // Por vezes parece que o país se move a Benfica. As realidades só existem estando o Benfica na equação. Vivemos sob a ameaça do vírus há dois anos, não conseguimos fazer uma Lei de Emergência Sanitária nem alterar os Regulamentos para definir o que fazer em caso de surto em mais de 50% dos plantéis e equipas técnicas. As virgens ofendidas e indignadas andaram semanas, meses e anos a gozar com os impactos da Covid-19 na equipa do Benfica no ano passado. Estiveram indiferentes à recusa do Nacional em adiar um jogo. Despertaram agora para a vida e para a vergonha na cara. É a mansidão corrente e o sobressalto ocasional que destroem o país.

UM PAÍS SEM CRITÉRIO E SENSO. ORDEM PARA IMPLODIR // A falta de critério, nos media, na política e no país é assustadora. Uns são notícias só porque vendem, outros não são notícia porque não geram audiências. Uns são presos por suspeitas, outros por suspeitas maiores não são incomodados por estarem em territórios em que não vigora o Estado de Direito na plenitude. Uns e outros embarcam em campanhas orquestradas por interesses para destruir políticos e instituições, indo tudo com a água do banho. Da saúde à Defesa Nacional, da esquina da rua ao país como um todo, a ordem é para implodir, pela crítica inconsequente, a meia verdade ou a falsidade.

Escreve à segunda-feira