Foram precisas inúmeras rejeições antes que Wilbur Smith lançasse uma das mais prolíficas carreiras literárias das últimas décadas, tendo publicado ao todo 49 títulos, traduzidos em mais de 30 idiomas com vendas que ascenderam aos 140 milhões de exemplares, e desde cedo viu boa parte deles adaptados à televisão e ao cinema. É preciso recuar a 1964, quando o escritor então desconhecido provou feroz determinação em que o seu manuscrito fosse levado a sério, sendo que, na altura, os editores andavam à procura de um novo Hemingway e não de romances cheios de fanfarronadas ambientados em locais exóticos, do antigo Egito à África colonial, com o género de tramas que pareciam empenhadas em riscar todas as caixas no que toca ao romance de aventuras, com amantes, famílias disfuncionais e gananciosas, piratas e caçadores.
O escritor morreu no passado dia 18 de novembro em casa, na Cidade do Cabo, na África do Sul. Tinha 88 anos. A notícia foi avançada pelo seu site, que não adiantou a causa da morte.
Ao longo de mais de cinco décadas, os thrillers históricos e romances de aventura pelos quais Smith ficou conhecido, tornaram-se uma pequena indústria nascida da torrencial e fervorosa imaginação de um homem só, sendo que os seus romances, que muitas vezes abrangem várias gerações, com a ação a desenrolar-se em vários continentes, se alargaram entre sequelas e sequências narrativas, aparafusando na trama todo o tipo de elementos que possam produzir uma sensação de efusividade, dominando os impulsos do leitor.
Numa recensão ao livro Caçadores de Diamantes, no The New York Times Book Review em 1972, Martin Levin escreveu que “o potpourri que Wilbur Smith artilhou está pejado de equívocos que se arrastam por toda uma vida, ódios imorredouros, esquemas incrivelmente perversos e resgates que se dão mesmo na hora H –sendo estes servidos com a sinceridade impassível dos grandes nomes da pulp. ” Se Smith nunca alcançou o prestígio dos escritores que premiados e que deliciam a crítica, o certo é que se os seus romances eram desprezados como meras bodegas para entreter leitores ávidos de intrigas alucinantes, provou que , com uma máquina bem oleada, há muitas maneiras de se levar água ao moinhos dos leitores.
Nascido a 9 de Janeiro de 1933 na Zâmbia, antiga Rodésia do Norte, Wilbur Smith foi criado numa imensa fazenda de gado, mas cedo se mudou para a África do Sul, onde trabalhou como jornalista e contabilista antes de se dedicar inteiramente à literatura.