Covid-19. Serviços e comércio começam a registar quebras

Covid-19. Serviços e comércio começam a registar quebras


O aumento de número de casos de covid-19 em Portugal faz aumentar o receio dos consumidores e as empresas já começam a notá-lo. Por isso, a Fixando não tem dúvidas: a incerteza associada às restrições já se faz sentir na procura por serviços. E no comércio os estragos também já começam a sentir-se. Vendas online podem sair a…


“Pode ser apenas coincidência, mas não acredito que seja. Desde a reunião do Infarmed, tenho tido menos clientes”. A garantia é dada ao i por uma proprietária de um café nos arredores de Lisboa. “Não acredito que tenhamos mais restrições, pelo menos tão exigentes. Mas é certo que as pessoas continuam com medo, isto ainda não passou e as notícias que nos chegam não só do dia-a-dia português como também da Europa levam a que as pessoas tenham mais cuidado”. 

Cuidado que, na opinião desta empresária, trará menos clientes ao espaço de restauração e similares e que, se assim continuar, teme pelo futuro. “Penámos muito até aqui e estávamos a começar a seguir um caminho seguro com o país a funcionar na normalidade. Agora vamos ver”.

Mas não são só os estabelecimentos de restauração que já estão a sofrer com o progresso da pandemia. O i sabe que são vários os taxistas da zona de Lisboa que na última semana têm notado uma redução grande no número de clientes.

Mas desde que a covid-19 começou a alastrar-se na Europa central as reservas em alguns hotéis desceram significativamente. “Agora, muitos dos clientes só reservam se puderam anular em cima do dia e sem terem custos”, diz ao i um hoteleiro de Lisboa.  

Por isso, é caso para dizer que, mesmo não havendo novas restrições, há já quem sinta na pele novos problemas que a covid-19 está a trazer ao país no comércio e nos serviços. A Fixando – plataforma que liga clientes a especialistas no setor dos serviços – não tem dúvidas que o mercado está “assustado” e os consumidores “indecisos”. O aumento do número de casos covid, crescimento de internamentos e medidas de restrição sugeridas pelos especialistas já estão a fazer estragos. 

Desde a reunião do Infarmed, que decorreu na passada sexta-feira, foi registada uma quebra na procura de serviços na ordem dos 24% face à sexta-feira da semana anterior e ainda uma quebra no envio de propostas por parte dos especialistas na ordem dos 27%. 

A Fixando tem ainda uma previsão mais pessimista, prevendo quebras no negócio superiores a 50%.

Para Alice Nunes, diretora de Novos Negócios da Fixando, não há dúvidas que “estes números refletem uma tendência já verificada noutros momentos de incerteza pandémica”. Ou seja: “os portugueses adiam as suas necessidades e projetos para perceber melhor o futuro, o que acaba por resultar numa concentração posterior de procura, que leva a uma subida de preços e a uma falta de capacidade de resposta por parte dos especialistas”.

E as projeções para um futuro próximo não são as melhores: “Mantendo-se esta situação de incerteza por mais uma semana, e consequente quebra na procura e na oferta, projetamos que o setor dos serviços volte a retrair-se e que, ao contrário do esperado, não consiga atingir os valores pré-pandemia”. 

Online a crescer A tendência de procura pelo comércio online não é uma novidade. A pandemia veio fazer com que cada vez mais pessoas preferissem o e-commerce e esta é uma tendência que chegou para ficar. 

O site de comércio eletrónico Insania refere que a “utilização da máscara não afeta os negócios, mas o teletrabalho e as limitações no número de pessoas em espaços fechados tem um impacto negativo no comércio de rua e um impacto positivo no e-commerce, porque é no digital que o consumidor vai encontrar aquilo que procura: facilidade, rapidez e conveniência”, defende.

Para Maria Amélia Teixeira, CEO do Insania, apesar da incerteza vivida nas últimas semanas, o que se nota agora “são os efeitos negativos dos sucessivos confinamentos, desde o aumento da inflação à falta de matéria-prima, e dificuldades nas entregas que podem não chegar até ao Natal”, o que levou a empresa a abrir um centro logístico e a reforçar o stock de produtos.

Do lado da euPago – fintech portuguesa dedicada aos pagamentos online – existe a crença de que Portugal não vai voltar a contar com medidas tão restritivas como as que viu no ano passado. Telmo Santos, CEO da fintech, diz que “as vendas online ajudaram os negócios a ultrapassar a crise, embora tenha havido uma quebra acentuada de mais de 30%, em 2021, que se agravaram com a fim dos confinamentos, dado que as pessoas começaram a comprar menos online para passarem a comprar mais no comércio tradicional”.

Ao i, Tânia Oliveira, que trabalha na área do design, confessa que o aumento de casos de covid-19 a tem assustado. “Somos consumidores por natureza e ir às compras até acaba por ser uma distração” mas com este aumento de casos, prefere fazê-lo online.

“Nunca apanhei covid mas acho que mais vale prevenir que remediar. Se posso continuar a fazer todas as minhas compras no conforto do meu lar sem me colocar – a mim e à minha família – numa situação de risco, então prefiro que seja assim”, confessa a jovem. E acrescenta: “Percebo que os espaços precisem das pessoas, que precisem do nosso consumo para sobreviver. Mas nós também temos o dever de nos proteger”.

O que se passa no país O aumento do número de casos de covid-19 em Portugal, levou os especialitas na última reunião do Infarmed a defenderam várias medidas preventivas como o teletrabalho, o uso de máscaras na rua ou a diminuição de pessoas em espaço fechados.

A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) já se tinha mostrado preocupada com possíveis restrições e agora a Pro.var partilha as mesmas preocupações. Assim, a Associação Nacional de Restaurantes criou o novo selo “Restauração Segura” que tem como principal objetivo evitar novas restrições.

A ideia passa por comprometer os clientes no cumprimento rigoroso das regras, antecipando as medidas que irão ser anunciadas pelo Governo. Ciente de que o aumento de casos causa preocupação aos proprietários dos restaurantes diz que esta medida prevê “obter a melhor experiência gastronómica, mas em segurança”.

A Pro.var “não se opõe à exigência dos certificados válidos para a frequência nos restaurantes”, mas recusa que este controlo seja feito à entrada dos mesmos, defendendo que essa responsabilidade deve passar para os clientes como acontecera no passado, com a limitação de lugares para os coabitantes, devem ser os cliente a assumirem esse cumprimento e caso não se venha a verificar, serem alvo de coimas”.