Biliões de pessoas


O líder do fórum das Ilhas do Pacífico transmitiu-me um agradecimento formal por sentir que a “União Europeia está fornecendo liderança ao mundo” na transição verde.


Durante e depois da Conferência do Clima que decorreu em Glasgow fomos de novo bombardeados com números impressionantes. Números sobre a ambição de redução de emissões necessária para salvar o planeta e números sobre os investimentos e os apoios que terão que ser disponibilizados para que a transição seja justa e para que não sejam os mais pobres a pagar o bem-estar e sustentabilidade do modelo de vida dos mais ricos. Números que por si só não foram convincentes e deixaram no ar um sentimento de fragilidade em relação ao acordo conseguido, com muitas palavras e poucas certezas.

Já escrevi várias vezes e reitero que o combate bem-sucedido ao processo de alterações climáticas exige condução política forte e articulada na comunidade internacional e uma enorme mobilização de recursos científicos e de capacidade de inovação, mas tem como ponto mais crítico o necessário envolvimento das pessoas como protagonistas da mudança e não apenas como espetadores de uma encenação feita à sua revelia.

A Assembleia Parlamentar Paritária ACP/UE a que copresido pelo lado UE também se associou à Conferência do Clima produzindo um contributo em linha com o que referi no parágrafo anterior. No regresso da Conferência, o Presidente do Fórum das Ilhas do Pacífico reuniu comigo em Bruxelas para avaliarmos os resultados da cimeira e o seu impacto na salvaguarda daquelas ilhas, que estão na primeira linha do risco climático global, algumas delas em risco de desaparecimento por submersão a não muito longo prazo se os objetivos do acordo não forem alcançados.

Falámos, como seria inevitável, dos números alcançados no acordo e nos compromissos com a redução de emissões e com a compensação do esforço dos países menos desenvolvidos, mas a mensagem partilhada foi muito para além dos números.

O líder do fórum das Ilhas do Pacífico transmitiu-me um agradecimento formal por sentir que a “União Europeia está fornecendo liderança ao mundo” na transição verde, e também por ter a expectativa de que essa liderança se reflita na disponibilização dos fundos e dos recursos necessários, com especial ênfase no apoio aos cidadãos mais vulneráveis daqueles territórios sobre forte pressão.

A liderança europeia na transição verde resulta sobretudo da capacidade de fazer diferente, de apostar num pacto ecológico transversal a todas as políticas, com um forte impulso na transição energética e em todas as tecnologias que lhe estão associadas. Traduzir isso para o plano global implica que a liderança seja multilateral e focada nas pessoas.

O “blá blá blá” repetitivo sobre biliões e biliões de Euros (ou outra moeda convertível), que muitas vezes se perdem nas malhas da predação e não chegam a quem deles mais precisa, tem que ser substituído pela ação concreta capaz de fazer com que biliões de pessoas acedam aos ditos recursos, permitindo-lhes terem uma vida digna e assim poderem ser protagonistas da batalha pela sustentabilidade das suas comunidades, dos seus territórios e do planeta, que só com eles poderá ser vencida.

 

Eurodeputado do PS