Se recuarmos até 2008, ao visionamento do filme Tyson, que deu a conhecer a vida daquele que é, até hoje, um dos homens “mais temidos de todos os tempos”, ouvimo-lo com a voz trémula, como se recuasse até às ruas de Brownsville, em Brooklyn, lugar onde sofreu de bullying durante toda a sua infância. “Quem conhece sabe que é um lugar de ódio. Era matar ou morrer. Tinha medo de toda a gente. Queria saber lutar! Eu até sabia, mas nessa altura tinha medo!”, revelou Mike Tyson, lembrando os tempos da infância que lhe foi roubada pelo abandono do pai e pela entrada precoce no mundo do crime. Agora, com 55 anos e depois de uma carreira controversa repleta de conquistas, sempre aliadas à falta de disciplina que acabou inclusive por lhe custar a liberdade, o pugilista americano volta a surpreender. Não por se ter convertido ao islamismo, mordido a orelha do adversário ou gasto centenas de dólares em pombos, mas sim por ter declarado em entrevista ao New York Post, que consome veneno de sapo e que isso fez com que a sua vida melhorasse “por completo”.
O VENENO DE SAPO O antigo atleta revelou que teve o primeiro contacto com a substância há quatro anos, influenciado por um amigo e numa altura em que possuía 45 quilos a mais e consumia álcool e droga em excesso. “Fi-lo como um desafio”, admitiu, acrescentando que, nesse momento, estava a consumir drogas pesadas, como cocaína, e por isso, pensou: “Porque não? É outra dimensão”. Segundo o mesmo, “o anfíbio tem substâncias com propriedades psicoativas que são estudadas pelos cientistas”. Embora ainda não tenha resultados sólidos, o pugilista conta que “a gosma já foi capaz de reduzir sintomas de depressão e de ansiedade nos participantes de uma experiência”.
“Antes do sapo, estava um caco. O adversário mais difícil que alguma vez enfrentei fui eu mesmo. Tinha baixa auto estima. As pessoas com grandes egos costumam ter baixa auto estima. Usamos o nosso ego para minimizar isso. O sapo despe o ego”, contou Tyson, revelando que desde então já consumiu a droga em 53 ocasiões. “Sempre que consumi, vi que a morte é linda. A vida e a morte têm de ser lindas mas a morte tem má reputação. O sapo ensinou-me que não vou estar aqui para sempre. Existe uma data de validade. E tornou-me mais criativo, ajudou-me a focar. Estou mais presente enquanto empresário e empreendedor”, elucidou. Depois de começar a consumir, revela Tyson, perdeu os tais 45 quilos a mais, em três meses, voltou ao boxe e recuperou a ligação com a mulher e os filhos. “As pessoas veem a diferença. Se me conhecessem em 1989, conheciam uma pessoa diferente. A minha mente não é sofisticada o suficiente para perceber o que aconteceu mas a vida melhorou. O propósito do sapo é chegares ao teu máximo potencial. Olho para o mundo de forma diferente. Somos todos iguais. Tudo é amor”, partilhou.
Trata-se do chamado bufo alvarius, também conhecido como Sapo do Rio Colorado, uma espécie que vive no Deserto de Sonora, nos Estados Unidos. Este vive sete meses do ano debaixo de terra e produz substâncias psicoativas através do veneno e da pele, sendo utilizado há muito tempo em rituais curativos tradicionais.
Atualmente, Tyson já tem mesmo uma produção deste tipo de sapos no rancho que de Desert Hot Springs, no sul da Califórnia, estando cada vez mais envolvido nas organizações que defendem a descriminalização das substâncias psicadélicas e a sua utilização na medicina.
No mês passado, já o desportista havia afirmado ao The Sun que gostaria que a Grã-Bretanha legalizasse a canábis “para ajudar as pessoas com crises de saúde mental”. “Uma vez sendo legalizada no Reino Unido, não será necessário voltar a preocupar-se com todas as prescrições de drogas que deixam todos loucos e cometendo o suicídio. Isso vai parar de maneira imediata”, acredita o lendário pugilista que é dono de uma marca de produtos relacionados diretamente com a canábis e que, neste momento, é uma das suas principais fontes de rendimento. Segundo revelou o ‘Cheat Sheet’, o antigo pugilista fatura pouco mais de 410 mil euros por mês com a produção da erva para efeitos medicinais, num rancho na Califórnia com a dimensão de 16 hectares.
A entrada neste negócio, em 2016, ajudou mesmo o norte-americano a recuperar-se financeiramente, depois de em 2003 ter declarado falência. Depois de problemas com adição a drogas pesadas, como a cocaína, a canábis medicinal acabou por ajudar no seu equilíbrio mental. “Mudou-lhe a vida”, confessou o sócio Rob Hickman à GQ.
A infância conturbada Michael Gerard Tyson nasceu a 30 de junho de 1966, no Brooklyn, Nova Iorque. Filho de Jimmy Kirkpatrick e Lorna Tyson, o pai abandonou a família quando este tinha apenas dois anos, deixando à mãe a tarefa de criar e educar Tyson e os seus dois irmãos, Rodney e Denise. Lutando para sustentar a família, Lorna tomou a decisão de se mudar para Brownsville, um bairro conhecido, na altura, pelo alto nível de criminalidade.
Baixinho e tímido, Tyson era alvo constante de bullying. E, para se defender, conheceu o seu lado mais “sombrio” precocemente. Aos 11 anos, começou então a fazer parte de gangues de rua, onde a sua principal tarefa era “limpar caixas registadoras” enquanto os membros mais velhos apontavam as armas às vítimas. Aos 13, o jovem já havia sido preso mais de 30 vezes.
Tyson foi parar a um reformatório, local onde conheceu o seu futuro orientador, Bob Stewart, que havia sido um campeão de boxe amador. Tyson queria que Stewart o ensinasse a usar os punhos. Contudo, o ex-pugilista afirmava só aceitar a proposta na condição de que Mike ficasse longe dos antigos problemas e se dedicasse aos estudos. Em 1980, tendo Tyson cumprido com o prometido, Stewart já lhe havia ensinado tudo o que sabia. Por isso, o orientador resolveu apresentá-lo ao lendário empresário do boxe Constantine “Cus” D’Amato, que tinha um ginásio em Catskill, Nova Iorque. Não foi preciso muito até que a relação entre ambos, para além de profissional, se tornasse paternal – quando saiu do reformatório, aos 14 anos, Tyson passou a viver sob custódia de D’Amato.
A LENDA Em março de 1985, dá-se a sua estreia profissional em Albany, Nova Iorque, contra Hector Mercedes. Aos 18 anos, o aspirante a campeão derrubou o adversário no primeiro round. Nesse mesmo ano, D’Amato morreu de pneumonia e o pugilista ficou abalado com a perda do homem que considerava um pai adotivo. Por sua vez, Kevin Rooney assumiu o lugar de D’Amato como treinador e em duas semanas Tyson retomou a sua carreira. Em 1986, aos 20 anos, já detinha um recorde de 22 vitórias e nenhuma derrota – 21 das lutas haviam sido vencidas por K.O. Em 22 de novembro desse ano, atingiu aquele que era o seu maior objetivo da época: o seu primeiro título mundial ao derrotar Trevor Berbick por nocaute no segundo round pelo World Boxing Council. Aos 20 anos e quatro meses, Mike tornou-se o campeão mundial mais jovem. No ano seguinte, conquistou também os títulos mundiais da Federação Internacional de Boxe e da Associação Mundial de Boxe e em 1988 venceu três combates contra pugilistas de renome. Todos por K.O. antes do quarto assalto.
A CONSTANTE INDISCIPLINA Em julho de 1991 o pugilista fez parte do júri do concurso Miss América, onde acabou por ser acusado de violação por uma das participantes, Desiree Washington. Um ano depois, acabou por ser condenado a seis anos de prisão, mas tendo sido libertado a metade da pena por bom comportamento. O seu período na prisão foi conturbado, e o ator revelou que foi nesse momento que se converteu ao islamismo, adotando o nome de Malik Abdul Aziz. Lá, Mike estudou filosofia e a história do boxe, e tatuou a figura de Mao Tsé-Tung no braço.
Um dos acontecimentos mais mediáticos na vida do desportista foi a luta contra Evander Holyfield, que havia conquistado o título dos pesos-pesados ao derrotar Buster Douglas. A 28 de julho de 1997, em cima do ringue e num momento de descontrolo, Tyson mordeu e arrancou um pedaço da orelha de Holyfield, acontecimento que o fez ser punido com a perda da sua licença de pugilista, além do pagamento de uma multa de 2,67 milhões de euros. Mais recentemente, um antigo confidente e motorista de Tyson, Rudy Gonzalez, revelou ao The Sun, que para que o pugilista não matasse o seu adversário dentro do ringue, Tyson, precisava de fazer sexo antes das lutas. E as raparigas escolhidas para o fazer eram fãs.
“Um dos maiores segredos que eu tinha com o Mike era que ele precisava de fazer sexo no camarim antes das lutas. Eu tinha de encontrar uma fã, não importava quem fosse! Ele dizia: ‘Se eu não fizer sexo, vou matá-lo agora’”, alegou.
Segundo o antigo motorista, o pugilista precisava disso para libertar um pouco da sua força. “Quando terminava, estalava o pescoço e dizia: ‘Ok, ele vai sobreviver esta noite’. O seu maior medo era matar alguém naquele ringue”, afirmou.