“Foge por um instante do homem irado, mas foge sempre do hipócrita”. Confúcio
A semana foi fértil em casos que confirmam que política e hipocrisia se confundem e, pode dizer-se, são praticamente sinónimos nos tempos que correm.
A recente descoberta de que a líder do PAN – partido que começou por ser da defesa dos animais para rapidamente se transformar em ecologista – afinal, é sócia de uma empresa que pratica o tipo de agricultura que o seu partido contesta, é apenas mais uma prova disso mesmo.
Assim como o último comentário radiofónico do antigo ministro, Poiares Maduro, agora estratega da candidatura de Paulo Rangel, intitulado “um país de salários mínimos”, que parece querer fazer esquecer que pertenceu ao governo de Pedro Passos Coelho, que protagonizou um corte feroz dos rendimentos de quem trabalha.
Prova disso são também as declarações constantes de líderes políticos sobre ética, como é o caso de Rui Rio, que defende hoje uma coisa e no passado o seu contrário, com uma desfaçatez tal que parece querer provar que os portugueses não têm memória.
E talvez tenham razão, aqueles que acreditam que estas contradições constantes entre o que se afirma e o que se pratica, não têm grande importância e até podem gerar benefícios.
De facto, se a memória nacional fosse outra, muitos protagonistas da política nacional já tinham sofrido as consequências das suas próprias diatribes.
Mas, neste jogo de enganos, ganha quem melhor souber usar a arte da dissimulação.
Bastou a António Costa, por exemplo, a dissolução da Assembleia da República e a consequente marcação de eleições, para que a sua arrogância se transformasse de imediato em humildade.
Temos agora um homem novo, tolerante, compreensivo e, sobretudo, vítima de uma injustiça praticada pelos seus antigos apoiantes.
Na verdade, a hipocrisia já faz de tal forma parte do nosso dia-a-dia, que quando ouvimos alguém falar com honestidade, já desconfiamos, ou melhor, já não conseguimos fazer essa distinção.