Vinham-me parecendo algo precipitadas as juras de ambos os candidatos à liderança do PSD de que não farão qualquer concessão no que toca a acordos com o partido mais à direita do espectro político. Tudo – até dar a mão ao PS! – menos uma “aliança” com o Chega.
Nisto, tanto Rui Rio como Paulo Rangel têm mostrado complexos que o pragmático António Costa não mostrou quando formou a “geringonça” com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista.
Mas claro: se o PS precisa da extrema-esquerda para governar e a ela se alia por uma questão de conveniência, está a inovar, a quebrar tabus descabidos e a promover a estabilidade… em suma, a fazer um enorme favor aos portugueses. Mas se o PSD equaciona sequer negociar com o Chega cai o Carmo e a Trindade.
Acontece que talvez Rui Rio não se lembrasse, mas o PSD tinha feito um pacto com o Chega para, ao fim de anos e anos, afastar os socialistas do poder nos Açores. Mas se Rio estava esquecido disso, André Ventura fez questão de lhe avivar a memória ao anunciar ontem que tenciona retirar o tapete ao Governo liderado por José Manuel Bolieiro.
Reconheçamos que foi uma cartada forte e inesperada. Não sei o que tinha Ventura combinado com o líder do PSD, qual o horizonte estabelecido para esta solução, se está ou não a faltar à palavra dada. Mas sei que tem sido pouco curial da parte de Rui Rio hostilizar o seu parceiro nos Açores. Que Ana Gomes e o PS digam que Ventura é o diabo faz parte do jogo político. Que o PSD o faça já é mais estranho.
Compreende-se, pois, que Ventura, farto de ser constantemente vilipendiado por aqueles de quem supostamente até poderia estar politicamente mais próximo, tenha dado um murro na mesa.
A tendência agora deverá ser para o PSD e o Chega romperem de vez as relações, não para se aproximarem. Mas, de acordo com as sondagens, parece claro que o PSD só poderia sequer sonhar chegar ao poder com o apoio parlamentar do Chega. Essa probabilidade parece agora ainda mais remota. António Costa agradece.