Dia D. Fisioterapeutas elegem primeiro bastonário

Dia D. Fisioterapeutas elegem primeiro bastonário


As primeiras eleições da Ordem dos Fisioterapeutas estão marcadas para a próxima segunda-feira, com cerca de 4500 inscritos para votar. Na corrida a bastonário, António Lopes e Emanuel Vital, que apontam ao i os objetivos para a profissão. 


"O fisioterapeuta tem de ter reconhecimento na equipa de saúde"

António Lopes defende a criação de unidades de fisioterapia nos hospitais e centros de saúde.

Quais são os principais desafios da profissão? 

Para além dos desafios gerais a todas as profissões de saúde, normalmente relacionadas com os recursos que são exigidos à sua boa prática, o momento atual da fisioterapia centra-se na capacidade da fisioterapia, enquanto profissão, conseguir responder ao patamar máximo de exigência e autonomia que alcança agora com o reconhecimento dado pela Assembleia da República na criação desta Ordem. Neste momento os doentes reconhecem isso, o poder político reconhece isso, falta a profissão criar mecanismos para que o reconhecimento ocorra em todos planos, independentemente do subsistema ou forma de acesso do cidadão aos serviços de fisioterapia, ou das dinâmicas de trabalho de equipa onde estão incluídos os fisioterapeutas.

Duas medidas que gostava de implementar no primeiro ano em funções? 

Primeiro instituir a própria Ordem, criar os mecanismos de garantia de qualidade e tornar real o principal desígnio da ordem, que é a proteção e segurança do cidadão, com base nos mecanismos criados. Depois, promover a criação das secções regionais e a elaboração de uma proposta sobre os colégios de especialidade. 

Há 15 mil fisioterapeutas em Portugal, 1200 no Serviço Nacional de Saúde. Há falta de acesso a cuidados de fisioterapia no país?  

Sim, há diferenciação e assimetrias de acesso aos cuidados de fisioterapia, não só decorrentes da localização geográfica ou diferentes contextos onde os mesmos são prestados no âmbito do sistema nacional de saúde. Percebe-se ainda que o acesso a cuidados mais diferenciados ou especializados só está acessível a cidadãos que os pagam ou tenham subsistemas de saúde mais elaborados.

Nos hospitais e nos cuidados primários, considera que a profissão deve ter mais autonomia. Que mudanças defende?

A criação de unidades funcionais de fisioterapia que tenho defendido, dando a possibilidade de os fisioterapeutas exercerem a sua profissão como responsáveis da sua área especifica de saber, assumindo a responsabilidade com as suas decisões em paridade com os diferentes elementos da equipa, resolveria a situação. Da autonomia resulta a responsabilização, e esta Ordem aparece como reconhecimento disso, assegurando a proteção do cidadão. O fisioterapeuta exerce fisioterapia, é o único profissional capaz de a exercer e deverá ter esse reconhecimento na equipa de saúde onde está inserido, independentemente do local onde essa equipa trabalhe, quer seja em cuidados hospitalares ou em cuidados de saúde primários. Deverá ter as condições de ser compensado por isso, incluindo a compensação monetária, e ver reconhecida a mais valia do seu contributo nos ganhos de funcionalidade e participação do utente. 

Algumas ordens acusaram o Governo de querer governamentalizar as associacões profissionais com o diploma aprovado em outubro na AR. Concorda? Que papel devem ter as ordens?

Não concordo. As ordens profissionais representam o sistema de autorregulação profissional que se instituiu no nosso país. O principal papel de uma Ordem é criar mecanismos e garantias aos utilizadores dos serviços que as mesmas representam. Qualquer tentativa de retirar competências de autorregulação à própria profissão não tem a minha concordância. 

Num último debate esta semana trocaram acusações mútuas. Qual é a sua principal divergência com o adversário na corrida a bastonário?

No essencial no que se refere à visão sobre o desenvolvimento futuro da profissão, e em particular no que se relaciona com a sua capacidade de gestão e reclamação de unidades de fisioterapia autónomas, tal como sublinhei no debate quando se abordou a questão dos modelos de organização em contexto hospitalar. 

O que seria uma boa participação e resultado nas eleições?

Boa participação seria uma boa afluência de voto. Resultado seria a vitória clara da minha candidatura, como espero.

Caso seja eleito, que marca gostaria de deixar na profissão?

Consolidar a confiança dos cidadãos nos fisioterapeutas e reforçar a imagem de uma profissão de saúde com autonomia clínica e de gestão, e com contributos próprios no contexto das várias profissões de saúde.   

B.I.

Idade 67 anos 
Atividade atual Professor coordenador da Escola Superior de Saúde de Alcoitão
Percurso Fisioterapeuta desde 1975, começou a lecionar em 1980. Foi vice-presidente do Comité Permanente dos Fisioterapeutas da CEE. Vogal da Comissão Instaladora da Ordem dos Fisioterapeutas desde 2019. 

"Existe uma gritante carência de fisioterapeutas no SNS"

Emanuel Vital quer lançar serviço de apoio técnico e social aos fisioterapeutas. 

Quais são os principais desafios na profissão?

Vejo como desafio principal a criação de condições para que o cidadão possa beneficiar de todo o potencial e valor desta profissão e dos seus profissionais. Esta questão remete para a acessibilidade aos seus serviços.

Duas medidas que gostava de implementar no primeiro ano em funções?

1) Criação do Portal do Cidadão. Um espaço online que permite ao cidadão sentir-se em casa quando se dirige à Ordem dos Fisioterapeutas. 2) Criação do Espaço Fisio. Um conjunto de serviços online que visa apoiar os membros nas questões de natureza técnica e social. Pretende-se facilitar a comunicação com o fisioterapeuta, acolher as propostas e sugestões em assuntos da Ordem e da profissão; conceder apoio social quando necessário; prestar serviços para a prática profissional (seguros; kit da integração na profissão, etc.).

Há 15 mil fisioterapeutas em Portugal, 1200 no Serviço Nacional de Saúde. Há falta de acesso a cuidados de fisioterapia no país?

Há falta de acesso a cuidados de fisioterapia no país porque ainda existem zonas que não dispõem de fisioterapeutas. Na mesma linha, existe uma gritante carência de fisioterapeutas no SNS tanto ao nível hospitalar, como nos Cuidados de Saúde Primários. E há dificuldade de acesso pela existência de barreiras normativas burocráticas que, na maioria das condições, exigem várias consultas médicas prévias à intervenção do fisioterapeuta.

Nos hospitais e nos cuidados primários, considera que a profissão deve ter mais autonomia. Que mudanças defende?

Defendo a inclusão dos fisioterapeutas nas várias valências hospitalares e unidades funcionais dos CSP. Implementação de protocolos de intervenção baseados na integração de cuidados conforme a condição do utente. Esta abordagem garante que se apliquem os modelos de boas práticas, garante a oportunidade da intervenção e potencia resultados em saúde e de desempenho institucional. A melhoria da capacidade de resposta e dos recursos humanos, determinará, de forma progressiva, a adoção de modelos de gestão algo semelhantes aos que já existem na área da psicologia, nutrição, farmácia ou serviço social.

Algumas ordens acusaram o Governo de querer governamentalizar as associações profissionais. Concorda? Que papel devem ter as ordens?

Não vejo qualquer problema na relação institucional com o Governo. Note-se que a Ordem dos Fisioterapeutas é tutelada pelo responsável máximo do Ministério da Saúde. Considero, ademais, que uma relação isenta, transparente e responsável, é geradora de confiança e potencia modelos construtivos de colaboração. Cumprindo a Ordem o seu principal desígnio – garantir a qualidade e segurança dos serviços prestados ao cidadão –, as questões de governamentalização deixam de fazer sentido.

Num último debate esta semana trocaram acusações mútuas. Qual é a sua principal divergência com o adversário na corrida a bastonário?

Os meus valores morais e o código deontológico da minha profissão obrigam-me a uma conduta de dignidade e respeito. Nesse sentido, reclamo que seja respeitada a minha honra e o meu bom nome. Além disso, coloco a imagem da minha profissão acima de qualquer ambição pessoal. Por isso, aquilo que os fisioterapeutas e os cidadãos podem esperar de mim será sempre um bastonário que irá representar a Fisioterapia com elevação e dignidade.

O que seria uma boa participação e resultado nas eleições?

Uma taxa de votação acima dos 70%. Naturalmente que a vitória é o resultado que ambicionamos. O eleitor é soberano e, no dia 15 de novembro far-se-á história na Fisioterapia em Portugal e os atores desta história serão os fisioterapeutas.

Caso seja eleito, que marca gostaria de deixar na profissão?

Sei que trago valor para a profissão e para os projetos a que me entrego. Sei, ainda, que tenho comigo uma equipa que acrescenta muito mais valor ao meu projeto. Estou confiante que conseguiremos deixar uma Ordem dos Fisioterapeutas com mais valor, uma referência no panorama das profissões da saúde, idónea, confiável e capaz de contribuir para a melhoria da saúde dos portugueses.   

B.I.

Idade 57 anos 
Atividade atual Fisioterapeuta no Centro de Saúde da Marinha Grande 
Percurso Fisioterapeuta desde 1984, com experiência hospitalar e nos cuidados de saúde primários. Foi presidente do Conselho Diretivo Nacional da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas – APFISIO (2016-2019)