A política do pisca-pisca


António Costa quer governar sozinho, mas, se não conseguir, pisca o olho à esquerda, na esperança de um novo entendimento, embora reconheça que a ‘‘geringonça’’ morreu.


“Eles olham p’rá direita, e pisca-pisca,
Eles olham para a esquerda, e pisca-pisca,
Andam p’raí a piscar, p’ra ver se arranjam conquista
Parece que está a dar, e que veio p’ra ficar
A moda do pisca-pisca”.

Ricardo Landum e António Carvalho para Ruth Marlene

Ainda a procissão vai no adro, isto é, ainda agora os partidos começaram a desenhar as suas estratégias – táticas, melhor dizendo – para atacar as eleições de janeiro próximo, e António Costa já se adiantou, falando com o fato de primeiro-ministro, mas, na verdade, na entrevista à RTP, era o líder do PS que ali estava.

Como era de prever, António Costa já deu o mote da campanha: maioria estável, isto é, maioria absoluta que, no seu entender, não constitui qualquer perigo.

Mas, o líder socialista também não fecha a porta a entendimentos, quer à esquerda, quer à direita, parecendo seguir a recomendação do histórico Manuel Alegre para que olhasse à esquerda e à direita, numa espécie de estrabismo político.

E também, como era previsível, já dramatizou, ao afirmar que sairá da liderança do PS, se perder as eleições legislativas antecipadas.

Tudo normal, portanto.

António Costa quer governar sozinho, mas, se não conseguir, pisca o olho à esquerda, na esperança de um novo entendimento, embora reconheça que a ‘‘geringonça’’ morreu. A solução será, portanto, construir outra engenhoca, sabendo que os parceiros da esquerda, nomeadamente o BE, já suspiram por um novo líder para o PS, preferencialmente Pedro Nuno Santos.

Pelos vistos, não se fica por aqui e, embora timidamente, não fecha a porta à direita, esperando, como disse, que “primeiro, é preciso deixá-los arrumarem-se a si próprios, e depois falamos sobre os partidos à direita do PS”.

A dúvida fica, portanto, no ar, como convém, deixando um aviso à esquerda.

Na verdade, a direita tradicional está mesmo em fase de arrumações, com uma liderança disputada no PSD e com um conflito insanável no CDS, que bem pode ditar o fim do partido.

Ainda do lado da direita, dois partidos, IL e Chega, parecem esperar tranquilamente por estas arrumações, uma vez que, ao que tudo indica, estão a ganhar com elas.

Neste jogo do pisca-pisca, veremos para que lado vai virar a política portuguesa, sendo certo que pode acabar numa rotunda e ali ficar às voltas, sem rumo certo.

Jornalista