A Islândia é um dos países com mais elevado PIB per capita e tem sido nos últimos onze anos o país do mundo com menor disparidade de género. Este equilíbrio nas oportunidades dadas a homens e a mulheres manifesta-se, em particular, na vida política. O Governo islandês, constituído por cinco ministras e seis ministros, é encabeçado por uma mulher que lidera uma coligação de três partidos. O órgão fiscalizador do Governo, o Althingi, fundado no ano 930, é o parlamento mais antigo do mundo e também ele tem, atualmente, uma composição praticamente paritária com 30 deputadas e 33 deputados.
Nos últimos setenta anos a população da Islândia, que é quase toda urbana (94,4%), cresceu cerca de 2% ao ano. Os islandeses têm uma idade média de 37,5 anos e o número de filhos por mulher, embora tenha decrescido nos últimos anos, não se encontra muito abaixo dos 2,1 filhos, número mínimo que assegura a reposição da população. Para este sucesso demográfico tem contribuído tanto a rede nacional de creches, acessível a preços módicos, como o apoio generoso prestado pelo Estado à maternidade e à parentalidade.
São estes factos que me levam a considerar a Islândia, uma localização excelente para a edição deste ano do Reykjavík Global Forum – Women Leaders, que decorrerá na capital da Islândia nos dias 9 e 10 de novembro. Esta plataforma internacional de troca de ideias, experiências e soluções para o reforço da presença das mulheres nos lugares de liderança conta com o apoio do Governo e do Parlamento islandeses, bem assim como da fundação Women Political Leaders que dinamiza uma vasta rede de personalidades, maioritariamente femininas, dedicadas ao empoderamento das mulheres.
O fórum contará com a participação de Pedro Sánchez, Presidente do Governo de Espanha; Amina Mohammed, vice-secretária-geral da ONU; Michelle Bachelet, Alta Comissária da ONU para os direitos humanos e Jacqueline Fuller, Presidente da google.org e responsável pela atividade filantrópica da multinacional Google, entre outras líderes políticas e empresariais.
Um dos tópicos que o fórum pretende abordar é o do futuro do trabalho. Passados os momentos mais alarmantes da pandemia da covid-19, o impacto que este fenómeno dramático teve no mundo laboral continua a sentir-se e a carecer de análise mais aprofundada. Há pouco tempo atrás dizia-se, com alguma pompa, que o teletrabalho, o trabalho à distância, o trabalho viabilizado por plataformas digitais, era o trabalho do futuro. Ora a covid-19 tornou o futuro presente! Muitos trabalhadores foram lançados no teletrabalho sem o domínio adequado das ferramentas indispensáveis a esta modalidade de trabalho. Ainda por cima, algumas empresas utilizam o teletrabalho para reduzir custos, transferindo os mesmos para os trabalhadores.
Por outro lado, sendo as crises uma fonte de desconforto e muitas vezes de sofrimento, também geram oportunidades. E esta pode ser uma oportunidade para dar um novo impulso à formação profissional, que não pode deixar de ser uma prioridade, sobretudo num país como o nosso em que metade da população tem um nível de formação baixo – é o mais baixo da Europa — e uma carência acentuada de competências digitais básicas, em comparação com a média da União Europeia. Em particular, na área das Tecnologias de Informação e Comunicação, até há pouco tempo, em Portugal, apenas 2,1% da força de trabalho estava ocupada na área das Tecnologias de Informação e Comunicação e, desta, apenas 16,01% era assegurada por mulheres (0,0034% do total). Estes valores são preocupantes por estarem abaixo da média da OCDE, que é de 4,8% para rapazes e 0,4% para raparigas, apesar de estes últimos também não serem animadores.
Estas são algumas das questões que pretendo levar ao debate nas sessões dedicadas ao futuro do trabalho, onde espero ter a oportunidade de ouvir as ideias dos outros participantes, muitos deles com vasta experiência na abordagem das questões laborais.
Os resultados do trabalho desenvolvido no Reykjavík Global Forum – Women Leaders será coligido num documento final que incluirá as recomendações concretas dos líderes provenientes dos vários países e irá servir de suporte ao trabalho das representantes das mulheres nas Nações Unidas. Posteriormente, no início do próximo ano, o documento será apresentado na reunião anual do Fórum Económico Mundial em Davos-Klosters, na Suíça.
Deputada do Grupo Parlamentar do PSD
Embaixadora da Women Politica Leaders