Web Summit. Escassez dos chips vai “desapontar” neste Natal

Web Summit. Escassez dos chips vai “desapontar” neste Natal


A crise dos chips não tem fim à vista e responder às necessidades dos consumidores está mais díficil, o que se poderá sentir já neste Natal. O aviso é de Simon Segars. 


A 53 dias do Natal, Simon Segars diz que a maioria das pessoas vai ficar “desapontada’’ porque não vai conseguir fazer todas as compras que queria. Na origem do problema está a crise dos chips. É que os chips “estão em todo o lado”: nos telemóveis, computadores, smartwatches, sistemas de ar condicionado, carros… A lista é interminável.

O presidente executivo da Arm, uma das empresas mais influentes do mundo no desenvolvimento de chips, fez o alerta a propósito da sessão “Conseguimos resolver a escassez global de chips?”, que teve lugar no palco central da Web Summit, na terça-feira.

“Nunca vi uma situação tão extrema. Trata-se de uma indústria cíclica, com épocas de grande e pouca oferta, mas nunca houve uma discrepância entre oferta e procura tão grande como a que há agora”, explica Segars.

De acordo com o CEO da Arm, há um atraso de 66 semanas nas entregas destes semicondutores e esta não é uma situação que possa ser resolvida a curto-prazo.

E qual é a razão para isto estar a acontecer agora? Segars explica que, com a pandemia, a maioria das indústrias que utilizam estes componentes, como a automóvel, tiveram que parar a sua produção uma vez que certos produtos não iam ser vendidos. Assim, a fabricação de chips sofreu uma travagem brusca e a oferta que ainda resistiu foi essencialmente para usos ligados às tecnologias de comunicação, impulsionada pelo teletrabalho, ensino à distância e entretenimento em casa.

A resolução lógica para este problema seria retomar a produção maciça, mas, apesar de os chips serem feitos à base do silício — que para todos os efeitos “é areia e a areia é abundante” —, o processo de transformação tem que se lhe diga.

Na verdade, “é muito complexo, demora muito tempo e custa imenso dinheiro”, justifica o empresário britânico. Além disso, “ninguém tinha ideia de quando é que as indústrias iam retomar a sua produção” e, portanto, as empresas que desenvolvem os semicondutores não estavam preparadas a tempo de dar resposta à procura.

“Com a aceleração tecnológica vamos precisar de mais chips, porque todas as indústrias vão depender dos chips”, considera Segars, defendendo que é necessário “aumentar e maximizar a capacidade” de produção.

Para ter uma ideia, dos 25 mil milhões de chips que normalmente são produzidos num ano, a maioria são escoados para a indústria automóvel, em utilizações variadas como em ecrãs, sensores, e outros sistemas de segurança que começam a ser obrigatórios na maioria dos países. “Se antes um carro continha cem chips, agora, com carros cada vez mais inteligentes, podem chegar aos três mil”, aponta o executivo.

Deu ainda como exemplo uma organização que está a usar os chips para evitar a desflorestação ilegal na Amazónia. Mas outros problemas como a fome ou as alterações climáticas “também vão requerer mais semicondutores”, porque a sua resolução passará pelo uso de novas tecnologias.

Para tentar dar resposta à situação e aumentar a capacidade, nos próximos anos, empresas como a Arm vão investir dois mil milhões de dólares por semana. O que na verdade, em cinco anos, só vai permitir “aumentar em 50% a capacidade”, avisa o CEO da empresa.

Simon Segars acredita que a situação não se irá resolver a curto-prazo e diz mesmo que no Natal de 2022, a realidade não será muito diferente. “Será um pouco melhor, mas não estará completamente resolvida”.

“Precisamos de mais colaboradores na cadeia de abastecimento”, reivindica, acrescentando que outro dos problemas que comprometem a indústria dos chips e que a tornam mais cara é o número de deslocações que este produto tem que fazer desde a sua fabricação até à distribuição.

Mas quanto a isso não há muito a fazer, porque a produção vem da Ásia. “Não é fácil investir noutros países produtores, quando há tensões geopolíticas à mistura”, alega, fazendo referência à acumulação de sanções dos Estados Unidos a grupos chineses, dos quais a maioria dos países está muito dependente, o que acaba por tornar mais difícil para algumas empresas garantir a cadeia de abastecimento dos componentes.

Voltando à questão: “vamos conseguir resolver a escassez global de chips?” Não se sabe. Mas perspetiva-se que esta crise ainda esteja longe de ser solucionada e a escassez global de componentes afeta vários setores, como o da tecnologia, automóvel e eletrodomésticos. As consequências avizinham-se graves, com o aumento de despedimentos, falta de mercadorias nos stocks e mais uma crise económica a juntar à que já vivemos. E que afeta todos os países – Portugal não está a salvo.