Para melhor, está bem, está bem…


Importa alargar – e nunca reduzir – as condições políticas para condensar o campo e as convicções dos que defendem valores mais humanos para a vida, permitindo assim que elas efetivamente vinguem.


A maneira como, ao longo de muitos anos de doutrinação neoliberal, se foi construindo – ou desconstruindo – a ideia do trabalho, reduzindo-a a uma simples vertente das necessidades da economia de mercado, obnubilou, totalmente, a sua natureza eminentemente humana.

Hoje, à margem do movimento sindical – e nem todo – poucos são os que, como o Papa Francisco, insistem na dimensão humanista, cultural e criadora do trabalho.

A discussão em torno da produtividade e da competitividade das economias, que se avolumou muito com o processo de globalização, fez esquecer a problemática do trabalho enquanto fator de formação do homem, da sua inserção na sociedade e, enfim, da sua felicidade enquanto pessoa singular.

Problemas como, por exemplo, o do salário suficiente e capaz de prover o trabalhador e a sua família, como o do horário de trabalho e o da disponibilidade do tempo para si e para os outros ou, ainda, o da satisfação, orgulho e brio pessoal e profissional no aperfeiçoamento das capacidades próprias e no desempenho correto e solidário das funções cometidas quase desapareceram da atenção e análise dos media e, em tal medida, da discussão pública.

Durante muito tempo, quase só se falou do trabalho como uma variante do processo económico e apenas na perspetiva dos resultados finais deste.

Isto, mesmo que tais resultados pouco, ou nada, contribuam para as necessidades reais dos que, assim, através do seu trabalho, permitem que a sociedade, quotidianamente, funcione.

A reflexão e o debate públicos sobre as circunstâncias em que o trabalho é desenvolvido e as consequências que ele comporta para quem o desenvolve têm sido, por isso, totalmente erradicados do discurso político dominante.

O que, pelo contrário, sempre se tem destacado e enaltecido é o famoso espírito de empreendedorismo, mesmo quando, em alguns casos – e foram demasiados e chocantes – ele tivesse conduzido a desastres terríveis para as empresas, a economia e a vida de muita gente que nesses processos esteve envolvida.

Acontece, por isso, que a ideia da menor importância – ou mesmo a da falta dela – do trabalho na vida da sociedade se enraizou fortemente e condiciona, inclusive, o discurso de muitas forças políticas que se assumem, todavia, como humanistas.

Mais ainda, condicionam mesmo, o de alguns dos trabalhadores que sofrem, eles próprios, as consequências de tal erosão política, social, familiar e pessoal.        

Nos últimos tempos, porém, não sei se fruto da crise pandémica e das alterações que ela impôs na maneira como se voltou a olhar para as pessoas, o problema do trabalho e dos direitos dos trabalhadores a uma existência decente voltaram, de novo, à praça pública.

A crise pandémica e as misérias evidentes que aquela revelou alteraram, com efeito, muitos olhares sobre as prioridades sociais e, portanto, também, sobre as questões laborais.

Seja como for, esta nova visão sobre a questão da decência dos salários, da humanidade dos horários laborais, e dos direitos dos trabalhadores e dos das suas famílias, tendo começado a aparecer mais visivelmente na esfera mediática, não foi ainda suficientemente interiorizada por muitos para motivar, de imediato, o recuo daqueles que olham para o trabalho apenas como uma qualquer mercadoria.

Acontece que, fruto da fragmentação, precarização, informalização e degradação das relações laborais e do consequente isolamento social de muitos e dos mais qualificados novos trabalhadores, tem sido difícil, também, encontrar formas de consciencializar e enquadrar o seu sofrimento e a sua insatisfação, mesmo que estes sejam crescentes e visíveis em muitos aspetos da sua vida.

Parece, por isso, necessário insistir nesta reflexão e na descoberta de novas e mais imaginativas formas de consciencialização dos mais jovens, relativamente aos seus direitos enquanto trabalhadores, enquanto cidadãos e enquanto pessoas com expectativas e ambição de terem uma vida própria e familiar decentes.

Conviria, todavia, que tal processo se fizesse nas melhores condições políticas e nunca num cenário que reforce ainda mais os que não têm, de todo, qualquer sensibilidade – mesmo que disfarçada – para tais problemas e a necessidade de cuidar deles.

A batalha pela humanização do trabalho, enfim por uma vida melhor para a maioria das pessoas, terá de ser, pois, longa e persistente.

Para tanto, importa – teria importado – alargar, e nunca reduzir, as condições políticas capazes de condensar o campo e as convicções dos que defendem valores mais humanos para a vida, permitindo, assim, que estes, efetivamente, venham a vingar.

«Para melhor, está bem, está bem, para pior já basta assim», cantava, com sabedoria, Sérgio Godinho.

Para melhor, está bem, está bem…


Importa alargar - e nunca reduzir - as condições políticas para condensar o campo e as convicções dos que defendem valores mais humanos para a vida, permitindo assim que elas efetivamente vinguem.


A maneira como, ao longo de muitos anos de doutrinação neoliberal, se foi construindo – ou desconstruindo – a ideia do trabalho, reduzindo-a a uma simples vertente das necessidades da economia de mercado, obnubilou, totalmente, a sua natureza eminentemente humana.

Hoje, à margem do movimento sindical – e nem todo – poucos são os que, como o Papa Francisco, insistem na dimensão humanista, cultural e criadora do trabalho.

A discussão em torno da produtividade e da competitividade das economias, que se avolumou muito com o processo de globalização, fez esquecer a problemática do trabalho enquanto fator de formação do homem, da sua inserção na sociedade e, enfim, da sua felicidade enquanto pessoa singular.

Problemas como, por exemplo, o do salário suficiente e capaz de prover o trabalhador e a sua família, como o do horário de trabalho e o da disponibilidade do tempo para si e para os outros ou, ainda, o da satisfação, orgulho e brio pessoal e profissional no aperfeiçoamento das capacidades próprias e no desempenho correto e solidário das funções cometidas quase desapareceram da atenção e análise dos media e, em tal medida, da discussão pública.

Durante muito tempo, quase só se falou do trabalho como uma variante do processo económico e apenas na perspetiva dos resultados finais deste.

Isto, mesmo que tais resultados pouco, ou nada, contribuam para as necessidades reais dos que, assim, através do seu trabalho, permitem que a sociedade, quotidianamente, funcione.

A reflexão e o debate públicos sobre as circunstâncias em que o trabalho é desenvolvido e as consequências que ele comporta para quem o desenvolve têm sido, por isso, totalmente erradicados do discurso político dominante.

O que, pelo contrário, sempre se tem destacado e enaltecido é o famoso espírito de empreendedorismo, mesmo quando, em alguns casos – e foram demasiados e chocantes – ele tivesse conduzido a desastres terríveis para as empresas, a economia e a vida de muita gente que nesses processos esteve envolvida.

Acontece, por isso, que a ideia da menor importância – ou mesmo a da falta dela – do trabalho na vida da sociedade se enraizou fortemente e condiciona, inclusive, o discurso de muitas forças políticas que se assumem, todavia, como humanistas.

Mais ainda, condicionam mesmo, o de alguns dos trabalhadores que sofrem, eles próprios, as consequências de tal erosão política, social, familiar e pessoal.        

Nos últimos tempos, porém, não sei se fruto da crise pandémica e das alterações que ela impôs na maneira como se voltou a olhar para as pessoas, o problema do trabalho e dos direitos dos trabalhadores a uma existência decente voltaram, de novo, à praça pública.

A crise pandémica e as misérias evidentes que aquela revelou alteraram, com efeito, muitos olhares sobre as prioridades sociais e, portanto, também, sobre as questões laborais.

Seja como for, esta nova visão sobre a questão da decência dos salários, da humanidade dos horários laborais, e dos direitos dos trabalhadores e dos das suas famílias, tendo começado a aparecer mais visivelmente na esfera mediática, não foi ainda suficientemente interiorizada por muitos para motivar, de imediato, o recuo daqueles que olham para o trabalho apenas como uma qualquer mercadoria.

Acontece que, fruto da fragmentação, precarização, informalização e degradação das relações laborais e do consequente isolamento social de muitos e dos mais qualificados novos trabalhadores, tem sido difícil, também, encontrar formas de consciencializar e enquadrar o seu sofrimento e a sua insatisfação, mesmo que estes sejam crescentes e visíveis em muitos aspetos da sua vida.

Parece, por isso, necessário insistir nesta reflexão e na descoberta de novas e mais imaginativas formas de consciencialização dos mais jovens, relativamente aos seus direitos enquanto trabalhadores, enquanto cidadãos e enquanto pessoas com expectativas e ambição de terem uma vida própria e familiar decentes.

Conviria, todavia, que tal processo se fizesse nas melhores condições políticas e nunca num cenário que reforce ainda mais os que não têm, de todo, qualquer sensibilidade – mesmo que disfarçada – para tais problemas e a necessidade de cuidar deles.

A batalha pela humanização do trabalho, enfim por uma vida melhor para a maioria das pessoas, terá de ser, pois, longa e persistente.

Para tanto, importa – teria importado – alargar, e nunca reduzir, as condições políticas capazes de condensar o campo e as convicções dos que defendem valores mais humanos para a vida, permitindo, assim, que estes, efetivamente, venham a vingar.

«Para melhor, está bem, está bem, para pior já basta assim», cantava, com sabedoria, Sérgio Godinho.