Os ricos, os pobres e os outros


Ao mesmo tempo que o Estado, como já nos habituou, vai dando com a mão esquerda e tirando com a direita, ou vice-versa, para evitar conotações políticas. 


O que é ser rico em Portugal?

Para o fisco, quem tiver mais de 100 mil euros de rendimento bruto anual, é rico. Está no top reservado a 1% da população portuguesa. Isto é, um agregado familiar cujo rendimento bruto mensal ronde os 8,3 mil euros. Tendo em conta que, a partir do rendimento anual superior a 75 mil euros, desconta 48%, é só fazer as contas.
Um artigo de Susana Peralta, no Público, acrescenta que estes agregados detêm 8% do rendimento bruto e representam um quarto da coleta.

E na faixa seguinte quem está? Os agregados com mais de 48 mil euros de rendimento bruto anual, até aos 75 mil. No mesmo artigo, a professora de economia refere que suportam 40% da carga fiscal e representam um quarto do rendimento bruto. Descontam 45%. Falamos de rendimentos mensais médios brutos entre 4000 e 6250 euros.

Mas há ainda outros “ricos”. Os que se situam na faixa de rendimentos brutos anuais entre os 36,7 e os 40 mil euros, e que passam a descontar 43,5%. Falamos de rendimentos médios mensais brutos entre 3000 e 3300 euros.
Quanto à classe média, para quem, nas palavras de António Costa, este Orçamento é dirigido, convém recordar que é uma população cujo rendimento anual bruto anda entre os 8700 e os 23300 euros, o que significa entre 725 e 1940 euros mensais. Dividem-se em três escalões, com descontos entre 23 e 35%.

Não é de estranhar, pois, que um estudo da OCDE de 2019 revele que “apenas 32% da população portuguesa se define como fazendo parte da chamada classe média”, embora as estatísticas falem de 60% da população portuguesa. 
Há que dizer, para sermos honestos, que o combate à pobreza tem dado alguns frutos e que a distribuição da riqueza, embora continue muito desigual, atenuou um pouco a diferença. 

No entanto, o que a esmagadora maioria da população pode continuar a contar é com discursos cheios de promessas, ao mesmo tempo que o Estado, como já nos habituou, vai dando com a mão esquerda e tirando com a direita, ou vice-versa, para evitar conotações políticas. 

O escritor espanhol, Fernando Savater, contou há muitos anos uma história que teria envolvido Otelo Saraiva de Carvalho e o primeiro-ministro sueco, Olof Palme, quando da visita do militar português à Suécia, em 1975.
Otelo teria afirmado a Olof Palme que a revolução portuguesa e as suas reformas se destinavam a acabar com os ricos. Olof Palme terá retorquido: “Pois nós, queremos acabar com os pobres”. 

Verdade ou não, vale a pena refletir sobre isto. É que, passados todos estes anos, não temos a ainda a certeza sobre as intenções dos vários governos que já passaram por cá.

Jornalista

 


Os ricos, os pobres e os outros


Ao mesmo tempo que o Estado, como já nos habituou, vai dando com a mão esquerda e tirando com a direita, ou vice-versa, para evitar conotações políticas. 


O que é ser rico em Portugal?

Para o fisco, quem tiver mais de 100 mil euros de rendimento bruto anual, é rico. Está no top reservado a 1% da população portuguesa. Isto é, um agregado familiar cujo rendimento bruto mensal ronde os 8,3 mil euros. Tendo em conta que, a partir do rendimento anual superior a 75 mil euros, desconta 48%, é só fazer as contas.
Um artigo de Susana Peralta, no Público, acrescenta que estes agregados detêm 8% do rendimento bruto e representam um quarto da coleta.

E na faixa seguinte quem está? Os agregados com mais de 48 mil euros de rendimento bruto anual, até aos 75 mil. No mesmo artigo, a professora de economia refere que suportam 40% da carga fiscal e representam um quarto do rendimento bruto. Descontam 45%. Falamos de rendimentos mensais médios brutos entre 4000 e 6250 euros.

Mas há ainda outros “ricos”. Os que se situam na faixa de rendimentos brutos anuais entre os 36,7 e os 40 mil euros, e que passam a descontar 43,5%. Falamos de rendimentos médios mensais brutos entre 3000 e 3300 euros.
Quanto à classe média, para quem, nas palavras de António Costa, este Orçamento é dirigido, convém recordar que é uma população cujo rendimento anual bruto anda entre os 8700 e os 23300 euros, o que significa entre 725 e 1940 euros mensais. Dividem-se em três escalões, com descontos entre 23 e 35%.

Não é de estranhar, pois, que um estudo da OCDE de 2019 revele que “apenas 32% da população portuguesa se define como fazendo parte da chamada classe média”, embora as estatísticas falem de 60% da população portuguesa. 
Há que dizer, para sermos honestos, que o combate à pobreza tem dado alguns frutos e que a distribuição da riqueza, embora continue muito desigual, atenuou um pouco a diferença. 

No entanto, o que a esmagadora maioria da população pode continuar a contar é com discursos cheios de promessas, ao mesmo tempo que o Estado, como já nos habituou, vai dando com a mão esquerda e tirando com a direita, ou vice-versa, para evitar conotações políticas. 

O escritor espanhol, Fernando Savater, contou há muitos anos uma história que teria envolvido Otelo Saraiva de Carvalho e o primeiro-ministro sueco, Olof Palme, quando da visita do militar português à Suécia, em 1975.
Otelo teria afirmado a Olof Palme que a revolução portuguesa e as suas reformas se destinavam a acabar com os ricos. Olof Palme terá retorquido: “Pois nós, queremos acabar com os pobres”. 

Verdade ou não, vale a pena refletir sobre isto. É que, passados todos estes anos, não temos a ainda a certeza sobre as intenções dos vários governos que já passaram por cá.

Jornalista