Quatro pessoas foram hoje mortas e 20 ficaram feridas durante uma manifestação organizada pelos movimentos xiitas Hezbollah e Amal para exigir a demissão do juiz encarregado de investigar a explosão no porto de Beirute, segundo fontes médicas.
Um homem foi morto com um tiro na cabeça, um segundo foi alvejado no peito e uma mulher, de 24 anos, foi morta por uma bala perdida enquanto estava em sua casa, disse a diretora do serviço de urgências do Hospital Sahel, em Beirute, Mariam Hassan, citada pela agência de notícias francesa AFP.
De acordo com a agência oficial de notícias do Líbano (ANI) uma quarta pessoa morreu no hospital Rassoul al-Aazam, também nos subúrbios da capital libanesa, na sequência do tiroteio registado durante a manifestação.
Vinte outras pessoas ficaram feridas, algumas das quais com gravidade, adiantou a Cruz Vermelha Libanesa.
A manifestação, convocada pelo movimento xiita libanês Hezbollah para exigir o afastamento do juiz Tarek Bitar, o segundo magistrado a liderar a investigação à explosão no porto de Beirute, tornou-se rapidamente numa zona de guerra, entre tiroteios, pessoas a fugir, ambulâncias a acorrer ao local e os militares a intervir.
Nas redes sociais, imagens mostram crianças de uma escola próxima do local do protesto escondidas debaixo das suas carteiras ou reunidas no chão em frente às salas de aula, tal como acontecia durante a guerra.
O exército informou, num comunicado, ter isolado "a área e os seus acessos" e estar a procurar "as pessoas que dispararam os tiros para as deter".
Na mesma nota, os militares avisam que dispararão "contra qualquer pessoa que atire" e pedem aos civis para abandonarem o bairro, perto do Palácio da Justiça.
Por seu lado, o primeiro-ministro, Nagib Mikati, pediu calma à população e alertou contra as tentativas de arrastar o Líbano para um ciclo de violência.
A manifestação ocorreu no mesmo local onde os familiares das vítimas da explosão no porto de Beirute se reúnem regularmente para exigir que a investigação seja concluída.
O protesto aconteceu depois de um tribunal ter rejeitado as exigências de dois ex-ministros para que o juiz Tarek Bitar fosse afastado, o que permite ao magistrado retomar as investigações.
Bitar foi forçado na terça-feira a suspender a investigação após as reclamações dos membros dos movimentos xiitas, desencadeando a crise mais séria do novo Governo libanês, que entrou em funções há um mês.
O Hezbollah e o movimento Amal convocaram a manifestação para exigir a substituição do juiz Tareq Bitar, que está determinado a questionar vários políticos de todos os quadrantes, incluindo os dois ex-ministros do Amal.
Em comunicado conjunto hoje divulgado, os dois movimentos xiitas lamentaram que "atiradores colocados nos telhados dos edifícios" da área onde decorria o protesto "tenham disparado contra os manifestantes".
No entanto, a sequência dos eventos permanece obscura, tendo um jornalista da agência de notícias Associated Press afirmado ter visto um homem começar a disparar uma pistola no meio do protesto, enquanto uma outra testemunha ocular referiu ter visto pessoas a disparar na direção dos manifestantes a partir da varanda de um prédio.
A investigação em causa, que já dura há 14 meses, foi iniciada para determinar os responsáveis pela explosão que aconteceu a 04 de agosto de 2020 no porto de Beirute e que provocou 214 mortos, mais de 6.500 feridos e a destruição de vários bairros da cidade.
A explosão foi causada pelo armazenamento sem segurança de uma enorme quantidade de nitrato de amónio.