Sindicato Independente dos Médicos critica “malabarismos” na proposta de Orçamento do Estado

Sindicato Independente dos Médicos critica “malabarismos” na proposta de Orçamento do Estado


Sindicato acusa Governo de contornar negociação coletiva e de anunciar medidas que põe em risco a qualidade e a prevenção do erro no trabalho dos médicos.


O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) classifica de "malabarismos" as propostas no Orçamento do Estado com vista a resolver a falta de recursos médicos no Serviço Nacional de Saúde. Para o SIM, a proposta do Governo, que considera armadilhada e inaceitável, "contorna a lei e a negociação coletiva" e contém "ideia peregrinas, roçando a ilegalidade e condenadas inevitavelmente ao fracasso".

Em causa estão medidas que reveem o pagamento do trabalho médico nas urgências, com vista à redução do recurso a tarefeiros (médicos contratados à hora para prestação de serviço).

O Governo propõe que, para haver menos recurso a prestações de serviço, os médicos passem a ter um reforço remuneratório a partir da 250ª hora extra na urgência, de 25%, passando o acréscimo a ser de 50% a partir de 500 horas extra feitas nos serviços de urgência nos hospitais. "Tudo isto quando os limites anuais ao trabalho suplementar está fixado pelo Código do Trabalho e pelos Acordos Colectivos de Trabalho em 150 horas anuais, de modo a serem salvaguardadas a saúde de profissionais e doentes, a qualidade da prestação de cuidados e a prevenção do erro médico… Haverá médicos interessados nesta enormidade?", questiona o SIM, numa nota publicada online.

O sindicato contesta ainda a hipótese deixada em aberto na proposta de OE de os médicos que estejam dispensados de fazer trabalho noturno, possibilidade que têm a partir dos 50 anos, ou trabalho na urgência (55 anos), poderem trabalhar com este novo regime remuneratório. "Haverá médicos que, uma vez dispensados, queiram voltar a essa atividade tão exigente e desgastante?", continua, questionando também a alteração ao regime que permite a contratação de médicos aposentados, prevendo que possam ser colocados me zonas geográficas qualificadas como carenciadas, passando a ser elegíveis para o programa de incentivos criado em 2015, e revisto já pelo atual Governo, para resolver a falta de médicos de algumas especialidades nos hospitais e centros de saúde da periferia. "Será a 'cenoura' suficientemente atractiva para quem esta já em burnout e anseia por repouso?"

O Sindicato Independente dos Médicos considera que em relação ao regresso de contratos de dedicação exclusiva, que o Governo se compromete a regulamentar em 2022 com uma revisão do Estatuto do SNS, a proposta de Orçamento se fica por "palavras e promessas", salientando que este é um "tema de negociação sindical por excelência, defendida pelos sindicatos médicos desde que de adesão voluntária e remuneratoriamente compensadora, vamos esperar para ver… arriscaríamos dizer que a espera será longa…".

"O Governo não quer ver o caminho: condições de trabalho dignas e remuneratoriamente atractivas, que impeçam a saída dos que ainda lá estão e possibilite a contratação de novos médicos para o SNS e a sua fixação", remata o sindicato.