Os cancros da mama não são todos iguais


Todos nós sabemos de casos de familiares, amigas ou conhecidas que tendo um cancro de mama foram tratados de forma distinta, sendo que o trajeto da doença foi, igualmente, diferente. Outubro é o mês de prevenção do cancro da mama e importa sensibilizar para as diferenças no percurso de cada pessoa. Cada caso e cada…


As neoplasias malignas, mais conhecidas pela designação genérica de cancros, são um conjunto de doenças que têm características que lhes são comuns e que as definem como tal. O “cancro da mama” não é uma entidade única como à primeira vista poderia parecer. A mama é constituída por tipos diferentes de células, cada tipo com a sua função. Cada uma delas pode ser o ponto de partida de um tipo específico de cancro de mama. Aqui começamos a ter já uma certa diversidade de situações.

Para simplificarmos, vamos tomar como exemplo um dos tipos mais comuns, o carcinoma ductal. Este tumor tem origem nas células que cobrem os canais, ou ductos, por onde passa o leite. No seu crescimento, estas células tumorais podem definir alguns padrões, que classificamos como graus. Estes podem ser de “grau 1” a “grau 3” e ajudam-nos a perceber a sua agressividade. Por outro lado, as células do tumor têm algumas características, que nos dão, não só, uma ideia do seu futuro comportamento, como nos ajudam a definir qual ou quais as melhores opções terapêuticas.

Por norma, avalia-se a presença dos receptores de estrogénio (hormonas sexuais), de progesterona (hormona produzida pelos ovários), do Her2  (proteína na parte externa das células mamárias que promove a sua duplicação) e do Ki67 (substância libertada durante a divisão celular). A combinação dos resultados destes também define padrões que mostram a sua agressividade e nos ajudam a personalizar a terapêutica a usar em cada doente. De seguida necessitamos de saber o seu tamanho e se, eventualmente, já se terá espalhado pelo corpo, isto é, metastizado.

Temos, ainda, que considerar a condição física do doente assim como a sua idade. Tratar um doente saudável ou um doente cardíaco pode fazer variar as opções terapêuticas. Embora os protocolos terapêuticos não contemplem a idade, as comorbilidades que podem aparecer em doentes mais idosos podem condicionar essa mesma terapêutica.

O prognóstico está também relacionado com todas estas características, uma vez que tumores mais agressivos, com menor resposta à terapêutica de que dispomos, terão, necessariamente, um pior prognóstico. Igualmente importante é procurar que o tratamento esteja alinhado com os planos, ambições e vida da mulher com cancro da mama – colocando em consideração questões como a maternidade, vida profissional, imagem corporal, sexualidade, entre outras.

Podemos considerar, em resumo, que cada caso é um caso e que a terapêutica proposta a cada doente é cada vez mais personalizada, tendo em conta todas as características acima expostas. Não é, portanto, de admirar que pessoas aparentemente com a mesma doença, sejam tratadas de maneira diferente e que o seu trajeto também seja, igualmente, distinto. Cada pessoa é única e deve ser tratada como tal.

Luís Mestre é cirurgião geral no Hospital CUF Tejo e na Clínica CUF Almada – CUF Oncologia. É também Coordenador da Unidade de Mama do Hospital CUF Tejo

Os cancros da mama não são todos iguais


Todos nós sabemos de casos de familiares, amigas ou conhecidas que tendo um cancro de mama foram tratados de forma distinta, sendo que o trajeto da doença foi, igualmente, diferente. Outubro é o mês de prevenção do cancro da mama e importa sensibilizar para as diferenças no percurso de cada pessoa. Cada caso e cada…


As neoplasias malignas, mais conhecidas pela designação genérica de cancros, são um conjunto de doenças que têm características que lhes são comuns e que as definem como tal. O “cancro da mama” não é uma entidade única como à primeira vista poderia parecer. A mama é constituída por tipos diferentes de células, cada tipo com a sua função. Cada uma delas pode ser o ponto de partida de um tipo específico de cancro de mama. Aqui começamos a ter já uma certa diversidade de situações.

Para simplificarmos, vamos tomar como exemplo um dos tipos mais comuns, o carcinoma ductal. Este tumor tem origem nas células que cobrem os canais, ou ductos, por onde passa o leite. No seu crescimento, estas células tumorais podem definir alguns padrões, que classificamos como graus. Estes podem ser de “grau 1” a “grau 3” e ajudam-nos a perceber a sua agressividade. Por outro lado, as células do tumor têm algumas características, que nos dão, não só, uma ideia do seu futuro comportamento, como nos ajudam a definir qual ou quais as melhores opções terapêuticas.

Por norma, avalia-se a presença dos receptores de estrogénio (hormonas sexuais), de progesterona (hormona produzida pelos ovários), do Her2  (proteína na parte externa das células mamárias que promove a sua duplicação) e do Ki67 (substância libertada durante a divisão celular). A combinação dos resultados destes também define padrões que mostram a sua agressividade e nos ajudam a personalizar a terapêutica a usar em cada doente. De seguida necessitamos de saber o seu tamanho e se, eventualmente, já se terá espalhado pelo corpo, isto é, metastizado.

Temos, ainda, que considerar a condição física do doente assim como a sua idade. Tratar um doente saudável ou um doente cardíaco pode fazer variar as opções terapêuticas. Embora os protocolos terapêuticos não contemplem a idade, as comorbilidades que podem aparecer em doentes mais idosos podem condicionar essa mesma terapêutica.

O prognóstico está também relacionado com todas estas características, uma vez que tumores mais agressivos, com menor resposta à terapêutica de que dispomos, terão, necessariamente, um pior prognóstico. Igualmente importante é procurar que o tratamento esteja alinhado com os planos, ambições e vida da mulher com cancro da mama – colocando em consideração questões como a maternidade, vida profissional, imagem corporal, sexualidade, entre outras.

Podemos considerar, em resumo, que cada caso é um caso e que a terapêutica proposta a cada doente é cada vez mais personalizada, tendo em conta todas as características acima expostas. Não é, portanto, de admirar que pessoas aparentemente com a mesma doença, sejam tratadas de maneira diferente e que o seu trajeto também seja, igualmente, distinto. Cada pessoa é única e deve ser tratada como tal.

Luís Mestre é cirurgião geral no Hospital CUF Tejo e na Clínica CUF Almada – CUF Oncologia. É também Coordenador da Unidade de Mama do Hospital CUF Tejo