As neoplasias malignas, mais conhecidas pela designação genérica de cancros, são um conjunto de doenças que têm características que lhes são comuns e que as definem como tal. O “cancro da mama” não é uma entidade única como à primeira vista poderia parecer. A mama é constituída por tipos diferentes de células, cada tipo com a sua função. Cada uma delas pode ser o ponto de partida de um tipo específico de cancro de mama. Aqui começamos a ter já uma certa diversidade de situações.
Para simplificarmos, vamos tomar como exemplo um dos tipos mais comuns, o carcinoma ductal. Este tumor tem origem nas células que cobrem os canais, ou ductos, por onde passa o leite. No seu crescimento, estas células tumorais podem definir alguns padrões, que classificamos como graus. Estes podem ser de “grau 1” a “grau 3” e ajudam-nos a perceber a sua agressividade. Por outro lado, as células do tumor têm algumas características, que nos dão, não só, uma ideia do seu futuro comportamento, como nos ajudam a definir qual ou quais as melhores opções terapêuticas.
Por norma, avalia-se a presença dos receptores de estrogénio (hormonas sexuais), de progesterona (hormona produzida pelos ovários), do Her2 (proteína na parte externa das células mamárias que promove a sua duplicação) e do Ki67 (substância libertada durante a divisão celular). A combinação dos resultados destes também define padrões que mostram a sua agressividade e nos ajudam a personalizar a terapêutica a usar em cada doente. De seguida necessitamos de saber o seu tamanho e se, eventualmente, já se terá espalhado pelo corpo, isto é, metastizado.
Temos, ainda, que considerar a condição física do doente assim como a sua idade. Tratar um doente saudável ou um doente cardíaco pode fazer variar as opções terapêuticas. Embora os protocolos terapêuticos não contemplem a idade, as comorbilidades que podem aparecer em doentes mais idosos podem condicionar essa mesma terapêutica.
O prognóstico está também relacionado com todas estas características, uma vez que tumores mais agressivos, com menor resposta à terapêutica de que dispomos, terão, necessariamente, um pior prognóstico. Igualmente importante é procurar que o tratamento esteja alinhado com os planos, ambições e vida da mulher com cancro da mama – colocando em consideração questões como a maternidade, vida profissional, imagem corporal, sexualidade, entre outras.
Podemos considerar, em resumo, que cada caso é um caso e que a terapêutica proposta a cada doente é cada vez mais personalizada, tendo em conta todas as características acima expostas. Não é, portanto, de admirar que pessoas aparentemente com a mesma doença, sejam tratadas de maneira diferente e que o seu trajeto também seja, igualmente, distinto. Cada pessoa é única e deve ser tratada como tal.
Luís Mestre é cirurgião geral no Hospital CUF Tejo e na Clínica CUF Almada – CUF Oncologia. É também Coordenador da Unidade de Mama do Hospital CUF Tejo