Várias foram, a partir da Revolução Industrial, as tentativas no sentido de tornar a máquina de lavar roupa um aparelho mais eficiente.
Em 1874 um homem norte-americano chamado William Blackstone decidiu surpreender a sua esposa e, por isso, com a ajuda de uma tina, uma tábua e algumas estacas construiu o aparelho que podemos considerar um dos importantes passos para se chegar à máquina de lavar como a concebemos hoje.
Aos poucos, como é evidente, o mecanismo foi sendo melhorado – quer pela concorrência, já que William acabou por se dedicar à comercialização da ideia, quer pela necessidade de aperfeiçoamento. Com o passar do tempo estes mecanismos passaram a torcer a roupa, ganharam motores movidos a vapor, gasolina e eletricidade, evoluíram com a introdução de programas e sistemas inteligentes.
Tenho a convicção de que apenas os que já passaram pela necessidade de lavar roupa à mão podem entender a importância deste eletrodoméstico. A sua entrada na casa de quase todas as famílias levou ao desaparecimento das lavadeiras que estendiam a roupa ao sol depois de a lavarem no rio ou nos tanques ao ar livre – imagem do branco mais branco que não voltou a haver e que ténue se mantém na nossa memória.
Porque não vivi essas experiências, limito-me a recordar o meu tempo de menino, quando espreitava pela portinhola de vidro da máquina de lavar da minha casa. A certa altura, a minha cabeça passava a acompanhar as rotações; por instantes, imaginava-me lá dentro girando no meio da roupa ao ritmo da lavagem. Mesmo sabendo que não cabia dentro da dita máquina, enfiei em várias ocasiões a cabeça no tambor dando comigo a falar sozinho. O som que se fazia ouvir era diferente – experiências de criança…
A leitura de um livro que fiz durante esta semana levou-me a estas memórias. Neste livro a que me refiro, o autor conta uma história atribuída a São Tomás de Aquino segundo a qual aquele santo teria aberto a porta de um sacrário (lugar onde se guardam as hóstias consagradas – o corpo de Cristo) para lá meter a cabeça, acreditando que desse modo Deus o inspiraria.
Assim, qual tabernáculo inspirador, voltei a enfiar a cabeça dentro da máquina de lavar roupa e tentei reviver aquela experiência, pedindo inspiração para escrever a crónica desta semana.
De facto, pensar na aparente ajuda que William deu à sua esposa poderá suscitar algumas interrogações pertinentes como: até quando haverá homens que – diligentes – ofereçam eletrodomésticos às suas mulheres como presente? Até quando viremos a acreditar que as máquinas são a resposta para as dúvidas, angústias, enfim… Problemas dos humanos? Ou então – qual será o rosto do monstro que devora misteriosamente as nossas meias durante a lavagem?
A comunicação social que existe para lavar roupa suja não serve para a Humanidade, apenas serve para alimentar os monstros que se escondem dentro da máquina. Porém, quando os meios de comunicação nos enriquecem, esclarecem, educam e nos fazem pensar, são uma invenção da qual verdadeiramente muito nos devemos orgulhar.
Até logo.
Professor e investigador