Semáforo


Vale a pena retomar a ideia de que os alemães escolheram a mudança com inovação e sem rutura. É este o “mantra” que espero ver refletido de forma clara na coligação Semáforo, com inovação nas políticas sociais e na descarbonização e modernização da economia alemã.


Na despedida de Angela Merkel após um mandato de 16 anos, com altos e baixos, mas que terminou com uma elevada e merecida taxa de aprovação, os eleitores alemães, não descartando no plano do suporte parlamentar uma repetição da grande coligação, mesmo que agora com a liderança dos social-democratas de Olaf Scholz, deram um sinal claro de que desejam a mudança com inovação e sem rutura. É nesse contexto que deve ser lida a vitória ao sprint do SPD sobre a concorrência da CDU/CSU e dos Greens (Verdes).

As negociações para a formação dos governos na Alemanha costumam ser longas e por vezes surpreendentes. Embora várias combinações sejam possíveis, aquela que melhor parece traduzir a vontade dos alemães é a coligação Semáforo que junta o sinal vermelho dos Social Democratas, com o sinal verde dos Greens e o sinal amarelo dos Liberais (FDP). Em alternativa, a CDU/CSU liderada por Armin Laschet procura dar vida à designada Coligação Jamaica, que reproduz a bandeira daquele país caribenho, juntando o preto da CDU/CSU, com o verde dos Greens e o amarelo dos Liberais.

O que se vier a passar na Alemanha terá um grande impacto em toda a União Europeia, num momento crucial de pressão geoestratégica, recuperação económica e tensão política. Tal como acontece nas eleições americanas, em que todos nos sentimos parte da escolha e em função disso tomamos partido, comentar o que vai acontecer na Alemanha e partilhar opiniões e desejos não é uma interferência, mas antes consciência da importância que tem além-fronteiras e em particular em todo o território da União. Se dúvidas sobre isto subsistissem, bastaria comparar o que foi o esquálido papel da Alemanha na resposta à crise financeira e o contributo que deu para o seu agravamento e contágio na União, com a consistência da sua prestação na resolução solidária da crise pandémica.

É por isso que vale a pena retomar a ideia de que os alemães escolheram a mudança com inovação e sem rutura. É este o “mantra” que espero ver refletido de forma clara na coligação Semáforo, com inovação nas políticas sociais e na descarbonização e modernização da economia alemã, mas sem rutura nas políticas de solidariedade e convergência assumidas no desenho do quadro orçamental e financeiro para a década, incluindo o mecanismo europeu de recuperação e resiliência, em que Alemanha fez uma corajosa escolha em nome da equidade e contra o egoísmo autocentrado dos designados “frugais”.

Na reunião que o Grupo Socialista e Democrata (S&D) realizou na passada semana em La Valletta, perpassou uma alegria partilhada com a vitória dos Social-Democratas na Alemanha e um forte desejo que uma coligação progressista seja uma prenda de Natal para o futuro do País e da parceria que integra.

Uma prenda que se bem complementada com uma escolha europeísta forte em França por alturas da Páscoa, nos permitirá sonhar com “festas felizes” para o conjunto da União num momento determinante para a sua relevância global e para a sua capacidade de dar resposta às necessidades e expectativas dos seus cidadãos.

Eurodeputado do PS