Negrões. A freguesia onde a terra flutua mas o socialismo é firme que nem pedra

Negrões. A freguesia onde a terra flutua mas o socialismo é firme que nem pedra


Em Negrões, freguesia de Montalegre com 132 habitantes, o PS não tem adversários nas urnas desde 2013.


A Freguesia de Negrões, concelho de Montalegre, distrito de Vila Real, é uma pequena península onde vivem 132 pessoas: 64 homens e 68 mulheres. Chamam-lhe a “terra flutuante”, exatamente por ser um curioso braço de terra que entra pelo Rio Rabagão adentro. Nesse braço flutuante vive, poisada, uma aldeia: a de Negrões. Paralelamente, noutro braço de terra, Negrões encontra a sua alma gémea: a vaidosa aldeia de Vilarinho de Negrões, que só perdeu o título de Aldeia Maravilha de Portugal na categoria de Aldeias Ribeirinhas para Dornes. As duas integram a freguesia de Negrões, que, com 132 habitantes, é uma das mais pequenas – e belas – do país.

UM SÓLIDO BLOCO SOCIALISTA Mas se por um lado a aldeia – diz-se – flutua geograficamente, por outro mantém-se absolutamente estática em termos políticos: é aqui que, desde 2013, Victor Carreiras é, pelo PS, dirigente sem oposição nas urnas. Em 2021 recandidata-se, novamente sem oposição, rumando assim ao seu terceiro e último mandato ao leme da vila que entra adentro de um rio. Socialismo esse que, note-se, é uma tendência política que acompanha os montalegrenses, que desde 2013 elegem o PS com cerca de 60% na autarquia.

Ao i, Victor Carreiras explica que, apesar de não haver oposição, “há de haver sempre alguém que não esteja contente”, ressalvando, contudo, que “se não estão felizes  não mostram”. Relativamente ao mandato que se aproxima, garante que irá “trabalhar com honestidade e seriedade” com o  objetivo de “ver o que melhor se pode fazer”. “As obras vamos fazendo. O objetivo é trabalhar e respeitar toda a gente”, atira.

A aldeia, que recentemente se tornou popular – tendo até lá ido a National Geographic –, tem “recebido muitos turistas”. Victor explica com felicidade que, “principalmente no fim-de-semana”, tem tido muita gente. Já quanto às crianças, “por cada vez haver menos”, o sentimento é diferente: “Os casais têm uma, duas ou três crianças. Não há mais do que isso, infelizmente. O problema da desertificação é nacional e as juntas – embora queiram resolver – não têm capacidade”. No entender do presidente de Junta, deve ser uma “diretiva a nível nacional” a colmatar este problema, pois lá “não se torna fácil”. “É uma luta desigual, não há hipótese. Os velhotes vão falecendo. Não há gente, não se renova”.

A ALDEIA FLUTUTANTE A aldeia de Vilarinho de Negrões, que viu nascer Domingos Pereira – proeminente monárquico que rejeitou o republicanismo durante toda a vida –,  está em rota ascendente a nível de popularidade. Em agosto deste ano, a National Geographic descreveu-a como uma aldeia que se “destaca pela sua beleza” e que “proporciona uma visão deslumbrante a quem a visita”, sendo ainda o “local ideal para observar mergulhões-de-crista e outras aves aquáticas”. Quanto à tal flutação, notam: “Aquando do aumento do nível das águas ao máximo, a aldeia parece flutuar no rio”.