Sobre a luta dos professores


As aulas abriram com a normalidade habitual, ou seja, nas escolas, os professores criaram as condições suficientes para a abertura, mas isso apenas disfarçou a falta de resposta da tutela para que fossem criadas as condições necessárias.


Na edição de 20 de setembro, o jornal i atribuiu à FENPROF, usando, para o efeito, o rosto e o nome do seu Secretário-Geral, a greve de pessoal docente e não docente convocada para os primeiros dias do ano letivo. Só por distração e/ou falta de informação adequada esse lapso pode ter sido cometido.

Na verdade, essa greve a que os professores não aderiram correspondeu, apenas, à necessidade de uma organização de dimensão residual fazer prova de vida, não estando integrada em qualquer processo reivindicativo em curso e correspondendo não à vontade dos professores manifestada em reuniões e/ou plenários realizados nas escolas, mas, apenas, a uma ufana manifestação de egolatria. É natural que outras organizações pouco representativas, que durante os quase dois anos de pandemia se confinaram, procurem algum protagonismo mediático através da emissão de pré-avisos de “tolerância de ponto”.

A questão não é a ausência de problemas que continuam a afetar a organização e o normal funcionamento das escolas e/ou de constrangimentos que dificultam a vida dos profissionais. Pelo contrário, de ano para ano, eles agravam-se, devendo merecer dos educadores e professores, como de todos os profissionais da Educação, uma forte resposta reivindicativa que deve passar pela apresentação de propostas concretas, em torno das quais se organiza a sua luta. De outra forma, as formas de luta tornam-se estéreis.

Da parte do Ministério da Educação é intolerável a forma como os seus responsáveis têm desvalorizado os problemas, fazendo vista-grossa aos que existem, evitando dialogar com a comunidade educativa para encontrar soluções e, ainda, sacudindo a água do capote, como fez o ministro ao afirmar que falar em problemas na abertura do ano letivo seria atribuir às escolas e aos profissionais a responsabilidade pelos mesmos. Procurava descartar-se de responsabilidades, claro, e, como-quem-não-quer-a-coisa, lá foi deixando implícito que, o que corresse mal, não era culpa sua.

As aulas abriram com a normalidade habitual, ou seja, nas escolas, os professores criaram as condições suficientes para a abertura, mas isso apenas disfarçou a falta de resposta da tutela para que fossem criadas as condições necessárias. O ano começa com falta de professores em muitas escolas, carência de assistentes operacionais, insuficiência de psicólogos e outros técnicos especializados. E se é verdade que as escolas tiveram autonomia para elaborar os seus planos de recuperação, no âmbito do designado Plano Escola+21/23, não é menos verdade que não a tiveram para definir os recursos que os mesmos exigiam.

Relativamente aos professores, é socialmente reconhecido o esforço que estes fazem todos os dias e em qualquer circunstância – presencialmente ou a distância – para que os seus alunos atinjam os níveis de sucesso que deles se espera, como até os governantes são obrigados a reconhecer nos seus discursos. Só que o discurso de reconhecimento não tem tradução em atos.

Sendo verdade que, com elevado zelo, os professores cumprem os seus deveres profissionais, isso, porém, não é reconhecido nas políticas levadas a cabo por um governo que continua: a roubar-lhes, na carreira, anos de serviço cumprido e a impor-lhes injustas quotas na avaliação, bem como inaceitáveis vagas na progressão; a obriga-los a um longo e penoso caminho pelas vias da precariedade; a assistir a um acelerado envelhecimento da profissão sem tomar qualquer medida para o reverter; a ignorar todos os abusos e ilegalidades que corrompem os horários e outras condições de trabalho.

No próximo dia 5 de outubro, Dia Mundial do Professor, os professores irão para a rua tornar pública a sua insatisfação, reafirmar as suas exigências e manifestar a sua disponibilidade para lutar pela profissão e pela Educação. Será a partir daí, antes e durante a discussão do Orçamento do Estado para 2022, que os professores tornarão mais forte a sua ação, apresentando propostas ao governo e à Assembleia da República e lutando por elas de forma organizada e coerente. Do abaixo-assinado à greve tudo poderá acontecer, contribuindo para a decisão, sobretudo, a abertura ao diálogo e à negociação que o governo vier a revelar.

 

Secretário-geral da FENPROF


Sobre a luta dos professores


As aulas abriram com a normalidade habitual, ou seja, nas escolas, os professores criaram as condições suficientes para a abertura, mas isso apenas disfarçou a falta de resposta da tutela para que fossem criadas as condições necessárias.


Na edição de 20 de setembro, o jornal i atribuiu à FENPROF, usando, para o efeito, o rosto e o nome do seu Secretário-Geral, a greve de pessoal docente e não docente convocada para os primeiros dias do ano letivo. Só por distração e/ou falta de informação adequada esse lapso pode ter sido cometido.

Na verdade, essa greve a que os professores não aderiram correspondeu, apenas, à necessidade de uma organização de dimensão residual fazer prova de vida, não estando integrada em qualquer processo reivindicativo em curso e correspondendo não à vontade dos professores manifestada em reuniões e/ou plenários realizados nas escolas, mas, apenas, a uma ufana manifestação de egolatria. É natural que outras organizações pouco representativas, que durante os quase dois anos de pandemia se confinaram, procurem algum protagonismo mediático através da emissão de pré-avisos de “tolerância de ponto”.

A questão não é a ausência de problemas que continuam a afetar a organização e o normal funcionamento das escolas e/ou de constrangimentos que dificultam a vida dos profissionais. Pelo contrário, de ano para ano, eles agravam-se, devendo merecer dos educadores e professores, como de todos os profissionais da Educação, uma forte resposta reivindicativa que deve passar pela apresentação de propostas concretas, em torno das quais se organiza a sua luta. De outra forma, as formas de luta tornam-se estéreis.

Da parte do Ministério da Educação é intolerável a forma como os seus responsáveis têm desvalorizado os problemas, fazendo vista-grossa aos que existem, evitando dialogar com a comunidade educativa para encontrar soluções e, ainda, sacudindo a água do capote, como fez o ministro ao afirmar que falar em problemas na abertura do ano letivo seria atribuir às escolas e aos profissionais a responsabilidade pelos mesmos. Procurava descartar-se de responsabilidades, claro, e, como-quem-não-quer-a-coisa, lá foi deixando implícito que, o que corresse mal, não era culpa sua.

As aulas abriram com a normalidade habitual, ou seja, nas escolas, os professores criaram as condições suficientes para a abertura, mas isso apenas disfarçou a falta de resposta da tutela para que fossem criadas as condições necessárias. O ano começa com falta de professores em muitas escolas, carência de assistentes operacionais, insuficiência de psicólogos e outros técnicos especializados. E se é verdade que as escolas tiveram autonomia para elaborar os seus planos de recuperação, no âmbito do designado Plano Escola+21/23, não é menos verdade que não a tiveram para definir os recursos que os mesmos exigiam.

Relativamente aos professores, é socialmente reconhecido o esforço que estes fazem todos os dias e em qualquer circunstância – presencialmente ou a distância – para que os seus alunos atinjam os níveis de sucesso que deles se espera, como até os governantes são obrigados a reconhecer nos seus discursos. Só que o discurso de reconhecimento não tem tradução em atos.

Sendo verdade que, com elevado zelo, os professores cumprem os seus deveres profissionais, isso, porém, não é reconhecido nas políticas levadas a cabo por um governo que continua: a roubar-lhes, na carreira, anos de serviço cumprido e a impor-lhes injustas quotas na avaliação, bem como inaceitáveis vagas na progressão; a obriga-los a um longo e penoso caminho pelas vias da precariedade; a assistir a um acelerado envelhecimento da profissão sem tomar qualquer medida para o reverter; a ignorar todos os abusos e ilegalidades que corrompem os horários e outras condições de trabalho.

No próximo dia 5 de outubro, Dia Mundial do Professor, os professores irão para a rua tornar pública a sua insatisfação, reafirmar as suas exigências e manifestar a sua disponibilidade para lutar pela profissão e pela Educação. Será a partir daí, antes e durante a discussão do Orçamento do Estado para 2022, que os professores tornarão mais forte a sua ação, apresentando propostas ao governo e à Assembleia da República e lutando por elas de forma organizada e coerente. Do abaixo-assinado à greve tudo poderá acontecer, contribuindo para a decisão, sobretudo, a abertura ao diálogo e à negociação que o governo vier a revelar.

 

Secretário-geral da FENPROF