1. Independentemente dos impactos internos que tiverem nos diversos partidos em termos nacionais, os resultados autárquicos não poderão impedir a discussão e as decisões de voto ao redor do Orçamento de Estado que, dias depois, vai ser apresentado na Assembleia da República, a fim ser discutido e votado até novembro.
Dir-se-á, e é verdade, que, com os governos Costa e os seus ministros das Finanças, o OE mais não é que um exercício de ficção, uma vez que a aplicação de cativações o desvirtua sistematicamente.
Apesar disso, o OE é um instrumento essencial porque a sua rejeição ou não aprovação tem consequências políticas, institucionais e económicas gravíssimas. Nessa circunstância, será sempre necessário que eventuais mudanças políticas nos partidos da oposição ou a abertura de processos de sucessão não criem uma profunda instabilidade e bloqueios ainda mais graves dos que existem, apesar de termos vivo muito bem sem a lei de execução orçamento que alguns achavam essencial e que desapareceu há dois anos, sem que nenhum deputado ou dirigente da oposição tivesse dado por isso, apesar de terem vasta experiencia económica e de alguns se armarem em gurus.
Claro que a questão das lideranças no pós-autárquicas só se coloca nos partidos democráticos da oposição: a saber o PSD, o CDS e a Iniciativa Liberal, deixando de fora o PS que é democrático mas é liderado de forma absolutamente incontestada por António Costa que está para durar.
Já no PCP, nos Verdes, no Bloco e no Chega pode cair o Carmo e a Trindade que os seus dirigentes são absolutamente inamovíveis em função de minudências como resultados eleitorais. Naquele tipo de estruturas nada do que acontece é feito às claras. As modificações são raras e decidas nos seus estranhos meandros, que são tudo menos democráticos e transparentes.
O PCP é mesmo o campeão da penumbra, tudo lhe sendo permitindo como se viu ainda recentemente na Festa do Avante! onde Jerónimo de Sousa, um homem que serviu o exército colonial na Guiné e na polícia militar, saudou a vitória talibã no Afeganistão. Está tudo dito a partir daí sobre a orientação política do líder comunista: é sempre a favor das ditaduras, sejam elas de direita (como a de Putin), teológicas (como no Afeganistão), comunista/capitalista/imperialista (como na China) ou concentracionária como a da Coreia do Norte, a de Cuba ou a da Venezuela. Se Bolsonaro pusesse uma boina à Che e gritasse contra o imperialismo americano lá estaria provavelmente o nosso Jerónimo com a sua bonomia.
Voltando ao pós-autárquicas, é, pois, fundamental que haja nos partidos democráticos uma tranquilidade interna que não perturbe a sua intervenção em matérias de Estado e não se crie um vazio de poder absoluto, mesmo que seja apenas questão de alguns meses, exatamente por se seguirem momentos cruciais de decisão nacional, designadamente a aprovação do OE e o que ele implica politicamente. A isso se chama responsabilidade coletiva, não faltando no passado exemplos de soluções encontradas com equilíbrio e sensatez, apesar das autárquicas terem provocados vários terramotos.
Quanto ao resto, os portugueses sabem perfeitamente que nas eleições autárquicas podem ter o voto mais livre e mais responsabilizante. E por isso normalmente não se esquecem que são também aquelas em que mais coisas impossíveis se prometem, o que tende a favorecer os incumbentes. A promessa demagógica tem, entretanto, a característica de ser tanto maior quanto maior é a autarquia. Numa pequena freguesia, a mentira tem a perna mais curta, enquanto, por exemplo, em Lisboa dá passos do tamanho de andas. As patranhas são de facto incontáveis e a manipulação é absolutamente escandalosa, tanto do lado de quem tem o poder como de quem o tenta conquistar. E vale tudo, de prometer transportes gratuitos até aos 23 anos e depois dos 65, chegando ao cúmulo de pôr o patético ministro do Ambiente a inaugurar uma estação de metro que devia estar pronta há quatro anos. Melhor só a mesma pitoresca criatura a inaugurar há meses um parque de quatro bicicletas na estação de metro do Senhor Roubado, às portas de Lisboa.
2. Passou de forma discreta na comunicação social a circunstância da Fundação Inatel ter sido alvo de buscas judiciais. A Inatel tem sido nos últimos anos dirigida por Francisco Madelino, um homem de inteira confiança do inenarrável e raríssimo Vieira da Silva, que plantou amigalhaços por todo o lado onde podia. Já se sabe que há que esperar pelo tempo da justiça e não fazer avaliações precipitadas do que quer que seja. Não deixa é de ser curioso o relativo silêncio que há à volta do assunto. A ver vamos se alguém pega na substância do assunto, porque certamente merece.
3. A propaganda demagógica e as promessas por cumprir estão ao virar de cada esquina. Uma delas está bem exposta na avenida 5 de Outubro em Lisboa, no prédio que foi sede do Ministério da Educação, agora deslocada para a zona de Santos. No prédio abandonado, lá está uma vitrine inteira com os seguintes dizeres: “Aqui vai nascer uma nova residência para estudantes do ensino superior”. A mudança ocorreu em fevereiro de 2018. Até agora, nem obras, nem quartos, nem estudantes. Tudo ao abandono, bem no meio da cidade! O mais engraçado é que até tinha sido anunciado pelo Governo que, na altura do verão, os quartos vazios poderiam ser alugados tipo Alojamento Local a jovens turistas. Não vale a pena perguntar o que se passou e porque nada aconteceu. Já sabemos a resposta: foi o vírus! E tudo se vai resolver. A verba está na bazuca, pois claro.
4. Vão-se vendo cada vez mais carros movidos a eletricidade e híbridos, o que dizem ser bom. Em contrapartida há cada vez menos postos de abastecimento nas ruas de Lisboa. Há uns anos era o contrário. Havia os equipamentos abastecedores e não havia carros. Portugal sempre coerente e agora sem corrente!
Escreve à quarta-feira