Antes de apresentar, para quem não conhece, o Bino, quero esclarecer que considero a política autárquica essencial e a mais motivadora, uma vez que se caracteriza pela proximidade às populações e pela hipótese muito mais viável de concretizar projectos a curto prazo.
Centenas de autarcas fizeram a primeira grande revolução do país pós-25 de aAbril: o saneamento básico, a luz eléctrica e a água canalizada, acessíveis a toda a população.
Decorridos 45 anos sobre as primeiras eleições autárquicas em democracia, lá vamos de novo eleger os governantes das nossas cidades e vilas, os responsáveis diretos por uma boa parte da nossa qualidade de vida.
Torna-se necessário realçar a importância dos cargos daqueles que se apresentam a estas eleições, do impacto que o seu trabalho – ou ausência dele –, mas, sobretudo, da sua entrega desinteressada à causa pública, tem na nossa vida.
E é aqui que entra o Bino, uma figura de ficção, personagem de uma novela.
O Bino é presidente de uma junta de freguesia, vive de esquemas políticos e não realiza obra.
Mas, o Bino tem agora a aspiração e concorrer à câmara municipal. E para quê? Para subir na vida, a todos os níveis. E essa é a sua única preocupação.
Regressando à realidade, quero esclarecer que considero que a maioria dos autarcas deste país são pessoas sérias e empenhadas. No entanto, também é verdade que a política autárquica foi invadida por indivíduos pouco escrupulosos, uns apenas com a ambição de saltarem para outros voos, enquanto outros apenas desejam – como o Bino – governarem-se.
Também é verdade que existe hoje um sistema de fiscalização que tem sido bastante eficaz, mas, por outro lado, também são conhecidos casos de justiça penosamente lenta em relação a autarcas com evidentes sinais de enriquecimento ilícito ou com óbvios favorecimentos a terceiros, alguns deles até seus familiares.
O último relatório do Conselho de Prevenção da Corrupção mostra que é a área da Administração Local a que apresenta mais de metade dos casos de corrupção reportados, com realce especial para os municípios.
Se a isto acrescentarmos que Portugal surge na 33ªa posição no Índice de Perceção da Corrupção, elaborado pela Transparency International, sendo mais corrupto que a média da União Europeia, talvez nos alerte para a importância do ato eleitoral de 26 de setembro.
Os portugueses são tradicionalmente bastante tolerantes em relação a casos de corrupção e adoptaram mesmo esta frase: “Ele rouba, mas faz”.
Talvez seja tempo de mudar de atitude, para não elegermos o Bino.
Jornalista