Lobanovskyi. O cientista do futebol não fazia contas à gordura…

Lobanovskyi. O cientista do futebol não fazia contas à gordura…


Nenhum outro nome marcou tão profundamente a história do adversário do Benfica de hoje, para a Liga dos Campeões.


Valeriy Vasylyovych Lobanovskyi e o Dínamo de Kiev têm uma história única tão grande que o nome do jogador e treinador que nasceu no dia 6 de Janeiro de 1939 (em Kiev, claro está!) se confunde com o adversário que o Benfica defronta hoje, na Ucrânia, para a primeira jornada da Liga dos Campeões.

Valeriy morreu relativamente novo, com 63 anos de idade, obeso de olhos vivos espreitando atentos pela massa de carne que lhe enchera a cara desde os teus tempos áureos de jogador que ficou famoso pela forma como rematava e centrava fazendo a bola percorrer curvas apertadas e imprevisíveis. Era de uma família nobre polaca, os Lobko-Lobanovsky, que deixaram cair o hífen e o duplo apelido para não serem vítimas da embirração do poder soviético que não levava a bem exibições de fineza.

Desde 1960 fixou-se como ponta-esquerda da equipa principal do Dínamo de Kiev e contribuiu de forma decisiva para, no ano seguinte, fazer do Dínamo a primeira equipa fora de Moscovo a ganhar o campeonato da União Soviética, um feito absolutamente extraordinário. Em conflito aberto com o treinador Viktor Maslov, saiu do Dínamo em 1964 e jogou até aos 29 anos no Chernomorets Odessa e no Shaktar Donetsk.

Mal pôs fim à sua vida de jogador, tratou de estudar para aquela que foi a sua grande paixão profissional: a de treinador. Começou no Dnipro Dnipropetrovsk e, rapidamente, lançou o clube para o topo do futebol soviético, onde nunca houvera estado. Não restavam dúvidas de que seria um técnico de sucesso.

O Dínamo e a seleção Inevitavelmente, o Dínamo de Kiev chamou-o. Juntamente com o seu ex-colega dos tempos de jogador, Oleh Bazylevych, formaram uma dupla técnica: o primeiro desenvolvia os processos de treino e punha-os em prática, o segundo estava encarregue da parte teórica. As críticas foram muitas, mas o Dínamo tratou de ganhar tanto o campeonato como a Taça da União Soviética.

É nessa altura que o ocidente começa a prestar atenção ao seu método, sobretudo quando, em 1975, Lobanovskyi leva o seu Dínamo à vitória na Taça das Taças e na Supertaça Europeia. Um sistema científico estava a ser implantado: o da matematização física e da substituição contínua de jogadores, fazendo do Dínamo um clube exemplar nesse campo, pouco importando que jogador e em que posição atuava. Percebia-se que a resistência física e a frescura dos atletas da equipa fazia a diferença e que estavam preparados para as funções que lhes fossem confiadas. As duas fantásticas vitórias (1-0 fora e 2-0 em casa, perante cerca de 100 mil pessoas) face ao campeão da Europa, Bayern de Munique, para a Supertaça, não deixaram ninguém indiferente. Pela primeira vez uma equipa soviética dava cartas no futebol internacional.

Pelo caminho, o duo Lobanovskiy e Bazylevych foi recrutado para orientar a seleção soviética, mas os conflitos foram demais para gente com tão forte conceção de poder de uma e de outra parte. Ganharam a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 1976, mas só em 1988 é que Lobanovskiy, aí a solo, conseguiu levar a URSS à final do Europeu de 1988, perdida para a Holanda de Rinus Michels. Pelo caminho, o Dínamo dominava o futebol soviético, conquistando os campeonatos de 1974, 1975, 1977, 1980, 1981, 1985, 1986 e 1990. Depois da dispersão do país, Lobanovskiy tornou-se, também, campeão da Ucrânia independente em 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001, com mais uma Taça das Taças em 1986.

A obesidade crescente destruiu-lhe o coração: teve o primeiro enfarte em 1988 e a sua saúde degradou-se ao ponto de ser proibido de fazer viagens de avião. Em 2001, voltou a ter um enfarte. No dia 7 de maio de 2002, durante o jogo contra o Methalurh, em Zaporizhzhya, tombou com um AVC. Ainda foi operado ao cérebro no hospital da cidade. Mas era tarde demais. O seu coração parou às 8h35 do dia 13 de Maio.