Escolas desativadas. Os espaços novos que dão vida às aldeias

Escolas desativadas. Os espaços novos que dão vida às aldeias


Antigas escolas do tempo do Estado Novo foram abandonadas por falta de alunos. Nos últimos anos, as autarquias têm recuperado os espaços, que reabrem com novas funções para servir a população local e atrair visitantes àsregiões do interior que sofrem com a desertificação.  


As antigas escolas que o Estado Novo construiu ao abrigo do Plano dos Centenários, e que há várias décadas davam vida a muitas aldeias sobretudo no interior do país, estão a ser convertidas pelas autarquias locais em estruturas com funções muito diversificadas.

A falta de alunos nestas regiões mais afetadas pela desertificação levou a que muitas destas escolas tivessem que fechar. Depois do seu encerramento, para que os edifícios não ficassem totalmente abandonados, as autarquias procuraram vender os espaços para dar lugar a juntas de freguesia, restaurantes, alojamentos locais, entre outras utilizações.

Sabrosa é um dos concelhos que melhor exemplifica esta situação. Entre os 17 edifícios que estavam inseridos na rede de ensino básico, todos foram gradualmente desativados dessa função. Nas antigas escolas de Celeirós do Douro e Vilarinho de São Romão há agora unidades de alojamento turístico, numa aposta da autarquia em empreendimentos para acolher visitantes.

Já em lugar da antiga escola de Provesende há um restaurante. As restantes 14 foram destinadas à habitação social, de forma a ajudar a fixar as pessoas nestas aldeias, nomeadamente as famílias mais carenciadas.

Ali perto, a antiga escola de Gouvães do Douro foi transformada no Lugar das Letras, uma unidade de turismo rural que em 2015 foi classificada como uma das 40 melhores casas de férias da Europa pelo jornal britânico The Guardian.

No Vale da Ursa, em Proença-a-Nova, a câmara municipal investiu 90 mil euros para transformar a antiga escola — encerrada desde o ano letivo de 1997/1998, quando contava com apenas três alunos — em alojamento local, com dois apartamentos independentes e uma varanda panorâmica com vista para o vale e para o pátio de recreio que foi transformado em jardim.

A estrutura foi inaugurada a 13 de junho, mas não será a única a virar mais-valia turística. Vão também ser intervencionadas as antigas escolas primárias de Vergão, que funcionou pela última vez no ano letivo de 1992/1993, e também as de Corgas e Fórneas, ambas encerradas no ano letivo de 2003/2004. 

“À semelhança do que fazemos com outros equipamentos municipais, o objetivo é criar oportunidades de negócio para quem as quiser aproveitar e, em conjunto com o município, potenciar o território como destino turístico”, explicou o presidente da Câmara de Proença-a-Nova, João Lobo. 

Em Águeda, as antigas instalações da escola de Belazaima do Chão, foram cedidas pela Câmara Municipal de Águeda, em regime de partilha, à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Águeda (AHBVA) e à União de Freguesias (UF) de Belazaima do Chão, Castanheira do Vouga e Agadão.

Os bombeiros deste município implementaram naquele espaço uma unidade de formação, de forma a dar resposta às “necessidades de formação dos bombeiros, promovendo cursos de aperfeiçoamento técnico”, esclarece o gabinete de imprensa da câmara municipal.

No mesmo concelho, mas na antiga escola da freguesia de Macieira de Alcoba, funciona há vários anos o restaurante “A Escola”. O projeto, desenvolvido por António e Zulmira Novo, mantém a traça e alguns dos objetos originais de quando aquele espaço era frequentado por alunos e não clientes, dando a conhecer alguma da gastronomia serrana da região do Caramulo. 

Com o mesmo nome, embora mais a sul, em Alcácer do Sal, foi também instalado um restaurante na antiga escola da aldeia de Cachopos, que ainda preserva um enorme quadro negro, daqueles onde se escrevia a giz. 

Destas antigas escolas, erguidas entre as décadas de 1940 a 1960, pelo menos 1331 foram reaproveitadas e apenas 663 das 2379 identificadas continuam a funcionar como estabelecimentos de ensino, segundo avançou o Jornal de Notícias no final de agosto.

Escolas à venda

Fora do universo das antigas escolas primárias públicas, há uma série de colégios privados para compra no mercado imobiliário. Com uma breve pesquisa na internet verificamos que há pelo menos sete colégios à venda. Um deles é o Colégio de Vizela, em Santa Eulália, que está anunciado por 1,8 milhões de euros. As antigas instalações poderão ser adaptadas para funcionar como lar, clínica de reabilitação, centro de dia, spa ou até mesmo como hotel, lê-se no anúncio.

Já em Mem Martins, Sintra, há um edifício abandonado, onde também funcionava um colégio, que está à venda por 2,9 milhões de euros. De acordo com o Plano Diretor Municipal, o imóvel pode ser usado para qualquer uso menos industrial, podendo ser convertido em residência sénior, centro hospitalar ou até em habitação, com viabilidade de construção para cerca de 65 apartamentos.

No mesmo município, em Rio de Mouro, há um infantário de grandes dimensões, com vários pisos e 15 divisões diferentes, à venda por 850 mil euros. De acordo com o anúncio, a construção de raiz para escola pode ser alterada para qualquer outra função, como habitação, escritórios, unidade turística, restauração, entre outras.

Entre os restantes estabelecimentos de educação disponíveis para compra há mais dois na Grande Lisboa, um em Santarém e outro em Setúbal.

*Texto editado por Marta F. Reis