Verão que vivemos em crise democrática


Este Verão de 2021 voltei em força, apesar dos excessivos condicionalismos pandémicos com os quais temos vivido durante este ano e meio – que alguém, publicamente, há uns dias, soube muitíssimo bem classificar – a fazer aquilo que mais gozo pessoal me dá e que é ser DJ. Actividade musical e, de certa forma, artística…


Este Verão de 2021 voltei em força, apesar dos excessivos condicionalismos pandémicos com os quais temos vivido durante este ano e meio – que alguém, publicamente, há uns dias, soube muitíssimo bem classificar – a fazer aquilo que mais gozo pessoal me dá e que é ser DJ.

Actividade musical e, de certa forma, artística à qual me dedico, ininterruptamente, há mais de 30 anos. Desde a minha adolescência quando, em 1989, com apenas catorze anos de idade, comecei a ‘pôr uns discos’ aos Domingos à tarde, numas matinées dançantes que o Clube Oriental de Pechão, freguesia do concelho de Olhão de onde sou natural, onde residi até aos vinte e poucos anos, produzia semanalmente. Sendo essa, de resto, a principal (e muito salutar) fonte de receitas da referida colectividade desportiva, recreativa e cultural – que ao longo das últimas décadas deu a Portugal vários nomes do atletismo de alta competição, como é o caso da brilhante Ana Cabecinha –, num tempo em que o associativismo era bastante mais forte, quanto criativo e financeiramente autónomo, relativamente àquilo que hoje representa. Aliás, estas importantes associações, existentes um pouco por todo o país, sucumbiram à subsidiodependência estatal que as mantém vivas embora comatosas, como se ligadas às máquinas do poder político incumbente. Um associativismo importantíssimo para as localidades e respectivas populações, nalguns casos, insubstituível pela sua missão verdadeiramente social, transformado numa espécie de antecâmara preparatória de carreiras político-partidárias do poder local, sem alma e sem futuro…

Mas dizia eu que neste Verão aceitei, de novo, esta “tarefa” que muito me honra de poder partilhar a música de que gosto, as sonoridades que me caracterizam enquanto DJ e que em cada momento compõem a minha visão de cada um dos respectivos locais por onde passei, cujo agradecimento aproveito para fazer neste momento aos quatro espaços e locais de Faro que me acolheram durante quase todos os dias de Agosto: “Rooftop – Eva Senses Hotel” e “Columbus Cocktail & Wine Bar”, nas pessoas do Miguel Gião e do Ricardo Gião; “O Coreto – Restaurante”, na pessoa do Humberto Gaspar e o “Cais Aqui”, na inigualável Ilha do Farol, nas pessoas da Rita Sancho e do Paulo da Branca. Todos vós, e nas vossas pessoas, todos os empresários, empreendedores e empregadores destas actividades económicas fortemente penalizadas pela pandemia e pelas decisões políticas tomadas no seu combate, são verdadeiros heróis a quem presto uma singela homenagem, reconhecimento e profunda admiração pela resiliência, não meramente proclamada mas comprovadamente demonstrada por uma capacidade concreta de resistência nestes últimos dezoito meses. E claro, sem esquecer o grande impulsionador e principal “culpado” pela manutenção activa do “DJMJ”, o meu querido amigo José Carlos Laborinho.

Posto isto, não posso deixar de referir que para além do prazer que retirei, tive também, nesta experiência, várias confirmações da realidade – tal como ela é – de que, evidentemente, já suspeitava…

Com a chegada massiva de turistas ao Algarve e, concretamente, a Faro, pessoas de vários estratos etários e sócio-económicos, oriundas, esmagadoramente, de países da União Europeia como Espanha, França, Itália, Bélgica, Alemanha, Holanda, Irlanda, mas também do Reino Unido, rapidamente percebi que Portugal estava, nitidamente, atrás de todos eles no processo de desconfinamento pandémico em curso e no momento da quase plenitude de vacinação da população residente portuguesa. Em conversa com inúmeros transeuntes ficou claro que, por um lado estão todos muito mais avançados no desconfinamento do que nós e que, por outro lado, aqueles que eram “repetentes” na visita ao nosso país estranharam por completo a nossa posição rígida e retraída quanto ao desconfinamento. Quer relativamente aos horários de actividade dos restaurantes e bares, quer, principalmente, pela forte presença e actuação policial na via pública. Não esqueço, a esse propósito, um comentário de espanto em forma de pergunta feito por uma dessas turistas muito surpreendida com a realidade que por cá encontrou: “What happened to you portuguese people? Where is your joy?”.

Devo confessar que esta pergunta deixou-me sem resposta, pois quase de imediato lembrei-me o que tínhamos experienciado um mês antes, quando sem que nada o fizesse prever, vimos o país recuar à bruta nas medidas restritivas das liberdades, com atropelos inacreditáveis de legalidade e de constitucionalidade, apenas porque os números de contágio tinham aumentado, sem que tivessem, no entanto, aumentado significativamente os internados e principalmente os óbitos e, na verdade, números esses que ao longo de todo o Verão nunca mais baixaram daqueles valores diários que tinham “justificado” essa actuação pouco serena do Governo, geradora de pânico generalizado, senão mesmo ela própria a expressão decorrente de um sentimento de pânico instalado no Conselho de Ministros que nos fez ficar para trás no processo de desconfinamento seguido por toda a restante europa…

Mais constrangido fiquei, quando, comparativamente aos milhares de turistas estrangeiros que nos horaram com a sua escolha e visita, os portugueses andavam nas ruas, direitinhos e hirtos, escrupulosamente cumpridores dos horários instituídos anteriormente, i.e., recolhendo ao domicílio às 23 horas, a partir das quais “impondo” uma demente tolerância zero a quem passasse ou, simplesmente, parasse a conversar nas suas ruas. Eu próprio, por várias vezes, fui literalmente mandado calar por compatriotas tresloucados aos berros a partir das suas varandas e janelas. Como diz regularmente um amigo, “isto não se inventa”. Mas isto, porém, foi reinventado pelo nosso poder político que, por força da sua exclusiva actuação, instalou o medo na sociedade, promovendo esta atitude popular de pura “bufaria” salazarenta.

O mesmo se diga da actuação prepotente e absolutamente desnecessária das forças policiais no encerramento, à hora em ponto, dos estabelecimentos comerciais, bem como da exigência feita a esses mesmos estabelecimentos para serem os próprios a mandar as pessoas embora e, directamente, para casa. Sim isto aconteceu. Sim eu assisti a tudo isto!

Ao mesmo tempo que isto tudo acontecia, inúmeros casos de censura política e social foram ocorrendo, designadamente para com quem se tenha oposto ou simplesmente opinado, contrariamente ao “pensamento oficial” do Estado que é o pensamento do Governo sobre a pandemia, a vacinação e demais aspectos colaterais e questões acessórias interligadas. Ao ponto de termos assistido a um acontecimento absolutamente impensável em liberdade democrática que foi ver um jornal diário de referência ter retirado um artigo de opinião depois de o mesmo ter sido publicado…

Com o Verão a entrar na sua fase final e derradeira, com o país mergulhado nas campanhas eleitorais autárquicas cuja eleição ocorrerá no próximo dia 26 de Setembro, creio ser este o momento em que o Governo terá, de uma vez por todas e sem subterfúgios, responder a uma simples e muito directa pergunta:

Quando é que em Portugal vai ser reposta, na íntegra e sem excepções, a normalidade democrática, o funcionamento pleno das instituições e da vida, em liberdade, de toda a nossa sociedade?   

Jurista

Escreve de acordo com a antiga ortografia

Verão que vivemos em crise democrática


Este Verão de 2021 voltei em força, apesar dos excessivos condicionalismos pandémicos com os quais temos vivido durante este ano e meio – que alguém, publicamente, há uns dias, soube muitíssimo bem classificar – a fazer aquilo que mais gozo pessoal me dá e que é ser DJ. Actividade musical e, de certa forma, artística…


Este Verão de 2021 voltei em força, apesar dos excessivos condicionalismos pandémicos com os quais temos vivido durante este ano e meio – que alguém, publicamente, há uns dias, soube muitíssimo bem classificar – a fazer aquilo que mais gozo pessoal me dá e que é ser DJ.

Actividade musical e, de certa forma, artística à qual me dedico, ininterruptamente, há mais de 30 anos. Desde a minha adolescência quando, em 1989, com apenas catorze anos de idade, comecei a ‘pôr uns discos’ aos Domingos à tarde, numas matinées dançantes que o Clube Oriental de Pechão, freguesia do concelho de Olhão de onde sou natural, onde residi até aos vinte e poucos anos, produzia semanalmente. Sendo essa, de resto, a principal (e muito salutar) fonte de receitas da referida colectividade desportiva, recreativa e cultural – que ao longo das últimas décadas deu a Portugal vários nomes do atletismo de alta competição, como é o caso da brilhante Ana Cabecinha –, num tempo em que o associativismo era bastante mais forte, quanto criativo e financeiramente autónomo, relativamente àquilo que hoje representa. Aliás, estas importantes associações, existentes um pouco por todo o país, sucumbiram à subsidiodependência estatal que as mantém vivas embora comatosas, como se ligadas às máquinas do poder político incumbente. Um associativismo importantíssimo para as localidades e respectivas populações, nalguns casos, insubstituível pela sua missão verdadeiramente social, transformado numa espécie de antecâmara preparatória de carreiras político-partidárias do poder local, sem alma e sem futuro…

Mas dizia eu que neste Verão aceitei, de novo, esta “tarefa” que muito me honra de poder partilhar a música de que gosto, as sonoridades que me caracterizam enquanto DJ e que em cada momento compõem a minha visão de cada um dos respectivos locais por onde passei, cujo agradecimento aproveito para fazer neste momento aos quatro espaços e locais de Faro que me acolheram durante quase todos os dias de Agosto: “Rooftop – Eva Senses Hotel” e “Columbus Cocktail & Wine Bar”, nas pessoas do Miguel Gião e do Ricardo Gião; “O Coreto – Restaurante”, na pessoa do Humberto Gaspar e o “Cais Aqui”, na inigualável Ilha do Farol, nas pessoas da Rita Sancho e do Paulo da Branca. Todos vós, e nas vossas pessoas, todos os empresários, empreendedores e empregadores destas actividades económicas fortemente penalizadas pela pandemia e pelas decisões políticas tomadas no seu combate, são verdadeiros heróis a quem presto uma singela homenagem, reconhecimento e profunda admiração pela resiliência, não meramente proclamada mas comprovadamente demonstrada por uma capacidade concreta de resistência nestes últimos dezoito meses. E claro, sem esquecer o grande impulsionador e principal “culpado” pela manutenção activa do “DJMJ”, o meu querido amigo José Carlos Laborinho.

Posto isto, não posso deixar de referir que para além do prazer que retirei, tive também, nesta experiência, várias confirmações da realidade – tal como ela é – de que, evidentemente, já suspeitava…

Com a chegada massiva de turistas ao Algarve e, concretamente, a Faro, pessoas de vários estratos etários e sócio-económicos, oriundas, esmagadoramente, de países da União Europeia como Espanha, França, Itália, Bélgica, Alemanha, Holanda, Irlanda, mas também do Reino Unido, rapidamente percebi que Portugal estava, nitidamente, atrás de todos eles no processo de desconfinamento pandémico em curso e no momento da quase plenitude de vacinação da população residente portuguesa. Em conversa com inúmeros transeuntes ficou claro que, por um lado estão todos muito mais avançados no desconfinamento do que nós e que, por outro lado, aqueles que eram “repetentes” na visita ao nosso país estranharam por completo a nossa posição rígida e retraída quanto ao desconfinamento. Quer relativamente aos horários de actividade dos restaurantes e bares, quer, principalmente, pela forte presença e actuação policial na via pública. Não esqueço, a esse propósito, um comentário de espanto em forma de pergunta feito por uma dessas turistas muito surpreendida com a realidade que por cá encontrou: “What happened to you portuguese people? Where is your joy?”.

Devo confessar que esta pergunta deixou-me sem resposta, pois quase de imediato lembrei-me o que tínhamos experienciado um mês antes, quando sem que nada o fizesse prever, vimos o país recuar à bruta nas medidas restritivas das liberdades, com atropelos inacreditáveis de legalidade e de constitucionalidade, apenas porque os números de contágio tinham aumentado, sem que tivessem, no entanto, aumentado significativamente os internados e principalmente os óbitos e, na verdade, números esses que ao longo de todo o Verão nunca mais baixaram daqueles valores diários que tinham “justificado” essa actuação pouco serena do Governo, geradora de pânico generalizado, senão mesmo ela própria a expressão decorrente de um sentimento de pânico instalado no Conselho de Ministros que nos fez ficar para trás no processo de desconfinamento seguido por toda a restante europa…

Mais constrangido fiquei, quando, comparativamente aos milhares de turistas estrangeiros que nos horaram com a sua escolha e visita, os portugueses andavam nas ruas, direitinhos e hirtos, escrupulosamente cumpridores dos horários instituídos anteriormente, i.e., recolhendo ao domicílio às 23 horas, a partir das quais “impondo” uma demente tolerância zero a quem passasse ou, simplesmente, parasse a conversar nas suas ruas. Eu próprio, por várias vezes, fui literalmente mandado calar por compatriotas tresloucados aos berros a partir das suas varandas e janelas. Como diz regularmente um amigo, “isto não se inventa”. Mas isto, porém, foi reinventado pelo nosso poder político que, por força da sua exclusiva actuação, instalou o medo na sociedade, promovendo esta atitude popular de pura “bufaria” salazarenta.

O mesmo se diga da actuação prepotente e absolutamente desnecessária das forças policiais no encerramento, à hora em ponto, dos estabelecimentos comerciais, bem como da exigência feita a esses mesmos estabelecimentos para serem os próprios a mandar as pessoas embora e, directamente, para casa. Sim isto aconteceu. Sim eu assisti a tudo isto!

Ao mesmo tempo que isto tudo acontecia, inúmeros casos de censura política e social foram ocorrendo, designadamente para com quem se tenha oposto ou simplesmente opinado, contrariamente ao “pensamento oficial” do Estado que é o pensamento do Governo sobre a pandemia, a vacinação e demais aspectos colaterais e questões acessórias interligadas. Ao ponto de termos assistido a um acontecimento absolutamente impensável em liberdade democrática que foi ver um jornal diário de referência ter retirado um artigo de opinião depois de o mesmo ter sido publicado…

Com o Verão a entrar na sua fase final e derradeira, com o país mergulhado nas campanhas eleitorais autárquicas cuja eleição ocorrerá no próximo dia 26 de Setembro, creio ser este o momento em que o Governo terá, de uma vez por todas e sem subterfúgios, responder a uma simples e muito directa pergunta:

Quando é que em Portugal vai ser reposta, na íntegra e sem excepções, a normalidade democrática, o funcionamento pleno das instituições e da vida, em liberdade, de toda a nossa sociedade?   

Jurista

Escreve de acordo com a antiga ortografia