Uma unidade de elite, liderada pelo coronel Mamady Doumbouya, de 41 anos, sequestrou o Presidente da Guiné-Conacri, o cada vez mais impopular Alpha Condé, de 83 anos, conhecido por reprimir violentamente a oposição. Imagens do Presidente sentado num sofá, com um ar abatido, rodeado por militares de rosto tapado, têm circulado desde o golpe de Estado, na segunda-feira, tendo os golpistas prometido formar um Governo de unidade nacional no dia seguinte. Enquanto isso, a comunidade internacional mostra-se preocupada por ver o poder cair nas mãos das forças armadas. Já os investidores internacionais também estão preocupados, tendo o preço do alumínio – produzido a partir de bauxite, uns 20% da qual vêm da Guiné-Conacri, segundo a Bloomberg – chegado ao seu valor máximo da última década.
A nova junta militar guineense tem tentado acalmar esses receios. Mais ou menos. “Será levada a cabo uma consulta para definir o enquadramento da transição, depois será instalado um Governo de unidade nacional”, prometeu o coronel Doumbouya, numa reunião com ministros do anterior Governo. Tinham sido convocados ao quartel-general das forças armadas, em Conacri, sob ameaça de serem considerados rebeldes contra as novas autoridades, tendo Doumbouya proibido todos os dirigentes governamentais de sair do país e ordenado-lhes que entregassem os seus veículos.
O coronel fez questão de aparecer na reunião rodeado de soldados armados, usando boina vermelha da sua unidade, o Grupo de Forças Especiais, notou a Reuters. “No final desta fase de transição, daremos o tom para uma nova era de governação e desenvolvimento económico”, garantiu Doumbouya.
Personagem sombria Não é claro exatamente o que fez Doumbouya desentender-se com Condé. Ambos vêm da mesma etnia, os mandingas, que compõe quase um terço da população da Guiné-Conacri, e em tempos parecem ter sido bastante próximos – Doumbouya até faz parte de uma lista de 25 dirigentes guineenses que a União Europeia ameaçou sancionar como responsáveis pelos abusos do regime de Condé.
O currículo do coronel golpista é vasto, tendo sido treinado em França, chegando a integrar Legião Estrangeira Francesa, depois atuado em missões no Afeganistão, Costa do Marfim, Djibouti e República Centro-Africana, bem como servido de guarda-costas em Israel, Chipre e Reino Unido, avançou a BBC, completando o seu treino de tropa de elite na Academia de Segurança Internacional em Israel.
Agora, com o poder nas mãos, o novo dirigente da Guiné-Conacri deixou bem claro que uma das suas prioridades é manter ou mesmo atrair investimento internacional. Já anunciou que o recolher obrigatório teria como exceção a industria mineira, assegurando que as fronteiras marítimas e terrestres se irão manter abertas para as exportações deste setor.
“Posso garantir aos parceiros económicos e de negócios que as atividades continuarão normalmente no país. Estamos a pedir a empresas mineiras que continuem as suas atividades”, declarou o coronel Doumbouya.
Os mercados internacionais reagiram bem, sem grandes picos após o seu anuncio. Garantindo que a cadeia de exportação de bauxite, um bem que se tem tornado cada vez mais valioso, essencial para quase tudo, da produção de carros ás latas de gasosa que consumimos, continua a funcionar como sempre.